VIDA DE ORAÇÃO INTIMIDADE COM DEUS


AMIGOS INTIMO DE DEUS

Que eles se lembrem de como nosso pai Abraão foi provado e de como passou por múltiplas

tribulações para se tornar o amigo de Deus” (Jd 8,22).




INTRODUÇÃO

Este material não foi desenvolvido somente para lhe dar conhecimento, mas aqui também queremos

alertar para o grande Chamado que Deus está lhe fazendo:

“Leva-lo a retomar uma vida de intimidade com o Senhor através da vivência das práticas

espirituais aqui sugeridas: Jejum, Adoração, Leitura Orante da Palavra de Deus, Oração pessoal,Rosário e Confissão.”

Durante as vigílias do núcleo de discernimento da RCC/Pr por diversas vezes o Senhor nos orientou

para a realização deste material que foi inspirado no livro de Judite, que foi escrito num momento

crucial para o povo de Israel e serviu para dar-lhes ânimo e encorajamento para enfrentar o inimigo

que os ameaçava. Nele são relatadas várias situações que muitos de nós experimentamos em nossa

vida, em nossa família, em nosso grupo de oração e até em nossa comunidade paroquial.

No livro de Judite observamos que os Judeus ao saberem da ameaça que se aproximava com o

poderoso exército de Holofernes trataram logo em criar estratégias humanas para enfrentar o perigo

eminente e rapidamente começaram a agir conforme suas habilidades. Mandaram mensageiros por

toda a Samaria e seus arredores até Jericó, e ocuparam todos os cumes dos montes. Cercaram de

muros todas as suas cidades e armazenaram trigo para poder sustentar o combate... Pediram ao

povo que ocupassem as vertentes montanhosas que davam acesso à Jerusalém, e que pusessem

guarnições nos desfiladeiros por onde se pudesse passar. (Jd. 4, 4. 6).

Apesar de aparentarem fé com suas atitudes e orações (cf. Jd. 4,8-17), na verdade eles se deixaram

abater diante do inimigo, pois não acreditaram que Deus poderia livra-los de tamanha ameaça.

Quando a situação se agrava com a falta da água, toda a sua incredulidade vem à tona e são tentados

a dar um prazo para Deus vir livrá-los (cf. Jd. 8,13), na verdade já haviam tomado a decisão de se

aliar ao inimigo para não sucumbirem e não perceberam que este não é o meio de atrair a

misericórdia de Deus.

Hoje também somos tentados a enfrentar com ações unicamente humanas as adversidades que nos

sobrevém e corremos o grande perigo de sucumbir diante destas dificuldades que encontramos pelo

caminho, nos assemelhando aos Israelitas. Nossa fé e esperança tendem a ficar debilitadas ao ponto

de nos entregar ao desânimo levando-nos ao afastamento de Deus. Estas dificuldades muitas vezes

nos atingem com situações que nem sempre julgamos negativas, por exemplo, o excesso de

segurança financeira, o excesso de segurança em nossas capacidades humanas e inclusive o

ativismo. Tudo isso tende a se agravar quando consentimos com o pecado em nossa vida. Este

afastamento será inevitável se mantivermos a decisão de não buscarmos o Senhor através de

práticas espirituais como oração pessoal, adoração, vida sacramental e mortificações. Desta forma é

preciso ter a coragem de fazer aquilo que Judite concretamente orienta ao seu povo: “...façamos,

pois, penitência por isso e peçamos-lhe perdão com lágrimas nos olhos, pois Deus não ameaça

como os homens e não se deixa arrastar como eles à violência da cólera. Humilhemo-nos diante

dele e prestemos-lhe nosso culto com espírito de humildade (Jd 8,14-16).

A prática espiritual sincera alarga nossos horizontes. A prática espiritual honesta nos ensina que

além de todas as coisas que vemos, existe sempre algo muito mais amplo e profundo que não

percebemos quando olhamos para a realidade somente a partir de nossas próprias intuições. Nem

sempre o óbvio expressa a vontade de Deus em nossas vidas e em nossos ministérios. A prática

espiritual nos faz ver segundo Deus, por isso descobrimos que tudo é apenas um roteiro, um

caminho, uma janela que se abre para realidades muito maiores. E quando enxergamos as coisas

com os olhos de Deus, uma força suprema e dinâmica, o próprio Espírito Santo, vem em nosso

socorro e nos fortalece. A prática espiritual concreta de Judite foi a porta pela qual Deus fez passar

a sua graça para o povo:

Que eles se lembrem de como nosso pai Abraão foi provado e de como passou por múltiplas

tribulações para se tornar o amigo de Deus” (Jd 8,22).

Judite é a figura de Maria Santíssima, que esmaga a cabeça da serpente infernal. Também Maria

Santíssima confiou em Deus e abandonou-se à Sua Palavra. Nela se manifestou o poder e a

misericórdia de Deus, que por meio de Jesus Cristo, seu Filho, salva o seu povo.

Assim como Deus se utilizou de Judite e de Maria Santíssima para vencer o inimigo que ameaçava

o seu povo, também deseja se utilizar de você para vencer aquele que causa todas estas ameaças. O

Senhor deseja formar um grande exército de homens e mulheres apaixonados por Deus e

fortificados na fé para resgatar todos aqueles que estão perigosamente afastados da Salvação. Mas,

para isso, não podemos tomar nas nossas mãos a direção da nossa vida ou do nosso ministério,

porque este lugar tem que ser do Senhor Jesus. Precisamos entender que é através da escuta

profética e da total dependência da Graça de Deus que faremos a Sua vontade, e estas virtudes nós

somente adquirimos através de uma vida de intensa oração. Não há dúvida de que o desejo daqueles

que estão empenhados na evangelização é de fazer a vontade do Senhor, porém naquelas atividades

que nos julgamos capazes de realizá-las, a tendência natural é de agirmos como se não

precisássemos da direção e do auxílio do Espírito Santo, pois já estamos seguros daquilo que já

sabemos fazer, então nos aventuramos em agir do nosso jeito e conforme os nossos critérios, por

isso agimos sem saber ao certo qual o objetivo a ser alcançado e aonde queremos chegar, acabamos

assim fazendo o que Deus não falou. Precisamos, sem demora, voltar a depender de Deus também

naquilo que acreditamos que já sabemos fazer bem.

Este é um chamado para toda a Renovação Carismática Católica do Paraná. E é com este intuito que

recomendamos a todos os servos da RCC/Pr estas práticas espirituais para que tenhamos uma visão

ampliada e assumamos os nossos postos, a fim de passarmos de uma fase apologética para uma fase

de combatividade profética em nossa missão na Renovação Carismática Católica. Recomendamos

também o diário espiritual deste livro para que tenhamos disciplina em nossa vida espiritual.

Oramos para que você faça parte daqueles que escutarão este chamado e que buscarão pô-lo em

prática a cada dia, pois cada dia é uma aventura na busca por esta maravilhosa fidelidade. Agindo

assim, com certeza experimentaremos a presença deste Deus que está tão próximo de cada um de nós.

Luiz César Martins

Presidente do Conselho Estadual da RCC/Pr



O SANTO SACRIFÍCIO DA MISSA




A PARTICIPAÇÃO À MISSA FONTE DE SANTIFICAÇÃO

Pe. Reginald Garrigou-Lagrange, O. P.

A santificação de nossa alma se encontra em uma união, cada dia, mais íntima com Deus, união de fé, de confiança e de amor. Por isso um dos maiores meios de santificação é o ato mais elevado da virtude de religião e do culto cristão: a participação no sacrifício da Missa.

Para toda alma interior, a Missa deve ser, cada manhã, como a fonte eminente, de onde derivam todas as graças de que temos necessidade durante o curso do dia, fonte de luz e de calor, semelhante na ordem espiritual, ao que é o nascer do sol na ordem da natureza.

Depois da noite e do sono que são como uma imagem da morte, o sol reaparecendo cada manhã, dá de alguma maneira, vida a tudo o que acorda na superfície da terra. Se conhecêssemos profundamente o preço da missa quotidiana, veríamos que ela é como um nascer do sol espiritual, para renovar, conservar e aumentar em nós a vida da graça, que é a vida eterna começada.

Mas muitas vezes o hábito de assistir a missa, por falta de espírito de fé, degenera em rotina e não recebemos mais então do santo sacrifício todos os frutos que deveríamos receber.

Este então deveria ser o maior ato de nossos dias e na vida de um cristão, sobretudo de um religioso, todos os outros atos quotidianos só deveriam ser o acompanhamento daquele, ou seja, todas as outras orações e pequenos sacrifícios que devemos oferecer ao Senhor durante o dia.

Lembremos aqui:

1º. O que dá valor ao sacrifício da missa;

2º. Qual é a relação de seus efeitos com nossas disposições interiores,

3º. Como devemos nos unir ao sacrifício eucarístico.

A oblação sempre viva do coração do cristo




A excelência do sacrifício da Missa vem, diz o Concílio de Trento [1], do fato de ser o mesmo sacrifício em substância que o sacrifício da Cruz, porque é o mesmo sacerdote que continua atualmente a se oferecer por seus ministros, é a mesma vítima, realmente presente no altar, que é realmente ofertada; só difere a maneira de oferecer: enquanto há na Cruz uma imolação cruenta, na Missa há uma imolação sacramental pela separação, não física, mas sacramental do corpo e do sangue do Salvador, em virtude da dupla consagração. Assim o sangue de Jesus sem ser fisicamente derramado é sacramentalmente derramado [2].

Esta imolação sacramental é um sinal [3] da oblação interior de Jesus, à qual devemos nos unir; é também o memorial da imolação cruenta do Calvário. Apesar dela ser somente sacramental, esta imolação do Verbo de Deus feito carne, é mais expressiva do que a imolação cruenta do cordeiro pascal e de todas as vítimas do Antigo Testamento.

Um sinal tira, com efeito, seu valor expressivo da grandeza da coisa significada; a bandeira que nos lembra a pátria, de tecido comum, tem maior preço a nossos olhos do que a flâmula de uma companhia ou do que a insígnia de um oficial. A imolação cruenta das vítimas do Antigo Testamento, figura longínqua do sacrifício da Cruz, exprimia somente os sentimentos interiores dos sacerdotes e dos fieis da antiga Lei; enquanto que a imolação sacramental do Salvador sobre nossos altares exprime, sobretudo, a oblação interior sempre viva do coração do “Cristo que não cessa de interceder por nós” (Hb. 7, 25).

Ora, essa oblação que é como a alma do sacrifício da Missa, tem um valor infinito, que emana da pessoa divina do Verbo feito carne, sacerdote principal e vítima, cuja imolação continua sob uma forma sacramental.

São João Crisóstomo escreveu: “Quando virem no altar o ministro sagrado elevando para o céu a santa hóstia, não creiam que este homem seja o verdadeiro padre (principal), mas, elevando o pensamento acima daquilo que atinge os sentidos, considerem a mão de Jesus Cristo invisivelmente estendida” [4].

O padre que vemos com nossos olhos de carne não pode penetrar em toda a profundeza desse mistério, mas acima dele está a inteligência e a vontade de Jesus sacerdote principal. Apesar do ministro não ser sempre o que deveria ser o sacerdote principal é infinitamente santo; o ministro, mesmo quando é bom, pode estar ligeiramente distraído ou ocupado com as cerimônias exteriores do sacrifício, sem penetrar no sentido íntimo, mas acima dele há alguém de um valor infinito, uma súplica e uma ação de graças sem limite de tamanho.

Esta oblação interior sempre viva no coração do Cristo é, por assim dizer, a alma do sacrifício da Missa. É a continuação daquela pela qual Jesus se ofereceu como vítima entrando neste mundo e em todo o curso de sua existência terrestre, sobretudo na Cruz. Quando o Salvador estava sobre a terra, essa oblação era meritória; agora continua sem essa modalidade de mérito. Continua sob a forma de adoração reparadora e de súplica, para nos aplicar os méritos passados da Cruz.

Mesmo quando a última Missa acabar no fim do mundo e que não houver mais sacrifício propriamente dito, mas sua consumação, a oblação interior do Cristo para seu Pai durará, não mais sob a forma de reparação e de súplica, mas sob a forma de adoração e de ação de graças. É o que nos faz prever o Sanctus, Sanctus, Sanctus, que dá uma idéia do culto dos bem-aventurados na eternidade.

Se nos fosse dado a conhecer, imediatamente, o amor que inspira esta oblação interior, que dura sem cessar no coração do Cristo, “sempre vivo para interceder por nós”, qual não seria nossa admiração!

A Bem-aventurada Ângela de Foligno nos diz [5]: “Não tenho um vago pensamento, mas a certeza absoluta que, se uma alma visse e contemplasse algum dos esplendores íntimos do sacramento do altar, incendiaria, pois veria o amor divino. Parece-me que aqueles que oferecem o sacrifício, ou que nele tomam parte, deveriam meditar profundamente sobre a verdade profunda do mistério três vezes santo, na contemplação do qual deveríamos permanecer imóveis e absorvidos”.








2. DA INSTITUIÇÃO E DOS EFEITOS DO SACRAMENTO DA EUCARISTIA
Jesus Cristo instituiu o Sacramento da Eucaristia na Última Ceia que celebrou com seus discípulos, na noite que precedeu sua Paixão. Jesus Cristo instituiu a Santíssima Eucaristia por três razões principais:

1. para ser o sacrifício da Nova Lei;

2. para ser alimento da nossa alma;

3. para ser um memorial perpétuo da sua Paixão e Morte, e um penhor precioso do seu amor para conosco e da vida eterna.

Jesus Cristo instituiu este Sacramento debaixo das espécies de pão e de vinho porque a Eucaristia devia ser nosso alimento espiritual, e era por isso conveniente que nos fosse dada em forma de comida e de bebida.

Os principais efeitos que a Santíssima Eucaristia produz em quem a recebe dignamente são estes:

1. conserva e aumenta a vida da alma, que é a graça, assim como o alimento material sustenta e aumenta a vida do corpo;

2. perdoa os pecados veniais e preserva dos mortais;

3. produz consolação espiritual.

A Santíssima Eucaristia produz em nós outros três efeitos, a saber:

1. enfraquece as nossas paixões, e em especial amortece em nós o fogo da concupiscência;

2. aumenta em nós o fervor e ajuda-nos a proceder em conformidade com os desejos de Jesus Cristo;

3. dá-nos um penhor da glória futura e da ressurreição do nosso corpo.

3. DAS DISPOSIÇÕES NECESSÁRIAS PARA BEM COMUNGAR

Para fazer uma comunhão bem feita, são necessárias três coisas:

1. estar em estado de graça;

2. estar em jejum desde a meia-noite até o momento da comunhão* (*esta lei não está mais em vigor, bastando, atualmente, o jejum de uma hora);

3. saber o que se vai receber e aproximar-se da sagrada comunhão com devoção";

"Estar em estado de graça" quer dizer: ter a consciência limpa de todo o pecado mortal.

Quem sabe que está em pecado mortal deve fazer uma boa confissão antes de comungar; porque para quem está em pecado mortal, não basta o ato de contrição perfeita, sem a confissão, para fazer uma comunhão bem feita. A Igreja ordenou, em sinal de respeito a este Sacramento, que quem é culpado de pecado mortal não ouse receber a Comunhão sem primeiro se confessar.

Quem comungasse em pecado mortal receberia a Jesus Cristo, mas não a sua graça; pelo contrário, cometeria sacrilégio e incorreria na sentença de condenação.

O jejum eucarístico consiste em abster-se de qualquer espécie de comida ou bebida** (**exceto a água natural). Quem engoliu restos de comida presos aos dentes pode comungar, porque já não são tomados como alimentos ou perderam tal condição. Comungar sem estar em jejum é permitido aos doentes que estão em perigo de morte, e aos que obtiveram permissão especial do Papa em razão de doença prolongada. A comunhão feita pelos doentes em perigo de morte chama-se Viático, porque os sustenta na viagem que eles fazem desta vida à eternidade.

