A verdadeira reforma de Francisco
O Papa Francisco é um servidor da Palavra e, como tal, preservará a doutrina de dois mil anos da Igreja

Uma escavação ordenada pelo Papa Pio XII identificou, no ano de 1939, uma parede funerária com a inscrição grega "Petrus eni – Pedro está aqui". Embora nenhum Pontífice tenha declarado de modo definitivo que se tratasse dos ossos do bem-aventurado apóstolo Pedro, o Papa Paulo VI afirmou que os fragmentos encontrados sob a Basílica de São Pedro foram "identificados de uma maneira que consideramos convincente"02. Agora, pela primeira vez em séculos, o Papa Francisco trouxe à vista este precioso tesouro dos tempos apostólicos: as relíquias do primeiro Papa.
Trata-se de uma ocasião extraordinária para clamar, com o hino oficial do Ano da Fé: "Credo, Domine, audage nobis fidem – Creio, Senhor, aumentai a minha fé". Os ossos de São Pedro não são meras quinquilharias, nem sequer "ídolos" para desviar a adoração devida somente a Deus; ao contrário, renovam a certeza da fé católica e transmitem o fulgor entusiasmante deste edifício que é a Igreja, convidando as pessoas a voltarem-se à beleza "tão antiga e tão nova" exaltada por Santo Agostinho.
Às vésperas do Concílio Vaticano II, o beato João XXIII falava justamente do frescor de uma Igreja "sempre viva", que "sente o ritmo do tempo e que, em cada século, se orna de um novo esplendor, irradia novas luzes, realiza novas conquistas, permanecendo, contudo, sempre idêntica a si mesma, fiel à imagem divina impressa em sua face pelo esposo que a ama e protege, Jesus Cristo"03.
Ao fim do Ano da Fé, parece ser esta a mesma mensagem que o Papa Francisco quer passar a toda a Igreja. Na exortação apostólica Evangelii Gaudium, publicada no último domingo, Sua Santidade pede "exprimir as verdades de sempre numa linguagem que permita reconhecer a sua permanente novidade", afinal, "uma coisa é a substância [do ‘depósito da fé’] (...) e outra é a formulação que a reveste"04.
O Papa fala da "permanente novidade" das "verdades de sempre", isto é, a verdade do Evangelho que traz, em si mesma, um impulso de atualidade. Não é preciso, para tornar a mensagem de Cristo mais atrativa, fazer modificações e adaptações tais que acabem por desfigurar a beleza da boa notícia.
Durante uma de suas homilias matutinas, recentemente, Sua Santidade advertiu para isto: o perigo do que chamou "espírito do progressismo adolescente", que "crê que andar adiante em qualquer escolha é melhor que permanecer nos hábitos da fidelidade". "Essas pessoas negociam a fidelidade ao seu Senhor", disse. "Essa gente, movida pelo espírito do mundo, negociou a própria identidade, negociou a pertença a um povo, um povo que Deus ama tanto, que Deus quer como seu povo"05.
A este "progressismo" mundano o Papa contrapõe a fidelidade às "verdades de sempre". Um olhar honesto ao novo documento pontifício permite identificar a autêntica personalidade do Santo Padre. Ao contrário do "sequestro" que os meios de comunicação fazem com as palavras de Francisco, usando-as para sustentar posicionamentos midiáticos claramente políticos e ideológicos, o Papa deve ser analisado pelas fontes que usa e por aquilo que verdadeiramente fala.
A exortação Evangelii Gaudium traz consigo inúmeras referências aos magistérios de Bento XVI, João Paulo II, Paulo VI, João XXIII; reafirma a oposição da Igreja ao aborto - "um ser humano é sempre sagrado e inviolável, em qualquer situação e em cada etapa do seu desenvolvimento" (n. 213); recorda que "o sacerdócio reservado aos varões, como sinal de Cristo Esposo que Se entrega na Eucaristia, é uma questão que não se põe em discussão" (n. 104); e traz muitos outros ensinamentos, que mostram que este pontificado é mais um signo de continuidade.
Ao texto papal segue-se o desespero dos anticlericais: eles esperavam de Francisco uma "reforma" como a de Lutero, que acabou mais por desfigurar a Cristandade que por configurá-la a Cristo de fato. Os jornalistas e informantes da grande mídia ainda não aprenderam que as verdadeiras reformas - que renovam mesmo a Igreja - partem de dentro, da ação do Espírito Santo que anima e vivifica todo o Corpo Místico de Cristo; e não do espírito mundano, de cuja adesão só pode vir a desordem e a anarquia. Ainda assim, ao invés de rasgar as vestes, muitos no mass media preferirão explorar covardemente a figura do Papa a transmitir a seus leitores e espectadores a verdade de que o Papa é um servidor da Palavra e, como tal, preservará a doutrina de dois mil anos da Igreja.
A apresentação pública das relíquias de São Pedro é um fato emblemático: aponta ao que Francisco, assim como seus predecessores, está a fazer com o Papado e com a Igreja: conduzi-los constantemente ao "fundamento dos apóstolos" (Ef 2, 20), fora do qual não há, e nem pode haver, autêntico cristianismo.
Por Equipe Christo Nihil Praeponere
Fonte:www.padrepauloricardo.org
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