Sicut lilium inter spinas, sic amica mea inter filias - "Como é a açucena entre os espinhos, assim é a minha amiga entre as filhas" (Cant. 2, 2).
Sumário.
A pureza da Santíssima Virgem foi tão grande, que o Verbo divino a
elegeu para sua Mãe, afim de que servisse a todos de exemplo de
castidade. Como recompensa da sua inefável virgindade, Maria tem o
privilégio de preservar do pecado os seus devotos e de os levantar
depois da queda. É necessário, porém, que da nossa parte ponhamos
em prática os meios para vencer, especialmente o evitar as
ocasiões, e praticar a oração, consagrando-nos à Virgem de manhã
e à noite, e invocando o seu nome em cada assalto do inimigo
infernal.
I. Depois da
queda de Adão e de os sentidos se haverem rebelado contra a razão,
a virtude da castidade tornou-se a mais difícil de ser praticada.
Mas, seja para sempre louvado o Senhor, que em Maria nos deu um
grande modelo desta virtude. Diz o Bem-aventurado Alberto Magno que
Maria é chamada com razão Virgem das virgens; pois que,
sendo ela a primeira, sem conselho nem exemplo de ninguém, a
oferecer a sua virgindade a Deus, deu ao mesmo Deus todas as virgens
que depois a imitaram, segundo a profecia de Davi: Adducentur
Regi virgines post eam (1) - "Serão apresentadas ao Rei
virgens depois dela". E São Sofrônio acrescenta que Deus
escolheu esta Virgem puríssima por Mãe, exatamente para que ela
servisse a todos de modelo de castidade. Pelo que Santo Ambrósio
lhe dá o belo título de Porta-bandeira da virgindade.
Por motivo
desta sua pureza foi a Santíssima Virgem chamada pelo Espírito
Santo bela como a rola (2); como também açucena: sicut
lilium inter spinas. E aqui adverte Dionísio Cartusiano, que
ela foi chamada açucena entre os espinhos, porque todas as demais
virgens foram espinhos para si próprias ou para os outros; Maria
Santíssima, ao contrário, não o foi nem para si nem para os
outros. Segundo observa Santo Tomás, a beleza de Maria inspirava a
todos amor à pureza e só ao ser vista infundia pensamentos e
afetos castíssimos.
Numa
palavra, diz um autor que a Bem-aventurada Virgem foi tão amante
desta virtude, que, para a conservar, estaria disposta a renunciar
ainda à dignidade de Mãe de Deus. Isto se colige das mesmas
palavras que dirigiu ao Arcanjo e das que por fim acrescentou: Fiat
mihi secundum verbum tuum (3) - "Faça-se em mim segundo
a tua palavra"; significando que dava o seu consentimento
porque o Anjo lhe assegurava que devia ser mãe unicamente por obra
do Espírito Santo.
II. Os que
são castos, tornam-se anjos, como já disse o Senhor: Erunt
sicut angeli Dei (4) - "Eles serão como anjos de Deus".
Mas os impuros fazem-se odiosos a Deus como os demônios. Quantos
homens caem todos os dias no inferno por causa da impureza! Diz São
Bernardo: "Este vício arrasta quase o mundo todo ao
suplício" - Hoc peccatum quasi totum mundum trahit ad
supplicium.
Como
recompensa de sua pureza singular a Santíssima Virgem obteve de
Jesus Cristo o privilégio de poder preservar os seus devotos desde
vício e de os erguer da queda, se por ventura viessem a cair. Ela
quer, porém, que ponhamos em prática os meios de que ela mesma
usou, posto que não tivesse necessidade disso. Estes meios são
três: a mortificação dos sentidos, em particular da gula e
da vista; a fuga das ocasiões e a oração.
Será
sobretudo utilíssimo para a conservação da pureza, que tomemos o
hábito tão louvável de rezar de manhã e à noite três
Ave-Marias com o rosto em terra, de nos consagrarmos
inteiramente a esta divina Mãe, de recorrer com confiança a ela
nos momentos da tentação; de lhe recordar que somos seus filhos, e
de repetir os dulcíssimos Nomes de Jesus e Maria, enquanto durar a
tentação. Oh! quantas almas, que deviam estar no inferno, estão
agora no céu por terem tomado este hábito tão salutar! E ao
contrário, quantas almas, que atualmente estão ardendo no abismo,
teriam sido grandes santos no céu, se tivessem seguido tão bela
prática!
† "Ó
minha Senhora e Mãe, eu me ofereço todo a vós, e como prova de
minha devoção, vos consagro hoje os meus olhos, os meus ouvidos, a
minha boca, o meu coração, todo o meu ser. E já que sou vosso, ó
boa Mãe, guardai-me, defendei-me como coisa e propriedade vossa
(5). - Ó minha Senhora e Mãe, lembrai-vos de que sou vosso;
salvai-me, defendei-me como propriedade vossa"(6). (I 265)1.
Ps. 44, 14. 2. Cant. 1, 9. 3. Luc. 1, 38. 4. Matth. 22, 30.
5. Indulg. de 100 dias, para quem reza de manhã e à noite uma Ave-Maria com esta oração.
6. Indulg. de 40 dias nos momentos da tentação.
5. Indulg. de 100 dias, para quem reza de manhã e à noite uma Ave-Maria com esta oração.
6. Indulg. de 40 dias nos momentos da tentação.
(LIGÓRIO,
Afonso Maria de. Meditações: Para todos os Dias e Festas do Ano:
Tomo Segundo: Desde o Domingo da Páscoa até a Undécima Semana
depois de Pentecostes inclusive. Friburgo: Herder & Cia, 1921,
p. 139-141)
Nenhum comentário:
Postar um comentário