"Saber o que vai receber" quer dizer: conhecer o que ensina com respeito a este Sacramento a Doutrina Cristã e acreditá-lo firmemente.

"Comungar com devoção" quer dizer: aproximar-se da sagrada Comunhão com humildade e modéstia, tanto na própria pessoa como no vestir, e fazer a preparação antes e a ação de graças depois da Comunhão.

A preparação antes da Comunhão consiste em nos entretermos algum tempo a considerar quem é Aquele que vamos receber e quem somos nós; e em fazer atos de fé, de esperança, de caridade, de contrição, de adoração, de humildade e de desejo de receber a Jesus Cristo.

A ação de graças depois da Comunhão consiste em nos conservarmos recolhidos a honrar a presença do Senhor dentro de nós mesmos, renovando os atos de fé, de esperança, de caridade, de adoração, de agradecimento, de oferecimento e de súplica, pedindo sobretudo aquelas graças que são mais necessárias para nós e para aqueles por quem somos obrigados a orar.

No dia da Comunhão deve-se manter, o mais possível, o recolhimento, e ocupar-se em obras de piedade, bem como cumprir com grande esmero os deveres de estado.

Depois da sagrada Comunhão, Jesus Cristo permanece em nós com a sua graça enquanto não se peca mortalmente; e com a sua presença real permanece em nós enquanto não se consomem as espécies sacramentais.

4. DA MANEIRA DE COMUNGAR

No ato de receber a sagrada Comunhão, devemos estar de joelhos, com a cabeça medianamente levantada, com os olhos modestos e voltados para a sagrada Hóstia, com a boca suficientemente aberta e com a língua um pouco estendida sobre o lábio inferior. Senhoras e meninas devem estar com a cabeça coberta.

A toalha ou a patena da Comunhão deve-se segurar de maneira que recolha a sagrada Hóstia, caso ela venha a cair.

Devemos procurar engolir a sagrada Hóstia o mais depressa possível, e convém abster-nos de cuspir algum tempo. Se a sagrada Hóstia se pegar ao céu da boca, é preciso despegá-la com a língua, nunca porém com os dedos.


Os efeitos do sacrifício da missa e nossas disposições interiores.

A oblação interior do Cristo Jesus, que é a Alma do sacrifício eucarístico, tem os mesmos fins e os mesmos efeitos que o sacrifício da Cruz, mas importa distinguir, entre esses efeitos, aqueles que são relativos a Deus e os que nos concernem.

Os efeitos da Missa imediatamente relativos a Deus, como a adoração reparadora e a ação de graças, se produzem sempre infalivelmente e plenamente com seu valor infinito, mesmos sem nosso concurso, mesmo que a Missa seja celebrada por um ministro indigno, desde que seja válida. De cada Missa se eleva, então, para Deus uma adoração e uma ação de graças de um valor sem limites, em razão da dignidade do Sacerdote principal que oferece e do preço da vítima ofertada. Esta oblação “agrada mais a Deus do que todos os pecados reunidos lhe desgostam”; é isso que constitui a própria essência do mistério da Redenção por modo de satisfação [6].

Quanto aos efeitos da Missa, relativos a nós, só nos são dispensados na medida de nossas disposições interiores.

É assim que a Missa, como sacrifício propiciatório, obtém ex opere operato, para os pecadores que não resistem à graça atual que os leva a se arrependerem e que os inspira a confessar suas faltas [7]. As palavras do Agnus Dei, qui tollis peccata mundi, parce nobis Domine, produzem nesses pecadores que não põem obstáculos aos sentimentos de contrição, o que o sacrifício da Cruz produziu na alma do bom ladrão. Trata-se aqui, sobretudo, dos pecadores que assistem a Missa ou daqueles por quem ela é dita.

O sacrifício da Missa, como satisfatório, apaga também, infalivelmente aos pecadores arrependidos, ao menos uma parte da pena temporal devida pelo pecado e isso em proporção às disposições mais ou menos perfeitas com as quais a assistem. É por isso que o Concílio de Trento diz que o sacrifício eucarístico pode ser oferecido também pelo sufrágio das almas do purgatório [8].

Enfim como sacrifício impetratório ou de Súplica, a Missa nos obtém ex opere operato todas as graças que temos necessidade para nos santificar. É a grande oração do Cristo sempre vivo que continua para nós, acompanhado da oração da Igreja, Esposa do Salvador. O efeito desta dupla oração é proporcionado ao nosso fervor e aquele que se uni o melhor que pode, está certo de obter para ele e para aqueles que lhes são caros, as mais abundantes graças.

Segundo Santo Tomas e muitos teólogos, esses efeitos da Missa relativos a nós são limitados apenas pela medida de nosso fervor [9]. A razão é que a influência de uma causa universal só é limitada pela capacidade dos sujeitos que a recebem. Assim o sol clareia e aquece em um só lugar tanto mil pessoas como a uma só.

Ora o sacrifício da Missa, sendo substancialmente o mesmo que o da Cruz é, por modo de reparação e de oração, uma causa universal de graças, de luz, de atração e de força. Sua influência sobre nós só é, pois, limitada pelas disposições ou pelo fervor daqueles que a recebem. Assim uma única missa será tão proveitosa para um grande número de pessoas como se fosse oferecida para uma só entre elas; assim como o sacrifício da Cruz rendeu ao bom ladrão tanto proveito quanto teria rendido se oferecido por ele só.

Se o sol aquece, em um só lugar, mil pessoas como a uma, a influência desta fonte de calor espiritual que é a Missa não é menor em sua ordem. Quanto mais se assiste a Missa com fé, confiança, religião e amor, maiores serão os frutos que dela se retira.

Tudo isso nos mostra porque os santos, à luz dos dons do Espírito Santo, sempre tanto apreciaram o Sacrifício da Missa. Alguns, ainda que enfermos e doentes, queriam se arrastar até a missa, porque ela vale mais do que todos os tesouros.

Santa Joana d’Arc, indo para Chinon, importunava seus companheiros de armas e obtinha deles, a força de insistência, que assistissem a missa todos os dias.

Santa Germana Cousin era fortemente atraída para a Igreja quando escutava o sino anunciar o santo sacrifício, deixava suas ovelhas na guarda dos anjos e corria para assistir a missa; seu rebanho era bem guardado.

O santo Cura d’Ars falava do valor da Missa com tal convicção, que tinha obtido que todos ou quase todos os seus paroquianos a assistissem.

Inúmeros outros santos derramavam lágrimas de amor ou caíam em êxtase durante o sacrifício eucarístico; alguns viram no lugar do celebrante o próprio Nosso Senhor, o Sacerdote principal. Outros, na elevação do cálice, viram o precioso sangue transbordar, escorrendo pelos braços do padre e pelo santuário e anjos virem recolhê-lo em taças de ouro como para levá-lo por toda parte onde houvesse homens para salvar. São Felipe de Néri recebeu graças desse gênero e se escondia para celebrar por causa dos arrebatamentos, que muitas vezes, era tomado no altar.

Como nos unir ao sacrifício eucarístico?




Pode-se aplicar a isso o que Santo Tomás [10] diz sobre a atenção na oração vocal: “A atenção pode estar ou bem nas palavras para bem pronunciá-las, ou no sentido das palavras, ou no fim da oração, quer dizer em Deus e naquilo pelo que se reza... Esta ultima atenção, que os mais humildes, sem cultura podem ter, é algumas vezes tão grande que é como se o espírito fosse elevado para Deus e se esquecesse de todo o resto”.

Assim também para bem assistir a missa, com fé, confiança, verdadeira piedade e amor, podemos segui-la de maneiras diferentes. Podemos estar atentos às preces litúrgicas, geralmente tão belas e tão cheias de unção, de elevação e de simplicidade. Podemos lembrar a Paixão e a Morte do Salvador, cuja missa é o memorial e se considerar como estando ao pé da Cruz com Maria, João, as santas mulheres. Podemos ainda nos aplicar a render a Deus, em união com Jesus, os quatro deveres que são os fins do Sacrifício: adoração, reparação, pedido e ação de graças [11].

Desde que se reze, mesmo recitando piedosamente seu terço, assistimos com frutos à missa. Podemos também com grande proveito, como santa Joana de Chantal e muitos santos, continuar com a sua oração, sobre tudo se somos levados a um puro e intenso amor, um pouco como são João na Ceia repousando sobre o Coração de Jesus.

Mas de qualquer maneira que se siga a Missa, é preciso insistir em uma coisa importante. É preciso sobretudo nos unirmos profundamente à oblação do Salvador, o sacerdote principal: com ele, é preciso oferecê-lo a seu Pai, nos lembrando que esta oblação agrada mais a Deus do que todos os pecados lhe desagradam. É preciso nos oferecer, cada dia, mais profundamente, oferecer particularmente as penas e contrariedades que costumamos ter e aquelas que se apresentarão durante o dia.

É assim que no ofertório o padre diz: “In spiritu humilitatis et in animo contrito suscipiamur a te, Domine: É com espírito de humildade e coração contrito que vos pedimos Senhor, de nos receber”.

O autor da Imitação, I. IV, cap. VIII, insiste com razão sobre este ponto: O Senhor diz: “ Como me ofereci voluntariamente a meu Pai por vossos pecados, na cruz..., assim deveis todos os dias, no sacrifício da Missa, vos oferecer a mim, como uma hóstia pura e santa, do mais profundo do vosso coração... É a vos que eu quero e não vossos dons... Se permanecerdes em vós mesmos, se não vos abandonardes sem reserva a minha vontade, vossa oblação não será completa e não estaremos unidos perfeitamente”.

No capítulo seguinte, o fiel responde: “Na simplicidade de meu coração, eu me ofereço a vós meu Deus, para vos servir para sempre... Recebei-me com a oblação santa de vosso precioso Corpo... Ofereço-vos também tudo o que há de bom em mim, por mais imperfeito que seja, para que vós a torne mais digna de vós. Ofereço-vos ainda todos os piedosos desejos das almas fiéis, a oração por aqueles que me são queridos... A súplica por aqueles que me ofenderam ou entristeceram, por aqueles também que eu mesmo afligi, feri, escandalizei, sabendo ou não, afim de que nos perdoeis todas nossas ofensas mútuas... e fazei que sejamos dignos de gozar aqui na terra dos vossos dons e alcançar a vida eterna.”

A missa assim compreendida é uma fonte fecunda de santificação, de graças sempre renovadas; por ela pode-se realizar cada vez melhor para nós a oração do Salvador: “Dei-lhes a luz que vós me destes, para que sejam um como nós somos um, Eu neles e vós em mim, afim de que eles sejam perfeitamente um e que o mundo saiba que vós me enviastes e que vós os amastes como vós me amais” (João, 17, 23).

A visita ao Santíssimo Sacramento deve nos recordar a missa da manhã e devemos pensar que no Tabernáculo, se não há sacrifício propriamente dito, que cessa com a missa, no entanto Jesus realmente presente continua a adorar, orar e render graças.

Deveríamos nos unir a essa oblação do Salvador a qualquer hora do dia. Como diz a oração do Coração Eucarístico: “Ele é paciente a nos esperar, apressado em nos atender; é a sede de todas as graças sempre renovadas, o refúgio da vida escondida, o mestre dos segredos da união divina”. Devemos junto ao Tabernáculo, “calar-nos para escutar, e abandonar-nos para nele nos perder” [12].

Originalmente publicado em “La Vie Spirituel” nº 187, 1.04.1935




A SANTA MISSA AUMENTA EM NÓS

A DIVINA GRAÇA E A GLÓRIA CELESTE.

É uso, nas cidades e nos arrabaldes, haver mercados e feiras, onde se vendem toda a espécie de objetos úteis.

A própria Igreja, e o céu também, têm, diariamente, um mercado. Que oferecem? A graça divina e a glória celeste. Mas são cousas preciosas; onde achar bastantes meios para comprá-las? Não tenhas nenhum receio pois podem-se adquirir gratuitamente.

O profeta Isaías no-lo afirma: "Vós que não tendes dinheiro, vinde, aproximai-vos, comprai sem troca" (Is. 55, 1). Com efeito, o Senhor as dá sempre gratuitamente, porém, raras vezes, com tanta abundância como na santa Missa, o que provaremos neste capítulo.

Em primeiro lugar, porém, devemos compreender bem o que é a graça.

A graça é um dom, um socorro sobrenatural que Deus nos concede em virtude dos méritos de Jesus Cristo. Distinguem-se duas espécies de graça: a "santificante" e a "atual".

A graça "santificante" é um estado de alma que nos torna justos aos olhos de Deus e nos dá o direito de herdar os bens eternos. Esta graça, elevando-nos acima da nossa própria natureza, nos torna participantes da natureza divina. Segundo o Concílio de Trento, não é somente "a remissão de nossos pecados com favor sensível da bondade de Deus", porém "um estado divino, uma luz brilhante, que nos embeleza a alma", a qual permanece neste feliz estado até que percamos a graça pelo pecado mortal.

A graça "atual" é um socorro passageiro, pelo qual Deus ilumina-nos o entendimento e comove-nos a vontade, para evitar o mal e fazer o bem. Se nossa alma está morta, a graça atual ajuda a recuperar a graça santificante; se, pelo contrário, está na amizade de Deus, a graça atual, ajudando-nos a fazer boas obras, aumenta, de mais a mais, esta amizade divina.

São Tomás de Aquino ensina que "a graça concedida a uma alma vale mais que o mundo inteiro e tudo quanto encerra". O próprio céu com o seu esplendor não lhe pode ser comparado.

Grandiosos são os efeitos da graça de Deus: reveste, em primeiro lugar, a alma de uma beleza sem igual. Comparando com este esplendor o sol, as estrelas, as flores, parecem embaciadas, descoradas, sem encantos. Se te fosse dado ver uma alma em estado de graça, tudo o que então tivesse algum brilho para ti, aparecer-te-ia, depois, sem encanto, segundo a palavra do Bem-aventurado Blósio: "Se a beleza de uma alma em estado de graça pudesse ser contemplada, ficaríamos arrebatados".

Em segundo lugar, a graça é o laço da caridade entre Deus e o homem. Por ela o Criador e a criatura tornam-se, um para a outra, ternos e confiantes amigos, segundo a palavra de Jesus Cristo: "Não vos chamarei mais servos, e, sim, amigos" (Jo. 15, 15).

Ora, que há de maior, de mais excelente do que ser chamado amigo de Jesus Cristo e sê-lo realmente? Esta dignidade ultrapassa a natureza humana, porque tudo serve ao Senhor e nada existe que não esteja sob seu domínio. É por isso que Deus eleva os servos a uma dignidade sobrenatural, chamando-os seus amigos e tratando-os como tais. E quando, por nossa infelicidade, pelo pecado, quebramos o laço desta terna amizade, Deus não se afasta inteiramente, fica esperando à porta de nossa alma, bate docemente e pede para entrar: "Eis que estou à porta e bato: se alguém me ouvir a voz e me abrir a porta, entrarei em sua casa e cearei com ele e ele comigo" (Apoc. 3, 20).

Enfim, terceiro, a alma santificada é de tal modo enobrecida, que se torna a própria filha de Deus. Que honra para o filho de um mendigo ser adotado por um príncipe! Que honra infinitamente maior sê-lo pelo soberano Senhor!

A este pensamento São João exclama como em êxtase: "Considerai, o amor que nos mostrou o Pai foi tal que chegamos a ser chamados filhos de Deus e o somos" (I Jo. 3, 1). E São Paulo acrescenta: "Se somos filhos, também somos herdeiros, verdadeiramente, herdeiros de Deus, e coerdeiros de Cristo" (Rom. 8, 17).

Ser herdeiro de Deus! que sorte, que glória! Nada poderia fazer-nos melhor compreender a excelência da graça desta adoção divina, que é, ao mesmo tempo, a prova manifesta do amor infinito de Deus por suas pobres criaturas.

Ora, esta graça santificante é, sem cessar, aumentada pela nossa correspondência à graça atual, pela qual Deus orna a alma de virtudes, de piedade, cumula-a de consolações, inspira-lhe santos desejos, concede-lhe a alegria espiritual, protege-a, fortifica-a, governa-a, une-se-lhe, enfim estreitamente e lhe dá tudo o que contribui para a vida e a piedade.

Estas explicações ensinar-te-ão a conhecer o valor infinito da graça.

Agora provaremos, até a evidência, primeiro, que a santa Missa aumenta poderosamente a graça, depois, que nos aumenta a glória futura, e finalmente, insistiremos sobre a Comunhão espiritual como sobre uma parte da santa Missa muito própria para enriquecer-nos a alma de novas graças.

Um piedoso autor dizia: "Não somente o sacerdote, mas também os que mandam dizer a Missa ou a assistem, podem, conforme sua piedade, merecer um acréscimo de graça ou de glória, e este benefício lhe é abonado em virtude de sua cooperação ao santo Sacrifício.

O sacerdote é o primeiro beneficiado; os que mandam dizer a Missa, por si ou por outrem, tiram igualmente os preciosos frutos e um aumento de graças, se estão na amizade de Deus. Finalmente, os assistentes têm parte, não somente pela devoção para com o santo Sacrifício, como também em recompensa das virtudes múltiplas que exercem; assistindo-a, renovam, no coração, a dor de haver pecado, cada vez que batem no peito; exercem a fé, reconhecendo a presença real de Jesus na santa Hóstia e sua imolação pelos pecados dos homens. Esta crença é o fundamento de nossa salvação. Além da fé, produzem ainda atos de adoração interior e, se bem que estes sentimentos sejam devidos a Nosso Senhor, contudo nosso bom Mestre não os julga menos agradáveis e neles se compraz particularmente.

Se, na elevação da Hóstia e do Cálice, ofereces este dom divino ao Pai eterno, fazes um ato de grande merecimento e, se oras pelos vivos e pelos mortos, acrescentas um ato de caridade; finalmente, se participas do Corpo e do Sangue de Jesus Cristo, ao menos pela Comunhão espiritual, mereces graças particulares.

Além disso, por causa do desprezo dos hereges pelo divino Sacrifício do Altar que consideram idolatria, Deus olha, amorosamente, para os que reparam estes insultos por sua piedosa assistência. Os Santos Padres falam, freqüentemente, nas recompensas especiais, concedidas a este ato de reparação.

São Cirilo diz: "Os dons espirituais serão, abundantemente, distribuídos aos que assistirem à santa Missa". São Cipriano nota por sua vez: "O pão sobrenatural e o cálice consagrado contribuem para a vida e a salvação do homem". Também o Papa Inocêncio III afirma: "Pela eficácia do santo Sacrifício, todas as virtudes nos são aumentadas e os frutos da graça nos são profusamente distribuídos". São Máximo, exorta aos cristãos "a não desprezarem a santa Missa, porque as graças do Espírito Santo nela são comunicadas aos assistentes".

Citamos ainda o testemunho de Osório: "Deus Padre vos dá, na santa Missa, seu Filho único, em quem reside, unida à humanidade, a plenitude da divindade e onde se acham ocultos todos os tesouros da sabedoria. Dando-nos seu Filho, dá-nos tudo".

Sim, dá-nos Jesus com seus méritos, suas satisfações, seu corpo e sua alma. Que poderia dar mais? E que meio mais cômodo poderia inventar, para permitir-nos participar destes tesouros infinitos? Certamente, se tua alma está na indigência, deves, unicamente, ao teu imperdoável torpor, à tua preguiça espiritual.

Oh delicioso e incompreensível dom da glória celeste para a qual fomos criados e pela qual nosso coração suspira ardentemente! Como poderemos tratar de aumentá-la, visto que o Apóstolo exclama: "Os olhos não viram, nem o ouvido, nem jamais veio à mente do homem, o que Deus preparou para aqueles que o amam!" (Cor. 2, 9). A santa Igreja ensina, é verdade, que as boas obras aumentam a graça e a glória futura, porém não indica o grau desta glória.

Contentemo-nos, pois, com as palavras de Nosso Senhor a Santa Gertrudes: "O cristão aumenta os méritos para a vida eterna cada vez que assiste, devotamente, à santa Missa". É desta recompensa eterna que o Evangelho diz: "Derramar-vos-ão, no seio, uma boa medida, bem cheia e recalcada e transbordante". (Lc. 6, 38).

Efetivamente, na Missa merecemos um novo grau de glória. O santo Sacrifício é como uma escada celeste: cada vez que o fiel assiste, sobe um degrau e torna-se mais belo, mais resplandecente, mais glorioso, mais estimável aos olhos de Deus e dos Santos. Cada vez que assistes à Missa, o céu o registra e te assegura um grau de glória mais elevado. Esta glória pode ser roubada pelo pecado mortal, mas, pela extrema bondade de Deus, ela te será restituída após uma humilde confissão. Que glória, que riqueza, que felicidade te esperam lá em cima, se todos os dias assistires ao santo Sacrifício!

"Aquilo que de tribulação nos vem no presente, momentâneo e leve, produz em nós, de modo incomparável e maravilhoso, um peso eterno de glória". Grava, cristão, estas palavras no coração, e convence-te de que, se o Apóstolo promete tão bela recompensa aos sofrimentos momentâneos, Deus reserva graças muito mais insignes aos fiéis que assistem à santa Missa, porque a esta prática ligam-se uma multidão de pequenas mortificações, e bem as conheces.

A igreja acha-se afastada de tua casa; é necessário levantar-se mais cedo; o caminho é mau e perigoso no inverno, o vento frio sopra-te no rosto; no verão, o sol dardeja sobre ti os ardentes raios; depois, o ofício é, algumas vezes longo, o fervor desaparece, um trabalho urgente te espera, um lucro te escapa. Mas, coragem! Na santa Missa, há tantos títulos de glória, tantos tesouros para o céu!

Depois de haver declarado ser o desejo da santa Igreja que todos os fiéis fizessem a santa Comunhão na Missa que assistem, o santo Concílio de Trento recomenda, instantemente, aos que se reconhecem indignos da recepção da Eucaristia, fazer, pelo menos, a Comunhão espiritual que consiste no ardente desejo de receber Jesus Cristo. Esta prática não seria tão recomendada, se não fosse proveitosíssima às nossas almas e um dos principais meios de aumentar-nos a graça divina e a glória celeste.

Quando Jesus Cristo estava na terra, fez muitas curas pela imposição das mãos; a muitos, porém, restituiu a saúde de longe, sem estar presente, como, por exemplo, à filha da Cananéia e ao servo do centurião. A infinita generosidade de Nosso Senhor não se limita às almas que se aproximam dignamente de seu Sacramento de amor, estende-se também as que não podem recebê-lo sacramentalmente. Não diz ele: "Eu sou o pão da vida; o que vem a mim não terá mais fome, e o que crê em mim, não terá mais sede"?

Ir a Jesus é crer nele e amá-lo. Quem for a ele deste modo será saciado. Jesus Cristo não ligou sua graça à santa Comunhão, de forma que não possa concedê-la sem a recepção do Sacramento. Uma Comunhão espiritual, feita com ardentes desejos, produz-nos mais graças que uma Comunhão sacramental feita sem fervor. A intensidade de nossos desejos é a medida da graça que nos vem pela Comunhão espiritual.

Mas, como fazer para bem comungar espiritualmente?

O sábio Fornero, bispo de Hebron, no-lo ensina: "Todos os que ouvem a santa Missa com boas disposições, são nutridos, de maneira mística, com o corpo de Jesus Cristo. A virtude da santa Missa é tão grande que basta unir-se espiritualmente ao sacerdote, para participar com ele do fruto do Sacrifício" (Sermão 83). - Esta doutrina é muito consoladora, para os que desejam fazer a Comunhão espiritual e não sabem fazê-la. Basta dizer: Uno minha intenção com a do sacerdote, e desejo, comungando com ele, participar do santo Sacrifício.

"Assim como os nossos membros que não comem, acrescenta o bispo de Hebron, nutrem-se tão bem como a boca, da mesma maneira, os que assistem à santa Missa nutrem-se, espiritualmente, por intermédio do sacerdote, sem comungar realmente. Também é justo que o que está em espírito com o celebrante à mesa do Senhor, seja nutrido em espírito com ele. Se os convidados de um rei não saem com fome da sala do festim, como nosso divino Salvador deixaria ir embora, sem ficarem saciados, os que vieram adorá-lo na santa Missa!"

A santa Missa; a grande ceia do Senhor; aí, cada um recebe sua parte a não ser que feche, obstinadamente, a boca de sua alma diante da mão de Jesus Cristo, que lhe oferece o Corpo em alimento.

A Comunhão espiritual é, portanto, santa e salutar. A santa Igreja diz expressamente: "Aqueles que, pelo desejo, comem deste pão celeste, sentem-lhe o fruto e a utilidade, em virtude da fé viva que a caridade torna fecunda" (Conc. de Trento, sessão 13).



O TREMENDO VALOR DA SANTA MISSA



São Leonardo
Imprimatur: + Michael Augustine Archbishop of New York, Jan 2, 1890.


1. Na hora da morte, as Santas Missas que tiverdes ouvido devotamente serão vossa maior consolação.

2. Deus vos perdoa todos os pecados veniais que estais determinados a evitar.

3. Ele vos perdoa todos os vossos pecados desconhecidos que jamais confessáreis.

4. O poder de Satanás sobre vós é diminuído.

5. Cada Missa irá convosco ao Julgamento e implorará por perdão para vós.

6. Por cada Missa tendes diminuída a punição temporal devida a vossos pecados, mais ou menos, de acordo com vosso fervor.

7. Assistindo devotamente à Santa Missa, rendeis a maior homenagem possível à Sagrada Humanidade de Nosso Senhor.

8. Através do Santo Sacrifício, Nosso Senhor Jesus Cristo repara por muitas de vossas negligências e omissões.

9. Ouvindo piedosamente a Santa Missa, ofereceis às Almas do Purgatório o maior alívio possível.

10. Uma Santa Missa ouvida durante vossa vida será de maior benefício a vós do que muitas ouvidas por vós após vossa morte.

11. Através da Santa Missa, sois preservados de muitos perigos e infortúnios, que de outra forma cairiam sobre vós.

12. Vós encurtais vosso Purgatório a cada Missa.

13. Durante a Santa Missa, vós ajoelhais entre uma multidão de santos Anjos, que estão presentes ao Adorável Sacrifício com reverente temor.

14. Pela Santa Missa sois abençoados em vossos bens e empreendimentos temporais.

15. Quando ouvis a Santa Missa devotamente, oferecendo-a ao Deus Todo-Poderoso em honra de qualquer Santo ou Anjo em particular, agradecendo a Deus pelos favores dispensados nele, etc., etc. Vós conseguis para aquele Santo ou Anjo um novo grau de honra, alegria e felicidade, e dirigis seu amor e proteção especiais para vós.

16. Toda vez que assistis a Santa Missa, entre outras intenções, deveis oferecê-la em honra do Santo do dia.





MÉTODO DE ASSISTIR À SANTA MISSA

EM UNIÃO COM O ESPÍRITO DO SANTO SACRIFÍCIO


São Pedro Julião Eymard

O Santo Sacrifício divide-se em três partes: a primeira vai do começo da Missa ao Ofertório; a segunda, do Ofertório à Comunhão; a terceira, da Comunhão ao último Evangelho.

I

Enquanto o sacerdote ora aos pés do Altar e se humilha pelos seus pecados, deveis confessar vossas culpas e adorar a Deus em toda humildade, a fim de vos preparar para assistir dignamente ao Santo Sacrifício.

Durante o Intróito lembrai-vos dos santos desejos dos Patriarcas e Profetas, que ansiavam pela vinda do Messias, unindo-vos a eles para pedir a Jesus Cristo que venha a vós e em vós reine.

No Glória uni-vos em espírito aos Anjos para louvar a Deus e agradecer-lhe o mistério da Encarnação.

Nas Orações, uni vossas intenções e vossos pedidos aos da Santa Igreja. Adorai o Deus infinitamente bondoso, de quem procede todo dom.

Prestai à Epistola a mesma atenção que prestaríeis se vos falassem os Profetas ou Apóstolos, e adorai a Santidade de Deus.

No Evangelho ouvi a Jesus Cristo em Pessoa falando-vos e adorai a Verdade de Deus.

Recitai o Credo com vivos sentimentos de Fé, Fé essa que renovareis em união com a da Igreja, protestando, ao mesmo tempo, que defendereis, se preciso for, com vosso próprio sangue todas as verdades contidas no Símbolo.

II

Na segunda parte da Missa, unindo vossas intenções às do sacerdote, oferecei-a pelos quatro fins do Santo Sacrifício:

1.°) Como homenagem de suma adoração. Oferecei ao Padre Eterno as adorações do seu Filho Encarnado, unidas às vossas próprias adorações e às de toda a Igreja. Oferecei-vos também a vós mesmo com Jesus Cristo, para amá-lo e servi-lo.

2.°) Como homenagem de ação de graças. Oferecei o Santo Sacrifício ao Pai, a fim de lhe agradecer os méritos, as graças e a glória de Jesus Cristo; os méritos e a glória de Maria Santíssima, e de todos os Santos; todos os benefícios pessoais recebidos, e a receber, pelos méritos de seu Filho.

3.°) Como hóstia satisfatória. Oferecei-o para satisfazer todos os vossos pecados, e expiar todos os crimes que se cometem no mundo. Lembrai ao Padre Eterno que Ele nada nos pode recusar, já que nos deu seu Filho, que ali está em sua Presença, num estado de Sacrifício e de Vítima — Vítima que é dos nossos pecados e dos pecados de todos os homens.

4.°) Como sacrifício impetratório, ou hóstia de oração. Oferecei ao Pai, como o penhor que nos deu do Amor Divino, para que, confiantes, possamos dele esperar, em abundância, os bens espirituais e temporais. Exponde-lhe quais vossas necessidades e pedi-lhe instantemente a graça de vos corrigir do vosso defeito dominante.

No Lavabo, purificai-vos pela contrição a fim de vos tornardes uma verdadeira hóstia de louvor, agradável a Deus, o que lhe atrairá um olhar de complacência.

No Prefácio, uni-vos ao concerto da Corte Celeste, para louvar, bendizer e glorificar o Deus três vezes Santo por todos os seus dons de graça e de glória, e sobretudo por nos ter remido na Pessoa de Jesus Cristo.

No Cânon, associai-vos à piedade e ao amor dos Santos da Nova Lei, para, com eles, celebrar dignamente a nova encarnação e a nova imolação que se vão operar pela palavra do sacerdote. Pedi ao Pai Celeste que, nesse Sacrifício, abençoe a todos os outros sacrifícios que lhe ofertareis, quer de virtude, quer de santidade.

Enquanto o sacerdote, cercado por uma falange de Anjos, se inclina profundamente cheio de respeito ante a Ação Divina que lhe cabe realizar; enquanto fala e opera divinamente na Pessoa de Jesus Cristo, consagra o pão e o vinho no Corpo, no Sangue, na Alma e na Divindade do Homem-Deus, renovando o mistério da Ceia, admirai esse Poder inaudito, transmitido aos sacerdotes em vosso favor.

Depois, ao baixar Jesus sobre o Altar à palavra do seu ministro, adorai a Hóstia Santa, o cálice do Sangue de Jesus Cristo, clamando misericórdia por vós e recebei, qual outra Madalena, ao pé da Cruz, o Sangue que brota das Chagas de Jesus.

Oferecei essa Vitima divina à Justiça de Deus, por vós e por todos os homens, oferecei-a à sua Misericórdia infinita e divina, para que seu Coração, à vista das vossas próprias misérias, se enterneça e vos abra a fonte de sua Bondade sem fim.

Oferecei ainda essa mesma Vítima à Bondade de Deus para que Ele aplique seus frutos de luz e de paz às almas padecentes do Purgatório, até que esse Sangue lhes apague as chamas e, purificando-as inteiramente, as torne dignas do Paraíso.

Recitai o Pater, com Jesus Cristo em Cruz, perdoando aos seus inimigos, e perdoai, por vossa vez, do fundo do coração e com toda sinceridade, àqueles que vos ofenderam.

No Libera nos, pedi a Deus que, por Maria e todos os Santos, vos livre dos pecados e dos males passados, presentes e futuros, bem como de toda ocasião de pecado.

No Agnus Dei, lembrai-vos dos carrascos convertidos no Calvário e, como eles, batei no peito. Depois recolhei-vos por meio dum ato de fé, humildade e de confiança, de amor e de desejo, e ide receber a Jesus Cristo.


III

Se não comungardes de fato, comungai espiritualmente, do seguinte modo:

Desejai ardentemente unir-vos a Jesus Cristo, confessando quão necessário é para vós viver de sua Vida.

Recitai um ato de contrição perfeita, por todos os vossos pecados, passados e presentes, baseada na Bondade e Santidade de Deus.

Levai, em espírito, a Jesus Cristo ao fundo de vossa alma, pedindo-lhe para fazer-vos viver unicamente para Ele, já que não podeis viver senão por Ele.

Imitai a Zaqueu tomando boas resoluções, e agradecei a Nosso Senhor terdes podido assistir à Santa Missa e fazer a Comunhão espiritual.

Oferecei-lhe, em ação de graças, uma homenagem particular, um sacrifício, um ato de virtude, e pedi a Nosso Senhor que vos abençoe a vós e a todos os vossos parentes e amigos.

COMO ASSISTIR COM FRUTO À SANTA MISSA


São João Bosco

A Missa é o Sacrifício do Corpo e do Sangue de Nosso Senhor Jesus Cristo, que é oferecido a Deus nos altares sob as espécies do pão e do vinho consagrados.

Trate de compreender bem, caro amigo, que assistindo à Santa Missa é como se você visse o Divino Salvador, quando saiu de Jerusalém para levar a Cruz ao Calvário, onde, no meio dos mais bárbaros tormentos, foi crucificado, derramando até a última gota de seu sangue.

Esse mesmo sacrifício é renovado pelo Sacerdote quando celebra a Santa Missa, com a única diferença que o sacrifício do Calvário foi doloroso para Jesus e foi com derramamento de sangue, ao passo que o sacrifício da Missa é incruento.

Como não se pode imaginar coisa mais santa e mais preciosa do que o Corpo, o Sangue, a Alma e a Divindade de Jesus Cristo, assim, ao assistir à Missa, você deve estar convencido de que faz a ação mais santa e gloriosa aos olhos de Deus e benéfica para sua alma. Jesus Cristo vem em pessoa aplicar a cada um de nós em particular os merecimentos daquele Sangue adorável, que derramou por nós no Calvário. Isso deve nos inspirar suma estima para com a Santa Missa e ao mesmo tempo um vivíssimo desejo de assistir bem a ela.

O triste fato de vermos tantas pessoas voluntariamente distraídas, sem modéstia, sem atenção, sem respeito, de pé, olhando para cá e para lá, faz-nos pensar que não assistem ao divino sacrifício como Nossa Senhora e São João, e sim, como os Judeus, crucificando outra vez Nosso Senhor, com grande escândalo para os companheiros e desonra para nossa fé!

Assista, pois, meu caro amigo, à Santa Missa com espírito de verdadeiro cristão, meditando a começar pelo dolorosa Paixão que Jesus Cristo sofreu pela nossa salvação. Durante a Missa você deve estar com modéstia e recolhimento que nada possa perturbar. A mente, o coração, todos os pensamentos estejam unicamente ocupados em honrar Deus. Recomendo, faça grande empenho em assistir à Santa Missa todos os dias, até com alguns sacrifícios.

Santo Isidoro, que servia nos trabalhos do campo, para ir à Missa se levantava de madrugada, para poder depois, no tempo marcado, estar pronto para fazer os trabalhos que o patrão lhe determinava. Desse modo, atraía sobre si todas as bênçãos de Deus e todo trabalho era bem executado. Lembre-se sempre de oferecer a Santa Missa em sufrágio pelas almas do Purgatório.

Breves Orações (em silêncio):

Antes da Santa Missa: Meu Senhor e meu Deus, ofereço-vos este santo sacrifício para a vossa maior glória e para o bem de minha alma. Concedei-me a graça que meu coração e a minha mente somente se ocupem de Vós. Afastai de minha alma toda distração e preparai-me bem para assistir a esta Santa Missa com o maior recolhimento.

Ato penitencial: Senhor, tende misericórdia desta minha pobre alma e das de todos aqueles por quem sou obrigado a rezar.

Oração Coleta: Recebei, ó Senhor, as orações que vos dirige este sacerdote em nosso nome. Concedei-me a graça de viver e morrer como cristão em unidade com a Santa Madre Igreja.

Ofertório: Ofereço-vos, ó meu Deus, pelas mãos do sacerdote, o pão e o vinho que devem ser transubstanciados no Corpo e no Sangue de Jesus Cristo. Ofereço-vos também o meu coração e a minha vontade, para que possam sempre estar ao vosso serviço.

Elevação da Hóstia: Humildemente prostrado, eu vos adoro, meu Senhor, e creio firmemente, que estais presente na Santíssima Eucaristia.

Elevação do Cálice: Eterno Pai, adoro o preciosíssimo Sangue derramado pelo vosso divino Filho para a salvação da minha alma. Recebei-o pela minha salvação e pelas necessidades da Igreja.

Ação de graças após a Comunhão: Agradeço-vos, meu Jesus, por terdes sacrificado por mim; fazei que eu sempre possa me sacrificar por Vós.

A SANTA MISSA E COMO SE DEVE OUVÍ-LA
São Francisco de Sales

A Eucaristia é, na verdade, a alma da piedade e o centro da religião cristã, à qual se referem todos os seus mistérios e leis. É o mistério da caridade, pelo qual Jesus Cristo, dando-se a nós, nos enche de graças dum modo tão amoroso quão sublime.

A oração feita em união com este sacrifício divino recebe uma força maravilhosa, de sorte que a alma, Filotéia, cheia das graças de Deus, da suavidade de seu espírito e da influência de Jesus Cristo, se acha naquele estado de que fala a Escritura quando diz que a Esposa dos Cantares estava reclinada sobre o seu Dileto, inundada de delícias e semelhante a uma nuvem de fumaça que o incenso mais precioso levanta o céu, aromatizando o ar.

Faz o possível para arranjar o tempo necessário de ouvir todos os dias a Santa Missa, a fim de oferecer juntamente com o sacerdote o sacrifício do teu divino redentor a Deus, seu Pai, por ti mesma e por toda a Igreja. São João Crisóstomo nos afirma que os anjos a ele assistem em grande número, para honrar com sua presença este mistério adorável.

Não devemos duvidar que, unindo-nos com ele num mesmo espírito, tornemos o Céu propício a nós, enquanto a Igreja triunfante e militante se ajunta com Jesus neste ato divino, para ganhar-nos nele e por ele o Coração de Deus, seu Pai, e merecer-nos todas as suas misericórdias.

Que dita para uma alma poder concorrer para isso algum tanto, por uma devoção sincera e afetuosa!

Se absolutamente não poder ir à igreja, é necessário então suprires a falta da presença corporal pela espiritual; nunca omitas, numa hora da manhã, ir em espírito aos pés do altar, identificar a tua intenção com a do padre e dos fiéis e ocupar-te com este santo sacrifício, em qualquer parte que estiveres, como o farias, se estivesses na igreja.

Proponho-te em seguida um método de ouvir a Missa devotamente:

a) Desde o começo da Missa até o padre subir ao altar, faze com ele a preparação, que consiste em te apresentares a Deus, em confessares a tua indignidade e em pedires perdão de teus pecados.

b) Depois de subir o padre ao altar, até o Evangelho, considera a vinda e a vida de Nosso Senhor neste mundo, lembrando-te delas com uma representação simples e geral.

c) Do Evangelho até depois do Credo considera a pregação de Nosso Senhor; protesta-lhe sinceramente que queres viver e morrer na fé, na prática de sua palavra divina e na união da santa Igreja Católica;

d) Do Credo ao Pai Nosso (Pater Noster) aplica teu espírito à meditação da Paixão e morte de Jesus Cristo, as quais se representam atual e essencialmente neste santo sacrifício, que oferecerás em união com o Sacerdote e com todo o povo a Deus, o Pai de misericórdia, para sua glória e nossa salvação.

e) Do Pai Nosso (Pater Noster) à comunhão, excita teu coração, por todos os modos possíveis, a querer ardentemente unir-se a Jesus Cristo pelos laços mais fortes do eterno amor.

f) Da Comunhão ao fim, agradece à sua divina majestade, por sua encarnação, vida, paixão e morte e também pelo amor que nos testemunhou neste santo sacrifício, conjurando-o por tudo isso a ser propício a ti, a teus parentes e amigos e a toda a Igreja e, ajoelhando-te em seguida com profunda humildade, recebe devotamente a bênção que Nosso Senhor te dá na pessoa de seu ministro ordenado.

Querendo, no entanto, fazer no tempo da Santa Missa a tua meditação habitual, escusa-te seguir este método. Será suficiente fazer no começo a intenção de assistir a este santo sacrifício, tanto mais que quase todas as práticas deste método se acham sintetizadas numa meditação bem feita.


I. ADORAÇÃO AO SANTÍSSIMO SACRAMENTO

Dom Celso Antônio Marchiori

Bispo da Diocese de Apucarana – Pr.



1.1. O QUE A IGREJA FALA SOBRE A ADORAÇÃO AO SANTÍSSIMO SACRAMENTO?

A Igreja nos ensina que “A reserva do Corpo de Cristo para a Comunhão dos enfermos criou entre

os fiéis o louvável costume de se recolherem em oração para adorar Cristo realmente presente no

Sacramento conservado no sacrário. Recomendada pela Igreja aos Pastores e fiéis, a adoração do

Santíssimo é uma alta expressão da relação existente entre a celebração do sacrifício do Senhor e a

sua presença permanente na Hóstia Consagrada”(cf. De sacra Communione, 79-100; Eclesia de

Eucaristia, 25; Mysterium fidei; Redemptionis Sacramentum, 129-141). Sobre este ponto assim se

expressa o Romano Pontífice em sua Exortação Apostólica Pós-sinodal, Sacramentum Caritatis, nº

66: “De fato, na Eucaristia, o Filho de Deus vem ao nosso encontro e deseja unir-Se conosco; a

adoração eucarística é apenas o prolongamento visível da celebração eucarística, a qual, em si

mesma, é o maior ato de adoração da Igreja: receber a Eucaristia significa colocar-se em atitude

de adoração d'Aquele que comungamos. Precisamente assim, e somente assim, é que nos tornamos

um só com Ele e, de algum modo, saboreamos antecipadamente a beleza da liturgia celeste. O ato

de adoração fora da Santa Missa prolonga e intensifica aquilo que se fez na própria celebração

litúrgica. Com efeito, “somente na adoração pode maturar um acolhimento profundo e verdadeiro.

Precisamente neste ato pessoal de encontro com o Senhor amadurece depois também a missão

social, que está encerrada na Eucaristia e deseja romper as barreiras, não apenas entre o Senhor e

nós mesmos, mas também, e sobretudo, as barreiras que nos separam uns dos outros”. Portanto,

“O permanecer em oração diante do Senhor vivo e verdadeiro no santo Sacramento amadurece

nossa união com ele: dispõe-nos para a frutuosa celebração da Eucaristia e prolonga as atitudes de

culto por ela suscitadas”(Ano da Eucaristia. Nº 13 - 15 de Outubro de 2004)

1.2. SEGUNDO A BÍBLIA O QUE DEUS NOS FALA SOBRE A ADORAÇÃO AO

SANTÍSSIMO SACRAMENTO?

Na Bíblia não vamos encontrar literalmente a expressão: “adoração ao Santíssimo Sacramento”.

Mas, na verdade, o que é o Santíssimo Sacramento? É Deus presente no meio do seu povo. É Jesus

atuando na história. Portanto, vamos encontrar na Bíblia diversos textos que nos sugerem adoração

a Deus. De fato, somente a Deus devemos adorar. Adorar a Deus é o máximo que podemos fazer

enquanto passamos pelos caminhos da existência terrestre. Nossa primeira atitude como criaturas

diante do Criador é, sem dúvida, a adoração. Pela adoração exaltamos a grandeza do Senhor que

nos fez e a onipotência do Salvador que nos liberta do mal. A adoração do Deus três vezes santo e

sumamente amável nos enche de humildade e dá garantia a nossas súplicas. No Antigo Testamento

podemos ler freqüentes vezes expressões como estas: “Todo o povo se prostrou com o rosto em

terra para adorar e bendizer no céu aquele que os havia conduzido ao triunfo”(1Mac 4, 55). “Assim

vos bendirei em toda a minha vida, com minhas mãos erguidas vosso nome adorarei”(Sl 62, 5). “É

somente a vós, Senhor, que devemos adorar”(Br 6, 5). “Prostrando-se diante dele, o adoraram”(Mt

2, 11). “...os verdadeiros adoradores hão de adorar o Pai em espírito e verdade, e são esses

adoradores que o Pai deseja”( Jo 4, 23). Quando nos prostramos em adoração a Jesus no Santíssimo

Sacramento, somos muito mais felizes que Abraão, Moisés, Davi, os Profetas... Sem dúvida, eles

adoraram a Deus Santíssimo, ou como é comum na Bíblia, ao Deus três vezes Santo, ou ao Santo,

Santo, Santo, o Senhor Deus do universo. Mas como nos diz a Palavra em Hb 11, 13, eles

“morreram firmes na fé. Não chegaram a desfrutar a realização da promessa, mas puderam vê-la e

saudá-la de longe e se declararam estrangeiros e peregrinos na terra que habitavam”. Nós, porém,

somos privilegiados. Diante do Santíssimo Sacramento, nossa experiência se identifica com a

experiência dos Apóstolos, pois estamos diante de Jesus vivo e operante. No silêncio, ele nos ensina

como Mestre. Encerrado no Sacrário ele nos dá a liberdade, escondido na Hóstia Consagrada ele

nos revela a glória de Deus Pai e o poder do Espírito Santo. Assim como no deserto o Senhor Deus

libertou seu povo da escravidão do Egito, no Santíssimo Sacramento o Senhor Jesus nos liberta de

nossa aridez espiritual, de nosso egocentrismo, de nossos vãos desejos. Ele nos liberta da escravidão

do pecado e nos conduz à vida da graça. Ele nos aproxima do Pai celestial e de todos os irmãos e

irmãs, faz-nos crescer em comunhão, torna-nos solidários com os mais carentes e nos abre o

coração para acolhermos a vontade de Deus. No Santíssimo Sacramento, Jesus é nosso refúgio e

nossa segurança, nossa paz, nosso caminho, nossa vida e nossa verdade. Ali no tabernáculo Jesus

nos aponta para o Tabernáculo eterno.

1.3. COMO PREPARAR-SE PARA PRATICAR A ADORAÇÃO AO SANTÍSSIMO

SACRAMENTO?

É recomendável, para um aproveitamento mais eficaz da devoção eucarística, que os adoradores

estejam em estado de graça, ou seja, que pratiquem a confissão sacramental com mais freqüência,

busquem viver uma vida digna, sejam testemunhas fiéis, sejam assíduos à leitura orante da Bíblia,

especialmente que conheçam os Santos Evangelhos como também tenham sempre mais interesse

pelo estudo da doutrina católica, sobretudo pelo que a Igreja ensina através de seu Catecismo e de

seus documentos. Reconhecendo Jesus na Eucaristia, precisamos também reconhecê-lo entre nós,

em todas as pessoas e especialmente na pessoa dos mais sofredores.

1.4. COMO FAZER A ADORAÇÃO AO SANTÍSSIMO SACRAMENTO?

Segundo a tradição da Igreja, exprime-se de diversas modalidades:

– a simples visita ao Santíssimo Sacramento, conservado no Sacrário: breve encontro com Cristo,

sugerido pela fé na sua presença e caracterizado pela oração silenciosa;

– a adoração diante do Santíssimo Sacramento exposto, segundo as normas litúrgicas, na custódia

ou na píxide, de forma prolongada ou breve;

– a adoração perpétua, a das Quarenta Horas ou noutras formas, que empenham toda a comunidade

religiosa, uma associação eucarística ou uma comunidade paroquial, e que são ocasião de

numerosas expressões de piedade eucarística (cf. Diretório, 165).

- cada um de nós tem sua criatividade; são inúmeras as formas que nos ajudarão a adorar profunda e

respeitosamente a Jesus Eucarístico; diversos são os instrumentos que podemos usar para nos

ajudarem a rezar com eficácia diante do Santíssimo; temos a Bíblia, especialmente os Salmos, o

rosário é um valioso e eficaz instrumento para nossa adoração, existe ainda uma infinidade de livros

de orações; mas nunca nos esqueçamos de que se faz muito importante o silêncio; a oração

silenciosa e contemplativa é de um valor sem medida; precisamos resgatar o silêncio em nossas

adorações eucarísticas; nós precisamos aprender a cultivar o silêncio que nos leva às profundezas do

ser, onde podemos realmente ter um encontro alegre e salvífico com o Senhor.

1.5. QUAIS OS BENEFÍCIOS E EFEITOS DA ADORAÇÃO AO SANTÍSSIMO

SACRAMENTO?

Adorar Jesus no Santíssimo Sacramento, além de nos encher de alegria, também sentimos

amadurecer nossa união com Ele; somos mais livremente conduzidos à celebração da Eucaristia e

saudavelmente crescemos no amor a Deus e ao próximo. Em outras palavras, essa relação pessoal

com o Senhor favorece um contínuo crescimento na fé e prolonga a graça do Sacrifício Eucarístico

celebrado especialmente no Domingo(Dies Domini). A Eucaristia estimula à conversão e purifica o

coração. Reaviva nosso coração e nos impulsiona à celebração da Missa Dominical. O ato de adorar

Jesus no Santíssimo Sacramento nos aproxima de Deus Pai, abre nosso coração para a ação do

Espírito Santo, faz arder nosso coração quando lemos as Escrituras, especialmente os Santos

Evangelhos, impulsiona-nos para irmos ao encontro dos irmãos, especialmente os mais

necessitados, firma-nos como discípulos e nos faz ardorosos missionários. Nosso “encontro com o

Senhor, presente na Eucaristia, amadurece também a missão social, que está encerrada na Eucaristia

e deseja romper as barreiras não apenas entre o Senhor e nós mesmos, mas também e, sobretudo, as

barreiras que nos separam uns dos outros”(Bento XVI). A adoração ao Santíssimo Sacramento

purifica e alimenta a comunhão entre os esposos; tonifica o ministério dos Pastores da Igreja e a

docilidade dos fiéis ao seu magistério; os enfermos experimentam a comunhão com o sofrimento de

Cristo; todos se sentem motivados a buscar a reconciliação sacramental para poderem comungar

com proveito; a comunhão e a unidade são garantidas entre os múltiplos carismas, funções,

serviços, grupos e movimentos no seio da Igreja; todas as pessoas empenhadas nas diversas

atividades, serviços e associações de uma paróquia, são identificadas por atitudes pautadas pelos

valores do Evangelho e por uma espiritualidade de comunhão; e ainda, a adoração ao Santíssimo

sustenta as relações de paz, de entendimento e de concórdia na cidade terrena, entre todos os seres

humanos. “Prostrando-nos diante da Eucaristia, aprenderemos de maneira certa o que significa

comunhão, cultura do diálogo, vida solidária, serviço aos mais necessitados e respeito à dignidade

humana. Graças à iniciativa do Senhor que quis permanecer conosco podemos aprender dele as

melhores lições. A busca incessante de muitos homens de hoje em responder às suas grandes perguntas não pode ser desvinculada da fé que nos faz prostrar diante de Jesus “simples” (DIEGO TALES).

Portanto, “Permaneçamos longamente prostrados diante de Jesus presente na Eucaristia, reparando

com a nossa fé e o nosso amor os descuidos, os esquecimentos e até os ultrajes que nosso Salvador

deve sofrer em tantas partes do mundo” (Mane Nobiscum Domine, n.18). No Documento para o

Ano da Eucaristia, Nº 6, encontramos este salutar ensinamento: “A Eucaristia nos torna santos, e

não pode existir santidade que não esteja encarnada na vida eucarística. “Quem come a minha carne

viverá por mim” (Jo 6, 57).

1.6. QUAIS OS PREJUÍZOS QUANDO NÃO PRATICAMOS A ADORAÇÃO AO

SANTÍSSIMO SACRAMENTO?

Segundo o Papa Bento XVI, “pecaríamos se não adorássemos” o Santíssimo Sacramento. Diante de

Jesus Sacramentado encontramos refúgio, alento, renovação de nossas forças desgastadas pelos

inúmeros trabalhos e preocupações. Se deixarmos de procurar Jesus no Santíssimo Sacramento não

estamos em comunhão com Ele que se entrega totalmente a nós na celebração da Missa. Não

praticar a adoração ao Santíssimo Sacramento pode significar que Jesus não está em primeiro lugar

em nossa vida. E se Ele não ocupa o primeiro lugar em nossa vida, estamos em dificuldades, pois

“sem Ele nada podemos fazer”(Jo 15, 5); sem Jesus deixamos de produzir frutos, ou seja, virtudes,

atos de amor, e se não somos virtuosos ou não praticamos atos de amor, tornamo-nos perigosos para

nós mesmos e para os que conosco convivem. Sem Jesus falamos o que não convém, o que não

edifica; fazemos coisas que impedem nosso crescimento no Reino de Deus e, conseqüentemente,

nossa comunhão com Deus e com os irmãos fica comprometida. Sem adoração a Jesus no

Santíssimo Sacramento perdemos muitas graças, muitas bênçãos; e, ainda, não contribuímos para

que o Reino de Deus cresça, para que os pecadores se convertam, para que a paz, que é fruto da

justiça, reine em nossos corações, em nossos lares, em nossas comunidades, em nossa sociedade e

no mundo. Os prejuízos seriam muitos. Poderíamos identificá-los com o que encontramos em Jo 15,

se não permanecermos unidos a Jesus. E é dEle mesmo que escutamos este apelo “sem mim nada

podeis fazer”(Jo 15, 5).

1.7. QUAL A REGULARIDADE PARA PRATICAR A ADORAÇÃO AO SANTÍSSIMO

SACRAMENTO?

Felizmente não existe limite. Sempre que tenhamos tempo disponível e Igreja ou Oratório por perto,

aproveitemos para fazer uma visita ao Senhor presente no Santíssimo Sacramento. Especialmente

busquemos a Jesus sacramentado antes da Missa Dominical, ou ainda, quando estivermos passando

por uma Igreja ou Oratório, sintamo-nos livres para irmos ao encontro do senhor que alegremente

nos aguarda no Sacrário para nos acolher e derramar sobre nós suas graças, seu carinho e seu amor.

Quanto mais permanecemos ao lado de quem nos ama mais nos sentimos amados. Quanto mais

perto de Jesus no Santíssimo Sacramento, mais nos sentimos amados por ele, e, consequentemente,

mais nos sentimos impelidos a amar nossos semelhantes. Segundo Bento XVI “É bom demorar-se

com Ele e, inclinado sobre o seu peito como o discípulo predileto(cf. Jo 13, 25), deixar-se tocar pelo

amor infinito do seu coração. Se atualmente o cristianismo se deve caracterizar sobretudo pela «arte

da oração», como não sentir de novo a necessidade de permanecer longamente, em diálogo

espiritual, adoração silenciosa, atitude de amor, diante de Cristo presente no Santíssimo

Sacramento? Quantas vezes, meus queridos irmãos e irmãs, fiz esta experiência, recebendo dela

força, consolação, apoio!”. Sigamos o exemplo de tantos santos e santas que “na Eucaristia

encontraram o alimento para o seu caminho de perfeição. Quantas vezes eles verteram lágrimas de

comoção na experiência de tão grande mistério e viveram indizíveis horas de alegria ‘esponsal’

diante do Sacramento do altar”.(Mane Nobiscum Domine, n.31). Daí que, ainda neste mesmo

Documento, somos assim motivados: “A presença de Jesus no tabernáculo deve constituir como que

um pólo de atração para um número sempre maior de almas apaixonadas por Ele, capazes de ficar

longo tempo escutando a voz e quase que sentindo o palpitar do coração”(Mane Nobiscum Domine,

n. 18). Neste mesmo documento, no nº 30, dirigindo-se especialmente aos consagrados e

consagradas, João Paulo II faz um veemente convite dizendo “Jesus no Sacrário espera por vós

junto d'Ele, para derramar nos vossos corações aquela experiência íntima da sua amizade que é a

única que pode dar sentido e plenitude à vossa vida”. Acolhamos nós também esse amável convite e

não hesitemos em correr ao encontro do Senhor para permanecermos em oração diante d’Ele.

1.8. QUEM PODE E QUEM DEVE PRATICAR A ADORAÇÃO AO SANTÍSSIMO

SACRAMENTO?

Podem e devem praticar a adoração ao Santíssimo Sacramento todos os que acreditam na presença

real de Jesus na Santíssima Eucaristia e querem viver uma experiência de intimidade com o Senhor

ressuscitado. A adoração eucarística é um prolongamento da celebração da Missa, de tal forma, que

ficará faltando alguma coisa para quem realiza sua adoração e não participa da Missa,

especialmente aos Domingos, pois “A celebração eucarística é, com efeito, o coração do Domingo”.

Poderíamos dizer, então, que somente quem celebra o Domingo, com sua participação na

celebração da Missa, pode realmente adorar o Senhor no Santíssimo Sacramento, a não ser que se

esteja impedido, por algum motivo, de participar da celebração dominical. A adoração eucarística é

um exercício espiritual, pessoal ou comunitário, que nasce da celebração do memorial da Páscoa do

Senhor, a Santa Missa, e a este mistério o adorador deve ser conduzido. Então, podemos afirmar

que “o verdadeiro adorador é alguém que participa plenamente da Ceia do Senhor, onde recebe o

Pão da Vida e o toma do Cálice da Salvação. Ele consegue, na prece silenciosa diante da Eucaristia,

fazer passar pelo coração (recordar) as maravilhas de Deus. É alguém que ama verdadeiramente a

sua comunidade eclesial e que não recusa jamais o serviço aos irmãos e irmãs, prolongando, assim,

a Eucaristia na vida”. O verdadeiro adorador busca profeticamente construir a comunhão e a

unidade na comunidade onde vive e desenvolve sua fé. Quem pratica com devoção e humildade a

adoração ao Santíssimo Sacramento vive como os primeiros cristãos, como está registrado no livro

dos Atos dos Apóstolos, que eram assíduos à oração, com Maria, mãe de Jesus. E que “Unidos de

coração freqüentavam todos os dias o templo”(cf. At 1, 14; 2, 46).



A ORAÇÃO

Pe. Luiz Fernando

Reitor do Seminário Cristo Ressuscitado – Curitiba – Pr.



2.1. SEGUNDO A BÍBLIA O QUE DEUS NOS FALA SOBRE A ORAÇÃO?

Na perspectiva do Antigo Testamento, segundo o Catecismo da Igreja, a

oração é vista, nas primeiras passagens bíblicas, como um modo concreto e bonito de

relacionamento com Deus que se mostra mediante a apresentação de oferendas a Deus, ou pela

invocação do nome de Deus, ou ainda como uma caminhada com Deus. À luz dos relatos

bíblicos, que nos narram diversas experiências espirituais dos grandes homens de Deus,

encontraremos várias noções que nos levam a entender o que seja a oração. No chamamento de

Abraão e na sua resposta a Deus, a oração se expressa como uma escuta atenta e silenciosa do

coração à voz de Deus e como uma resposta concreta na obediência a Ele, (obediência significa

em latim, ouvir com atenção), buscando realizar a vontade de Deus, por meio de ações

concretas, e que por sua vez requer como fundamento único o dom da fé na fidelidade de Deus.

“A oração restaura o homem a semelhança de Deus e o faz participar do poder do amor de Deus

que salva a multidão”. Na experiência de Jacó a oração pode ser definida como o combate da fé

e como a vitória da perseverança. Na profunda experiência de Moisés a oração revela sua

dimensão de intercessão, de diálogo com Deus, que por primeiro vem ao seu encontro,

revelando sua mais bela face, a da contemplação, pois Moisés falava com Deus face a face.

Neste âmbito a oração se apresenta como um encontro íntimo com Deus. Por sua vez em Davi a

oração adquire um rosto novo, de louvor e ação de graças, expressando sua adesão fiel, sua

confiança e alegria no Senhor. Já na experiência espiritual dos Profetas a oração é revelada

como uma escuta e fidelidade a Palavra de Deus, que impulsiona as específicas missões de falar

em nome de Deus. E os salmos são a própria Palavra de Deus que se faz oração, pessoal e

comunitária, ensinando-nos a orar sempre, em todas as circunstâncias da vida, se caracterizando

pela simplicidade e espontaneidade num contínuo desejo de Deus, aqui a oração reflete a

vivência da fé nos diversos acontecimentos da nossa vida.

Na perspectiva do Novo Testamento, com a manifestação do Filho de Deus, a

oração encontra sua plena revelação em Jesus, que reza com seu coração humano, sendo um

coração de Filho. Desse modo a oração possui uma novidade: a oração se manifesta como

oração filial, como um encontro com o Pai. Jesus sendo um homem de oração nos mostra toda a

força da oração, e sua importância na vida humana e nos seus momentos decisivos

configurando-se segundo o testemunho de Jesus: como uma entrega humilde e confiante a

vontade amorosa do Pai, como uma adesão amorosa do coração ao mistério da vontade do Pai,

como uma ação de graças, que deve vir por primeiro.

Nos Evangelhos Jesus deixa seu ensinamento sobre a oração, que deve ser

assim compreendida: como um encontro filial com o Pai, movido pelo Espírito Santo, que nasce

de um coração humilde e reconciliado com todos, fruto de uma fé viva, e em constante

vigilância. A oração, em sua própria essência, requer algumas propriedades: primeiro a

persistência; depois a paciência e por fim a humildade. A grande novidade que Jesus nos traz,

mediante a sua encarnação, é esta: a oração dos discípulos deve ser feita, “em seu Nome”, pois

Ele é o caminho, a verdade e a vida, nosso Intercessor diante do Pai. E por fim no Magnificat

aprendemos de Maria qual a finalidade última da oração cristã: a união com Deus, nossa

comunhão com Ele, “ser todo dele porque Ele é todo nosso”.





2.2. COMO PREPARAR PARA A ORAÇÃO?

Para uma boa oração necessitamos estar atentos para algumas condições

prévias que nos ajudam a viver a oração como uma experiência de encontro com Deus, ou seja,

para uma oração profunda e verdadeira necessitamos de uma preparação, que servirá de apoio e

ajuda para que a oração flua em intimidade e profundidade.

a. Disposição interior: vai-se para a oração não apenas para cumprir um dever ou para encarar

algo difícil ou inútil, mas para dialogar com o Pai, para um encontro de amor, procurando

ouvir o Espírito Santo e aprender com Ele; por isso a primeira exigência é entrar num clima

de oração, com um coração que tenha desejo de Deus e de sua Palavra.

b. Escolher um bom lugar, onde possa rezar melhor, que ajude a viver o clima de oração:

assim como Jesus se retirava para lugares específicos como o deserto, a montanha, também

nós precisamos ficar a sós com Deus, e o lugar deve ser propício para isso.

c. Tempo: É indispensável se preparar para a oração definindo um horário do dia que seja

mais favorável a sua oração, fixando um tempo determinado para isso, e procurando ser fiel

a Ele, pois Jesus se levantava de madrugada para rezar, e passava mesmo a noite inteira em

oração ( Lc 6, 12; Mc 1, 35 ).

d. Posição do corpo: Encontrar a uma boa posição física, o que não significa a mais cômoda,

que facilite a concentração e possibilite que a oração flua com naturalidade, evitando assim

que se perca o foco e o ritmo da oração.

e. Serenidade Interior: Quando se está agitado emocionalmente e com um coração inquieto e

perturbado a oração encontrará maior dificuldade de acontecer com fluidez e profundidade,

por isso se requer dispor o coração na paz, acalmar as paixões, esvaziar-se das preocupações

da vida, entregando-se pela fé ao Senhor Jesus e clamando a graça do Espírito Santo para o

apaziguamento do coração.

f. Silêncio Exterior: Em meio a tanto barulho, que muitas vezes independe de nossa vontade,

sendo externo a nós, requer uma capacidade interior de desligar-se, evitando prestar atenção

ao barulho, não se incomodando com ele, mudando o foco de sua atenção para o que se está

disposto a vivenciar naquele momento da oração, como nos diz frei Clodovis : o ruído já não

mais incomoda por dentro, embora persista por fora.

g. Silêncio Interior: Aqui se deve buscar o recolhimento, como encontro consigo mesmo,

visando voltar-se para si mesmo, livrando-se do que possa tirar o foco do diálogo com Deus,

não mais daquilo que é exterior, mas agora das agitações interiores. “Pois como Deus poderá

preencher seu coração com sua presença, se você está entulhado de tantas coisas”. Só uma

mente recolhida e tranqüila dialoga com Deus, assim é preciso esvaziar a cabeça,

tranqüilizar o coração, focar-se em Deus.

h. Dar-se conta do valor e da importância da Oração: Eis um princípio básico para começar

e perseverar na oração, reconhecendo que isto é fundamental para minha vida, assim como o

ar que eu respiro. Não se faz aquilo que não se julga importante. Por isso devo antes de tudo

tomar consciência daquilo que vou fazer quando estou a orar: vou realizar para um encontro

de fé com o Pai, que me atrai ao seu amor, mesmo quando eu não venho a sentir esse amor,

mas poderei perceber que isso é verdade; e que o mais importante é: unir-me a Deus, pois

esta é a finalidade da oração, independente se sinto sua presença ou não.

i. Pedir a presença do Espírito Santo: Esta exigência é peculiar a longa tradição da Igreja,

uma vez que o Espírito é o doce hóspede da alma e o nosso Mestre Interior, somente sob sua

moção podemos viver bem nossa oração pessoal, sendo por ele iluminado neste desejo de

profunda união com nosso Salvador e Senhor Jesus Cristo.



QUAIS OS BENEFÍCIOS E EFEITOS DA ORAÇÃO?

A oração pessoal possibilita aquele que reza com fé e com perseverança, pois

neste assunto não há imediatismo nem mágicas, e para tanto requer persistência e fidelidade,

angariar no âmbito humano, como nos ensina frei Clodovis, quem reza e medita adquire uma

identidade mais sólida. Ganha em auto-realização, vê mais sentido nas coisas, percebe mais

encanto em seu mundo, sente-se mais cheio de serenidade, equilíbrio e felicidade interior, cresce

sua sensibilidade aos valores profundos da vida, e mais ainda, a oração ajuda a recuperar a

saúde, protege contra a perda da harmonia interior, propiciando autocontrole e serenidade do

coração, e permite enfrentar os problemas da vida com melhores chances de sucesso.

Por sua vez no âmbito espiritual a oração gera uma confiança filial em Deus,

de quem tudo recebemos, nos impulsiona a uma fé mais viva, ao mesmo tempo que dela

procede, fortalece nossa vontade na busca pela santidade de vida, nos leva a uma experiência

mais profunda do amor de Deus, faz iniciar em nós um processo contínuo de cura interior, assim

como vai sedimentando em nosso coração as virtudes cristãs, e opera a libertação interior dos

vícios e de seu enraizamento em nossas estruturas humanas. Uma vez que não podemos dizer

Jesus é o Senhor senão pela moção do Espírito Santo, como nos ensina o Catecismo: “cada vez

que começamos a orar a Jesus é o Espírito Santo que, por sua graça preveniente, nos atrai ao

caminho da oração”, assim sendo, o Espírito Santo é o nosso Mestre interior que move nossa

oração, que derramado aumenta em nós os seus dons. E desejamos acrescentar o fruto por

excelência da oração cristã que nos faz experienciar a graça da salvação que Jesus veio trazer a

todos os que nEle crer, pois quem nele crê possui a vida eterna.

QUAIS OS PREJUÍZOS QUANDO NÃO SE TEM A ORAÇÃO PESSOAL?

Por conseguinte aquele que não reza se priva de todos esses benefícios

espirituais e humanos. Uma vez que a oração nos leva a um encontro com Deus e consigo

mesmo, quem não encontra a Deus também acaba por perder a si mesmo. A falta de oração

deixa o coração fragilizado diante das angústias e problemas da vida. No livro de Jó temos um

testemunho de como a oração é fonte de fortaleza da alma e de firmeza da fé diante das diversas

tragédias que podem acontecer nesta vida. Sem a oração o homem perde o sentido maior desta

vida, e de sua transcendência na direção de Deus. Uma vez que orar é sempre possível, aquele

que não reza perde a oportunidade de direcionar sua vida e os acontecimentos a sua volta,

mesmo os mais trágicos, para Deus e nEle viver a dimensão da aceitação, mesmo quando não é

possível compreende-los. A falta de oração enfraquece a alma humana, e a pessoa que deixa de

rezar se torna mais sujeita a perder o auto-domínio de si mesmo e de seus impulsos, assim quem

não ora se torna mais propenso ao pecado. É muito clara a exortação do Catecismo nº. 2774: “Se

não nos deixarmos levar pelo Espírito, cairemos de novo na escravidão do pecado”. Aquele que

não possui uma vida de oração pessoal certamente se torna mais aberto às seduções desse

mundo e às tentações do mal. Como nos diz Santo Afonso Maria de Ligório: “Quem reza

certamente se salva; quem não reza certamente se condena”. E São João Crisóstomo nos ensina

algo similar: “É impossível que caia em pecado o homem que reza”, o que equivale a dizer que

quem não reza facilmente acabará pecando.



COMO DEVE SER A ORAÇÃO PESSOAL?

A oração pessoal deve antes de tudo ser pessoal, onde cada pessoa encontrará

seu próprio caminho na oração sendo guiado pelo Espírito Santo e norteado pelos ensinamentos

profundos que a Igreja nos deixou em sua riquíssima Tradição, a partir das diversas experiências

dos grandes santos e santas da Igreja. Cada um deve encontrar seu método de Oração Pessoal, e

a forma de oração pelo qual vai se identificando, passando pela Oração Vocal, de louvor e de

intercessão, adentrando nos esquemas místicos da meditação e da contemplação, como oração

mental, e perpassando pela Lectio Divina, leitura orante da Bíblia, ou pela Oração dos Salmos,

Liturgia das Horas, ou ainda pela Oração do Santo Terço, como devoção mariana, ou passando

pela invocação do nome de Jesus, mediante diversas jaculatórias, sendo que todas elas devem

convergir para o sentido último de nossa vida: a adoração.

O importante é encontrar-se naquela forma de oração que mais o identifica

com sua realidade existencial e com seus desejos espirituais de encontro com Deus; assim como

deve se priorizar antes de tudo a fidelidade à oração pessoal, na busca da união com Deus, e não

simplesmente de sentir a Deus, pois sentir Deus não depende de nós, isto é graça, dom gratuito,

que Deus concede a quem quiser e quando desejar, mas o buscar a Deus, isso depende da minha

vontade. “Contudo o sentir Deus não é ainda o principal na vida espiritual. O principal está em

querer a Deus por si mesmo. Pois o sentir Deus não está sempre ao nosso alcance, enquanto o

querer Deus sim”, nos alerta frei Clodovis.

A oração pessoal deve concretizar o pedido de Jesus: “Orai sem cessar”, em

todas as circunstâncias da vida, o que equivale a dizer que todas as circunstâncias, todos os

acontecimentos são meios pelos quais podemos fazê-los oração, aqui vida e oração se

encontram, ambas se cruzam, a vida se faz oração, e oração se faz nossa vida. Adorar a Deus em

espírito e em verdade, este é o ideal proposto por Jesus. Comentando esta passagem Monsenhor

Jonas Abib ensinava que esta adoração a Deus dever ser feita no Espírito, que clama em nós

Abba Pai, e em verdade, na verdade de nossa vida, com tudo aquilo que estamos passando em

nossa realidade existencial e espiritual, do contrário nossa oração corre o risco de ser mentirosa.

A oração pessoal deve ser fruto do nosso amor a Deus, pois onde o não há

amor tudo se torna insignificante, já nos dizia Santa Terezinha: Nada é pequeno onde o amor é

grande, como também deve ser expressão de um compromisso de vida, algo de fato vital para

nós, sem a qual a vida perde sentido, uma vez que sem esse comprometimento com Deus e

fidelidade perseverante à oração pessoal corremos o risco de um não progredir na fé, de

paralisar nosso crescimento espiritual, e assim não chegarmos à plena estatura do Cristo, como

meta de toda vida cristã, segundo nos propõe São Paulo.



RECONCILIAÇÃO

Sacramento da misericórdia de Deus

Pe. Ednilson de Jesus, MIC

Reitor do Santuário da Divina Misericórdia - Curitiba



INTRODUÇÃO:

Cresce cada vez mais na consciência dos cristãos a necessidade de viver na graça de Deus.

Sabemos pela Palavra de Deus, que a única coisa que pode nos afastar do amor de Deus é o pecado,

pois o pecado é desobediência a Deus, afastamento de Deus, desejo humano de ser “como deuses”,

conhecendo e determinando o bem e o mal (Gn 3,5). Mas, a misericórdia infinita de Deus não recua

diante do nosso pecado: Deus não nos rejeita, mesmo quando voltamos às costas para Ele. Como o

pastor que vai atrás da ovelha perdida (Lc 15, 1-7), Deus vai ao nosso encontro, não para condenar,

não para punir ou acertar as contas, mas para salvar e amar. Nisso reside o mistério da misericórdia

divina.

Como nos ensina o Catecismo (n. 1846), “o Evangelho é a revelação, em Jesus Cristo, da

misericórdia de Deus para com os pecadores”. Desde o anúncio da vinda de Jesus, já se destaca sua

tarefa de reconciliador entre Deus e os homens. Lemos no início do Evangelho de São Mateus o que

o anjo disse a José: “Por-lhe-ás o nome de Jesus, porque Ele salvará o seu povo dos seus pecados”

(Mt 1, 21).

Queremos propor neste artigo elementos para um aprofundamento da reflexão sobre o

sacramento da reconciliação, a fim de que você e eu possamos nos aproximar ainda mais de Deus

pela vivência desse sinal visível e extraordinário de sua infinita misericórdia. Pautamo-nos,

sobretudo, pela Palavra de Deus e pelo Catecismo da Igreja Católica, cujas referências estão aqui

apresentadas para favorecer seu estudo pessoal do tema.

3.1. O QUE A IGREJA FALA SOBRE A RECONCILIAÇÃO.

O Catecismo da Igreja Católica é, sem dúvida, a grande referência da palavra da Igreja sobre

as verdades da fé, incluindo o sacramento da reconciliação. Ele faz alusão a outros textos

importantes do magistério da Igreja (os escritos dos papas, documentos do Concílio Vaticano II,

etc).

A reconciliação deve ser compreendida à luz do ensinamento da Igreja sobre o pecado.

Convido você a dedicar algum tempo para estudar o que o Catecismo nos ensina sobre este tema (n.

1846-1876). A melhor síntese do que é o pecado foi descrita por Santo Agostinho, que escreveu: “O

pecado é amor de si mesmo até ao desprezo de Deus”. Santo Agostinho, sem dúvida, viveu a

experiência do pecado e da misericórdia, como nos relata em suas Confissões. Por isso, ele é aqui

citado diversas vezes, como uma referência pessoal, mas também como o maior representante da

tradição patrística da Igreja.

Onde o pecado manifestou toda sua força e violência? O Catecismo responde a esta pergunta

dizendo:

“É precisamente na paixão, em que a misericórdia de Cristo o vai vencer, que o pecado

manifesta melhor a sua violência e a sua multiplicidade: incredulidade, ódio assassino,

rejeição e escárnio por parte dos chefes e do povo, cobardia de Pilatos e crueldade dos

soldados, traição de Judas tão dura para Jesus, negação de Pedro e abandono dos

discípulos. No entanto, mesmo na hora das trevas e do príncipe deste mundo, o sacrifício

de Cristo torna-se secretamente a fonte de onde brotará, inesgotável, o perdão dos nossos

pecados” (Catecismo, n. 1851).

O Concílio Vaticano II nos ensina que a reconciliação tem um duplo sentido: em primeiro

lugar, refere-se ao nosso reencontro com Deus; em segundo lugar, significa também nossa

reconciliação com a Igreja: “Aqueles que se aproximam do sacramento da Penitência obtêm da

misericórdia de Deus o perdão da ofensa a Ele feita e, ao mesmo tempo, são reconciliados com a

Igreja, que tinham ferido com o seu pecado, a qual, pela caridade, exemplo e oração, trabalha pela

sua conversão” (LG, 11).

O Catecismo reforça este ensinamento, quando escreve:

“O pecado é, antes de mais, ofensa a Deus, ruptura da comunhão com Ele. Ao mesmo

tempo, é um atentado contra a comunhão com a Igreja. É por isso que a conversão traz

consigo, ao mesmo tempo, o perdão de Deus e a reconciliação com a Igreja, o que é

expresso e realizado liturgicamente pelo sacramento da Penitência e Reconciliação”

(Catecismo, n. 1440).

Chamamos a atenção para o uso que a Igreja faz de diferentes nomes para esse sacramento.

Cada um deles indica uma direção diferente, que não se opõem nem se excluem, mas se

complementam. Cada um deles mostra uma ênfase distinta, como as várias faces de um diamante:

1) a penitência acena mais para o sacrifício, a pena, a expiação do pecado; ela

“consagra um esforço pessoal e eclesial de conversão, de arrependimento e de satisfação do

cristão pecador” (Catecismo, n. 1423);

2) a confissão indica mais a atitude de assumir publicamente nossos erros e de

tomarmos consciência de nossa responsabilidade; a Igreja declara que “a confissão dos

pecados diante de um sacerdote é um elemento essencial desse sacramento” (Catecismo,1424);

3) chama-se também sacramento do perdão, pois por meio dele Deus nos concede “o

perdão e a paz”, como reza a fórmula da absolvição;

4) por fim, é o sacramento da reconciliação que melhor explica a natureza e o

mistério desse sacramento: por ele, desfazemos o abismo que nos separou de Deus, reatamos

o nó que nos liga a Deus, voltamos à amizade e à convivência com Deus, como Jesus

mostrou pela parábola do filho pródigo (Lc 15, 11-32) e cumprimos aquilo que o Apóstolo

Paulo nos ensina: “Reconciliai-vos com Deus” (2Cor 5,20).

A Igreja também nos convida a observar os tempos propícios à conversão ao longo do ano

litúrgico:

Os tempos e os dias de penitência no decorrer do Ano Litúrgico (tempo da Quaresma,

cada sexta-feira em memória da morte do Senhor) são momentos fortes da prática

penitencial da Igreja. Estes tempos são particularmente apropriados para os exercícios

espirituais, as liturgias penitenciais, as peregrinações em sinal de penitência, as

privações voluntárias como o jejum e a esmola, a partilha fraterna (obras caritativas e

missionárias)” (Catecismo, n. 1438).



SEGUNDO A BÍBLIA O QUE DEUS NOS FALA SOBRE A RECONCILIAÇÃO.

Do Gênesis ao Apocalipse reconhecemos as linhas da história da salvação, onde o Deus-

Amor quer estabelecer os vínculos com sua criatura “feita à sua imagem” e amada com amor de

predileção. Embora não possamos nos deter exaustivamente aqui em analisar toda a tradição

bíblica, vamos acenar para alguns pontos.

A Palavra de Deus revela a condição humana, na qual todos somos pecadores: “Se

dissermos que não temos pecado, enganamo-nos a nós mesmos, e a verdade não está em nós” (1 Jo

1, 8). Todo o Antigo testamento é uma expressão viva do amor de Deus que quer restabelecer a

Aliança, tantas vezes destruída pela nossa infidelidade.

Em Jesus, contudo, o coração misericordioso do Pai se derrama em amor e compaixão pelos

homens. Mas, Deus não nos força a aceitar a redenção. Por isso, Jesus nos convida à conversão: “O

tempo chegou ao seu termo, o Reino de Deus está próximo: convertei-vos e acreditai na boa-nova”

(Mc 1,15). A conversão é, pois, uma atitude pessoal que deve nascer do amor a Deus despertado

pelo Seu Amor por nós. É Deus, pois, que com Seu Amor nos ajuda a dar o passo da conversão: a

conversão, assim, também é dom de Deus operado em nós, como expressa o livro das Lamentações

“Convertei-nos, Senhor, e seremos convertidos” (Lm 5, 21).

Jesus nos ensinou a rezar pedindo perdão a Deus: “Perdoai-nos as nossas ofensas” (Lc 11, 4)

e mostrou que só Deus perdoa os pecados (Mc 2,7). Mas, mostrou também que o Filho do Homem

tem poder de perdoar os pecados (Mc 2,10) e Jesus exerce este poder: “Teus pecados estão

perdoados” (Mc 2,5; Lc 7,48).

Em virtude de sua autoridade divina, Jesus transmite o poder de perdoar os pecados aos

homens, para que o exerçam em seu nome (Jo 20, 21-23 e Catecismo, n. 1441). Jesus “confiou o

exercício do poder de absolvição ao ministério apostólico. É este que está encarregado do

‘ministério da reconciliação’ (2Cor 5, 18). O apóstolo é enviado ‘em nome de Cristo’ e ‘é o próprio

Deus’ que, através dele, exorta e suplica: ‘Deixai-vos reconciliar com Deus’ (2Cor 5, 20)”

(Catecismo, n. 1442).

E ainda diz o Catecismo:

“Ao tornar os Apóstolos participantes do seu próprio poder de perdoar os pecados, o

Senhor dá-lhes também autoridade para reconciliar os pecadores com a Igreja. Esta

dimensão eclesial do seu ministério exprime-se, nomeadamente, na palavra solene de

Cristo a Simão Pedro: ‘Dar-te-ei as chaves do Reino dos céus; tudo o que ligares na terra

ficará ligado nos céus, e tudo o que desligares na terra ficará desligado nos céus’ (Mt 16,

19). Este mesmo encargo de ligar e desligar, conferido a Pedro, foi também atribuído ao

colégio dos Apóstolos unidos à sua cabeça (Mt 18,18; 28, 16-20)” (Catecismo, n. 1444).

A Palavra de Deus também nos ensina que é o Espírito Santo quem nos convence a respeito

do pecado (Jo 16, 8-9). O Espírito Santo “dá ao coração do homem a graça do arrependimento e da

conversão” (Catecismo, n. 1433 e At 2,36-38). São Paulo afirma, pois: “Vós fostes lavados, fostes

santificados, fostes justificados pelo nome do Senhor Jesus Cristo e pelo Espírito do nosso Deus”

(1Cor 6, 11).

A Bíblia ainda revela que a Eucaristia também é sinal da misericórdia de Deus que se

derrama sobre nós, pecadores: “Isto é o meu sangue, o sangue da Aliança, que é derramado por

muitos para a remissão dos pecados” (Mt 26,28), são as palavras de Jesus repetidas no rito

eucarístico da consagração. Recordando o ensinamento do Concílio de Trento, o Catecismo nos diz

que a Eucaristia “é o antídoto que nos livra das faltas quotidianas e nos preserva dos pecados

mortais” (Catecismo, n. 1436).

Iluminados pela Palavra de Deus, devemos nos esforçar para sermos “santos e imaculados

na sua presença” (Ef 1, 4). Devemos viver o amor e a misericórdia, como resposta ao amor e à

misericórdia que Deus tem por nós, pois só o amor “cobre uma multidão de pecados” (1Pe 4, 8).

COMO PREPARAR-SE PARA O SACRAMENTO DA RECONCILIAÇÃO.

A preparação para o sacramento da reconciliação começa pelo exame de consciência, pelo

qual revemos nossas ações, pensamentos e atitudes e os comparamos com aquilo que Deus quer. A

vontade de Deus e seus mandamentos devem ser a nossa referência de vida e, portanto, a baliza de

nosso exame de consciência. Deus respeita nossa consciência, Ele não nos invade, mas nos convida

a nós mesmos reconhecermos nossa pequenez e limitação, derramando nossa alma na presença do

Senhor (1Sm 1,15).

O exame de consciência leva ao arrependimento sincero ou contrição. Quando percebo que

minhas atitudes e ações não correspondem ao que Deus quer, o Amor de Deus acende em nós

aquela saudade de viver perto de Deus. É esta saudade de Deus que nos leva ao arrependimento.

Vale a pena rezar o Salmo 50, para compreender a dinâmica de um coração arrependido.

Acima de tudo, o exame de consciência e o arrependimento devem estar assentados numa

atitude interior, como nos ensina o Catecismo:

“Como já acontecia com os profetas, o apelo de Jesus à conversão e à penitência não

visa primariamente as obras exteriores, ‘o saco e a cinza’, os jejuns e as mortificações,

mas a conversão do coração, a penitência interior: Sem ela, as obras de penitência são

estéreis e enganadoras; pelo contrário, a conversão interior impele à expressão dessa

atitude cm sinais visíveis, gestos e obras de penitência” (Catecismo, n. 1430).

Portanto, “a conversão é, antes de mais, obra da graça de Deus, a qual faz com que os nossos

corações se voltem para Ele” (Catecismo, n. 1431). Esta disposição de voltar-se para Deus constitui

o elemento fundamental da preparação para a confissão.

A IGREJA ADOTA A CONFISSÃO COMUNITÁRIA?

Sobre este ponto, de particular atenção, vejamos o que nos diz a Igreja:

“A confissão individual e íntegra e a absolvição constituem o único modo ordinário pelo

qual o fiel, consciente de pecado grave, se reconcilia com Deus e com a Igreja: somente

a impossibilidade física ou moral o escusa desta forma de confissão. Há razões

profundas para que assim seja. Cristo age em cada um dos sacramentos. Ele dirige-Se

pessoalmente a cada um dos pecadores: ‘Meu filho, os teus pecados são-te perdoados’

(Mc 2, 5); Ele é o médico que Se inclina sobre cada um dos doentes com necessidade

d'Ele para os curar: alivia-os e reintegra-os na comunhão fraterna. A confissão pessoal é,

pois, a forma mais significativa da reconciliação com Deus e com a Igreja” (Catecismo,

n. 1484).

Contudo, a Igreja também reconhece a necessidade da confissão com absolvição geral.

Vejamos o texto do Catecismo a este respeito:

“Em casos de grave necessidade, pode-se recorrer à celebração comunitária da

reconciliação, com confissão geral e absolvição geral. Tal necessidade grave pode

ocorrer quando há perigo iminente de morte, sem que o sacerdote ou os sacerdotes

tenham tempo suficiente para ouvir a confissão de cada penitente. A necessidade grave

pode existir também quando, tendo em conta o número dos penitentes, não há

confessores bastantes para ouvir devidamente as confissões individuais num tempo

razoável, de modo que os penitentes, sem culpa sua, se vejam privados, durante muito

tempo, da graça sacramental ou da sagrada Comunhão. Neste caso, para a validade da

absolvição, os fiéis devem ter o propósito de confessar individualmente os seus pecados

graves em tempo oportuno. Pertence ao bispo diocesano julgar se as condições

requeridas para a absolvição geral existem. Uma grande afluência de fiéis, por ocasião

de grandes festas ou de peregrinações, não constitui um desses casos de grave

necessidade” (Catecismo, n. 1483).

QUAIS OS BENEFÍCIOS E EFEITOS DA CONFISSÃO?

O maior benefício da confissão é voltar a viver “de acordo com Deus”, como Santo

Agostinho escreveu:

“Aquele que confessa os seus pecados e os acusa, já está de acordo com Deus. Deus

acusa os teus pecados; se tu também os acusas, juntas-te a Deus. O homem e o pecador

são, por assim dizer, duas realidades distintas. Quando ouves falar do homem, foi Deus

que o criou: quando ouves falar do pecador, foi o próprio homem quem o fez. Destrói o

que fizeste, para que Deus salve o que fez. [...] Quando começas a detestar o que fizeste,

é então que começam as tuas boas obras, porque acusas as tuas obras más. O princípio

das obras boas é a confissão das más. Praticaste a verdade e vens à luz” (Cf. Catecismo,

n. 1458).

A confissão opera em nós duas reconciliações, o restabelecimento de dois laços: com Deus e

com a Igreja, como já dissemos, mas é preciso sublinhar novamente. De fato, “toda a eficácia da

Penitência consiste em nos restituir à graça de Deus e em unir-nos a Ele numa amizade perfeita. O

fim e o efeito deste sacramento são, pois, a reconciliação com Deus” (Catecismo, n. 1468). Por

outro lado, “este sacramento reconcilia-nos com a Igreja. O pecado abala ou rompe a comunhão

fraterna. O sacramento da Penitência repara-a ou restaura-a. Nesse sentido, não se limita apenas a

curar aquele que é restabelecido na comunhão eclesial, mas também exerce um efeito vivificante

sobre a vida da Igreja que sofreu com o pecado de um dos seus membros” (Catecismo, 1469).

QUAIS OS PREJUÍZOS QUANDO NÃO CONFESSAMOS REGULARMENTE?

O maior prejuízo da falta de confissão regular é viver longe da graça de Deus.

Comprometemos e colocamos em risco, assim, a nossa própria salvação. “Deus nos criou sem nós,

mas não quis salvar-nos sem nós” (Santo Agostinho). Por isso, sem nossa atitude livre e decidida de

recorrer ao perdão de Deus e de nos converter, Deus não pode nos salvar.

Precisamos entender que “a confissão regular dos nossos pecados veniais ajuda-nos a formar

a nossa consciência, a lutar contra as más inclinações, a deixarmo-nos curar por Cristo, a progredir

na vida do Espírito. Recebendo com maior freqüência, neste sacramento, o dom da misericórdia do

Pai, somos levados a ser misericordiosos como Ele” (Catecismo, 1458).

QUAL A REGULARIDADE DA CONFISSÃO?

A Igreja nos ensina que a confissão deve ser buscada “ao menos uma vez ao ano”

(Catecismo, n. 1457). Contudo, não devemos nos contentar com o mínimo. Jesus mesmo fala,

referindo-se à pecadora que sentou-se a seus pés na casa de Simão: “A quem muito amou, muito foi

perdoado”. Quanto mais amamos a Deus, mais somos por ele perdoados. Quanto mais recorremos

ao Seu Amor, mais Ele desce a nós e nos faz viver em comunhão com Seu Espírito. Por isso, a

Igreja também afirma que “Sem ser estritamente necessária, a confissão das faltas quotidianas

(pecados veniais) é contudo vivamente recomendada pela Igreja” (Catecismo, n. 1458).

No caso de pecados graves, no entanto, a Igreja assim ensina:

“Aquele que tem consciência de haver cometido um pecado mortal, não deve receber a

sagrada Comunhão, mesmo que tenha uma grande contrição, sem ter previamente

recebido a absolvição sacramental; a não ser que tenha um motivo grave para comungar

e não lhe seja possível encontrar-se com um confessor” (Catecismo, n. 1457).

QUEM PODE SE CONFESSAR?

Conforme a recomendação da Igreja, “todo o fiel que tenha atingido a idade da discrição,

está obrigado a confessar fielmente os pecados graves, ao menos uma vez ao ano” (Catecismo, n.

1457) e, ainda: “As crianças devem aceder ao sacramento da Penitência antes de receberem pela

primeira vez a Sagrada Comunhão” (Catecismo, n. 1457).

Há ainda um outro aspecto: a confissão deve ser buscada por aqueles cristãos que, de fato,

querem (e podem) realizar a conversão de vida. Não é lícito buscar o sacramento sem sincero

arrependimento e mudança de vida. Se eu busco o sacramento, mas não quero deixar de viver como

estava vivendo, em estado de pecado, estou abusando da graça de Deus.

3.9. CONCLUSÃO

Esta breve reflexão, evidentemente, não encerra toda a riqueza doutrinal e bíblica sobre o

sacramento da reconciliação. Oferece, contudo, algumas pistas para o aprofundamento que deve ser

feito por você e por mim.

Gostaria de encerrar convidando você a rezar e interiorizar, na unção do Espírito Santo, o

que a Igreja expressa no rito da confissão, na conhecida fórmula da absolvição. Faço votos de que

você e eu possamos viver com cada vez mais profundidade o mistério do amor misericordioso de

Deus que se desvela no sacramento da confissão.

Deus, Pai de misericórdia, que, pela morte e ressurreição de seu Filho, reconciliou o

mundo consigo e enviou o Espírito Santo para a remissão dos pecados, te conceda, pelo ministério

da Igreja, o perdão e a paz. E Eu te absolvo dos teus pecados em nome do Pai, e do Filho e do

Espírito Santo.

A BÍBLIA

Fonte de vida

Pe. Régis Bandil

Curitiba – Pr.

"Quando encontrei tuas palavras, alimentei-me; elas se tornaram para mim uma delícia e a

alegria do coração, o modo como invocar teu nome sobre mim, Senhor Deus dos exércitos."

(Jr 15,16)

4.1. O QUE A IGREJA FALA SOBRE A BÍBLIA.

A Palavra de Deus tem sido algo de profunda reflexão na Igreja Católica. Há um clamor em todas

as comunidades para que a Sagrada Escritura seja realmente mais valorizada, mais vivida, mais

amada e mais lida. Não é em vão que os Bispos do mundo inteiro estão estudando este tema no

Sínodo Geral: A PALAVRA DE DEUS NA VIDA E NA MISSÃO DA IGREJA.

Seu objetivo principal deste Sínodo é incentivar a prática do encontro com Jesus Cristo na

Sagrada Escritura.

Fazendo uma pequena comparação, por exemplo, quando compramos um aparelho

eletrônico (televisão, DVD, celular, etc), esses produtos vem com um manual que orienta para o seu

uso correto. Da mesma forma quando queremos conhecer a história de alguém famoso (um santo,

uma santa, um rei, uma rainha, etc), fazemos uso da biografia dessas pessoas. Dessa maneira nós

acabamos conhecendo como não estragar os aparelhos eletrônicos e a história de uma pessoa

humana.

Encontramos Jesus na Sagrada Escritura, lida na Igreja. A Sagrada Escritura, “Palavra de

Deus escrita por inspiração do Espírito Santo”, é, com a Tradição, fonte de vida para a Igreja e

alma de sua ação evangelizadora. Desconhecer a Escritura é desconhecer Jesus Cristo e

renunciar a anunciá-lo.”

Documento de Aparecida, n. 247.

Aqui está à chave para tomarmos a Palavra de Deus como fonte de inspiração para as nossas

vidas. Para o Povo de Deus, a Bíblia é lugar privilegiado no qual encontra-se a sua história e

experiência pessoal com Deus. Este conjunto de Livros modificou a estrutura da história humana,

tamanha é a profundidade e o irresistível conteúdo contido nestas sagradas páginas.

A Bíblia não foi feita por mentes humanas, mais inspirada por Deus através de diversos

autores. Em comum tiveram a preocupação em manter a história e a identidade de um povo amado e

escolhido. A bíblia possui dois testamentos: o Antigo e o Novo, o primeiro preparou a vinda do

messias, Jesus Cristo, narrada no Novo Testamento.

"Testamento" tem aqui o sentido antigo de "pacto atestado", pois a experiência religiosa de

Israel se apresenta em forma de um pacto, uma aliança oferecida por Deus ao "povo eleito",

Israel, e, segundo os cristãos, renovada e ampliada por Jesus de Nazaré para o mundo inteiro.

4.2. COMO PREPARAR-SE PARA LER A BÍBLIA.

Para conhecermos Jesus Cristo, reconhecê-lo como filho de Deus e orientarmos nossa vida

conforme o anúncio Evangelho, é necessário irmos direto na fonte da verdade, que está contida nas

linhas e páginas das nossas Bíblias.

Esse é o caminho para consolidarmos nossa intimidade com Jesus Cristo, tê-lo como aquele

amigo que está sempre ao nosso lado, e não como uma pessoa distante ou indiferente a nossa

realidade.

Na Palavra de Deus encontramos toda a História da Salvação (Antigo e Novo Testamento),

não é uma história qualquer, é a revelação do mistério de Deus aos homens. Esta nos acompanha

desde o início da nossa criação até o fim de nossa peregrinação sobre a terra.

Deixando ser guiados pelas orientações e ensinamentos da Palavra de Deus, os cristãos serão

capazes de responder às exigências do mundo atual no tocante as diversas injustiças que

acompanhamos e presenciamos.

Seremos uma comunidade reflexo do amor de Deus no seio do mundo, nossas obras e nosso

testemunho serão frutos da ação do Espírito Santo e do conhecimento da Bíblia.Não precisaremos

ter medo de palavras humanas, mas o próprio Deus nos inspirará a falarmos as suas palavras. Além

é claro de dar razoes da sua fé (Ler 1 Pe 3,15).

4.3. SEGUNDO A BÍBLIA O QUE DEUS NOS FALA SOBRE A SUA PALAVRA.

A Palavra de Cristo habite em vós com abundância, para vos instruirdes e aconselhardes uns

aos outros, com toda a sabedoria. E, com salmos, hinos e cânticos inspirados, cantai de todo o

coração a Deus a vossa gratidão. E tudo o que fizerdes por palavras ou por obras, seja tudo em

nome do Senhor Jesus, dando graças, por Ele, a Deus Pai” (Col 3, 16-17).

É necessário que o homem contemporâneo tome contato com a Palavra de Deus. A falta de

orientação e conhecimento faz o ser humano buscar caminhos para Deus em realidades diversas e

por muitas vezes confusas. A Palavra do nosso Deus permanece eternamente (Is 40,8). É fonte de

verdade e de satisfação para o homem.

É tão grande a força poderosa que se encerra na palavra de Deus, que ela constitui sustentáculo

vigoroso para a Igreja, firmeza na fé para seus filhos, alimento da alma, perene e pura fonte da

vida espiritual.” (Dei Verbum, n. 21)

4.4. QUAIS OS BENEFÍCIOS E EFEITOS DA LEITURA ORANTE DA BÍBLIA?

O distanciamento dos católicos desta riqueza inesgotável preocupa a Igreja. Da Palavra de

Deus encontramos Jesus Cristo, a Revelação de Deus aos homens, a salvação da humanidade e a

garantia da vida eterna.

Lutemos por dedicar um tempo para a leitura da Bíblia entre as famílias, nas pastorais, nos

movimentos, enfim, que em nossas comunidades, ela seja lembrada o ano todo e não apenas em

Setembro durante o mês da Bíblia.

Diz São Jerônimo: “A carne do Senhor é verdadeira comida e o seu sangue verdadeira

bebida; é esse o verdadeiro bem que nos é reservado na vida presente: alimentar-nos da sua carne e

beber o seu sangue, não só na Eucaristia, mas também na leitura da Sagrada Escritura.

A Palavra de Deus ilumina a vida dos católicos e está presente na comunidade reunidas em

diversas ações: catequese, liturgia e oração, nos sacramentos, nos cursos e encontros de formação,

etc. Afastar-se dela é perder um importante alimento para a nossa vida interior e de crescimento na

escola da fé.



4.5. QUAIS OS PREJUÍZOS QUANDO NÃO ESTUDAMOS A BÍBLIA?

O discípulo missionário do século XXI precisa estar fundamentado nas Sagradas Escrituras,

sua missão vai ser proclamar àquilo que lê, crê e celebra a partir do seu encontro pessoal com Jesus

Cristo. O anúncio do Evangelho atinge o coração do ser humano quando nos abrimos a experiência

do amor de Deus e da misericórdia contida na Palavra de Deus.

Se nossa experiência com Deus não parte da Sagrada Escritura perdemos uma fonte sagrada

que nos leva a Santidade, além é claro, de dirigirmos nossa vida pela nossa vontade humana e não

pela vontade divina. E infelizmente nos guiamos por outros caminhos que nós conhecemos, por

exemplo, televisão, internet, etc, que nem sempre nos levam para Deus.

4.6. COMO LER A BÍBLIA?

Um dos métodos para transformar a Bíblia como itinerário de oração é o que conhecemos

por Lectio Divina. Ele é composto de quatro momentos interligados. Mas atenção é preciso dar um

tempo diário da nossa vida para Deus, realmente privilegiar essa prática ou outras que nos ajudam a

tomar intimidade com a Bíblia.

Os momentos são:

Leitura: Lê-se, em primeiro lugar, a sós ou em grupo, uma passagem da Escritura;

Meditação: Segue-se um tempo de meditação, que é um aprofundamento do sentido do que

se leu, apelando à inteligência, à memória, à imaginação e ao desejo, eventualmente com a partilha

da palavra;

Oração: Na medida em que se vai escutando o que Deus diz, o fiel responde com a oração,

que pode ser de arrependimento, de ação de graças, de intercessão, de súplica ou de louvor;

Contemplação: Na medida da graça do Espírito Santo, esta oração desabrocha em

saborosos momentos de contemplação, que tornam mais viva e íntima a comunhão com Deus, e

predispõe a alma para uma vida mais santa e mais ativa na realização do Reino de Deus.



4.7. QUAL A REGULARIDADE PARA LER A BÍBLIA? QUEM PODE LER A BÍBLIA?

A Bíblia deve ter um lugar de destaque em nossa vida, portanto, o ideal é que seja lida

diariamente e principalmente que todos os cristãos a leiam e tenham por ela apreço e respeito. Com

isso teremos cristãos mais apaixonados e conscientes do valor da Sagrada Escritura.

Esta leitura orante, bem praticada, conduz ao encontro com Jesus-Mestre, ao conhecimento

do mistério de Jesus-Messias, à comunhão com Jesus-Filho de Deus e ao testemunho de Jesus-

Senhor do universo. Com seus quatro momentos (leitura, meditação, oração, contemplação), a

leitura orante favorece o encontro pessoal com Jesus Cristo semelhante ao modo de tantos

personagens do evangelho: Nicodemos e sua ânsia de vida eterna (cf. Jo 3,1-21), a Samaritana

e seu desejo de culto verdadeiro (cf. Jo 4,1-12), o cego de nascimento e seu desejo de luz

interior (cf. Jo 9), Zaqueu e sua vontade de ser diferente (cf. Lc 19,1-10)... Todos eles, graças a

este encontro, foram iluminados e recriados porque se abriram à experiência da misericórdia

do Pai que se oferece por sua Palavra de verdade e vida. Não abriram seu coração para algo

do Messias, mas ao próprio Messias, caminho de crescimento na “maturidade conforme a sua

plenitude” (Ef 4,13), processo de discipulado, de comunhão com os irmãos e de compromisso

com a sociedade.”

Documento de Aparecida, n. 249.

4.8. PARA REFLETIR.

o Quanto tempo temos disponibilizado para o estudo ou para lermos a Palavra de

Deus?

o Que atenção damos à Palavra de Deus no nosso grupo de oração?

o A Palavra de Deus tem inspirado a minha vida pessoal e meu testemunho nos lugares

onde freqüento (família, trabalho, escola, faculdade, Igreja, etc)?


 
LER MEDITAR E SEGUIR O CATECISMO DA

IGREJA CATÓLICA APOSTÓLICA ROMANA

Disse o saudoso Papa João Paulo II: “...nessa ocasião, os padres sinodais afirmaram: “Muitíssimos expressaram o desejo de que seja composto um Catecismo ou compêndio de toda a doutrina Católica, tanto em matéria de fé como de moral, para que ele seja como um ponto de referência para os Catecismos ou compêndios que venham a ser preparados nas diversas regiões. A apresentação da doutrina deve ser bíblica e litúrgica, oferecendo ao mesmo tempo uma doutrina sã e adaptada a vida atual dos cristãos”. Depois do encerramento do sínodo, fiz meu este desejo, considerando que ele “corresponde à verdadeira necessidade da Igreja universal e das Igrejas particulares”.

Como não havemos de agradecer de todo o coração ao Senhor, neste dia em que podemos oferecer a toda a Igreja, com o título de “Catecismo da Igreja Católica”, este texto de referência para uma catequese renovada nas fontes vivas da fé.

Mais adiante continua João Paulo II: “O Catecismo da Igreja Católica é fruto de uma vastíssima colaboração: foi elaborado em seis anos de intenso trabalho, conduzido num espírito de atenta abertura e com apaixonado ardor”.

Em 1986, confiei a uma Comissão de doze Cardeais e Bispos, presidida pelo senhor Cardeal Joseph Ratzinger - (hoje Papa Bento XVI), o encargo de preparar um projeto para o Catecismo requerido pelos padres do Sínodo. Uma Comissão de redação, composta por sete Bispos diocesanos, peritos em teologia e em catequese, ajudou a Comissão no seu trabalho.

A Comissão encarregada de dar as diretrizes e de vigiar sobre o desenvolvimento dos trabalhos, seguiu atentamente todas as etapas da redação das nove sucessivas composições. A Comissão de redação, por seu lado, assumiu a responsabilidade de escrever o texto e lhe inserir as modificações pedidas pela Comissão e de examinar as observações de numerosos teólogos, exegetas, catequistas e, sobretudo dos Bispos do mundo inteiro, a fim de melhorar o texto. A Comissão foi sede de intercâmbios frutuosos e enriquecedores, para assegurar a unidade e a homogeneidade do texto.

O projeto tornou-se objeto de vasta consultação de todos os Bispos católicos, das suas conferências Episcopais ou dos seus sínodos, dos Institutos de teologia e de catequética. No seu conjunto, ele teve um acolhimento amplamente favorável da parte do episcopado. É justo afirmar que este Catecismo é o fruto de uma colaboração de todo o episcopado da Igreja Católica, o qual acolheu com generosidade o meu convite a assumir a própria parte de responsabilidade numa iniciativa que diz respeito, intimamente à vida eclesial. Tal resposta suscita em mim um profundo sentimento de alegria, porque o concurso de tantas vozes exprime verdadeiramente aquela a que se pode chamar a sinfonia da fé. A realização deste Catecismo reflete, deste modo, a natureza colegial do episcopado: testemunha a catolicidade da Igreja.

Um Catecismo deve apresentar, com fidelidade e de modo orgânico, o ensinamento da Sagrada Escritura, da Tradição viva na Igreja e do Magistério autentico, bem como a herança espiritual dos padres dos santos e das santas da Igreja, para permitir conhecer melhor o mistério cristão e reavivar a fé do povo de Deus. Deve ter em conta as explicações da doutrina que, no decurso dos tempos, o Espírito Santo sugeriu a Igreja.

É também necessário que ajude a iluminar com a luz da fé, as novas situações e os problemas que ainda não tinham surgido no passado.

O Catecismo incluirá, portanto, coisas novas e velhas (cf. Mt. 13,52), porque a fé é sempre a mesma e simultaneamente é fonte de luzes e sempre novas.

Para responder a esta dupla exigência o Catecismo da Igreja Católica por um lado retoma a antiga ordem, a tradicional, já seguida pelo Catecismo de São Pio V, articulando o conteúdo em quatro partes: o Credo, a Sagrada Liturgia, com os Sacramentos em primeiro plano, o agir cristão, exposto a partir dos mandamentos, e por fim a oração cristã. Mas, ao mesmo tempo, o conteúdo é com freqüência expresso de um modo novo, para responder as interrogações da nossa época.

As quatro partes estão ligadas entre si: o mistério cristão é o objeto da fé (primeira parte); é celebrado e comunicado nos atos litúrgicos (segunda parte); está presente para iluminar e amparar os filhos de Deus no seu agir (terceira parte); funda a nossa oração, cuja expressão privilegiada é o Pai Nosso, e constitui o objeto da nossa súplica, do nosso louvor e da nossa intercessão (quarta parte).

A liturgia é ela própria oração; a confissão da fé encontra o seu justo lugar na celebração do culto. A graça, fruto dos sacramentos é a condição insubstituível do agir cristão, tal como a participação na liturgia da Igreja requer a fé. Se a fé não se desenvolve nas obras, essa está morta (cf. Tg 2,14-16) e não pode dar frutos de vida eterna.

Lendo o Catecismo da Igreja Católica, pode-se captar a maravilhosa unidade do mistério de Deus, do seu desígnio de salvação, bem como a centralidade de Jesus Cristo, o Filho Unigênito de Deus, enviado pelo Pai, feio homem no seio da Santíssima Virgem Maria por obra do Espírito Santo, para ser o nosso Salvador. Morto e ressuscitado, Ele está sempre presente na sua Igreja, particularmente nos Sacramentos; Ele é a fonte da fé, o modelo de agir cristão e o Mestre da nossa oração.

O Catecismo da Igreja Católica, que aprovei no passado dia 25 de junho e cuja publicação hoje ordeno em virtude da autoridade Apostólica, é uma exposição da fé da Igreja e da doutrina Católica, testemunhadas ou iluminadas pela Sagrada Escritura, pela Tradição Apostólica e pelo Magistério da Igreja. Vejo-o como um instrumento válido e legitimo a serviço da comunhão eclesial e como uma norma segura para o ensino da fé. Sirva ele para a renovação, a qual o Espírito Santo chama incessantemente a Igreja de Deus, Corpo de Cristo, peregrina rumo a luz sem sombras do Reino.

A aprovação e a publicação do Catecismo da Igreja Católica constituem um serviço que o sucessor de Pedro que prestar a Santa Igreja Católica, a todas as igrejas particulares em paz e em comunhão com a Sé Apostólica de Roma: o serviço de sustentar e confirmar a fé de todos os discípulos dos Senhor Jesus (cf. Lc. 22,32), como também de reforçar os laços da unidade na mesma fé Apostólica.

Peço, portanto, aos Pastores da Igreja e aos fieis que acolham este Catecismo em espírito de comunhão, e que o usem assiduamente ao cumprirem a sua missão de anunciar a fé e de apelar para a vida evangélica. Este Catecismo lhes é dado a fim de que sirva como texto de referência, seguro e autêntico, para o ensino da doutrina Católica, e de modo muito particular para a elaboração dos Catecismos locais. É também oferecido a todos os fieis que desejam aprofundar o conhecimento das riquezas inexoráveis da salvação (cf. Jô. 8,32). ...O Catecismo da Igreja Católica, por fim, é oferecido a todo o homem que nos pergunte a razão da nossa esperança (cf. 1Pd, 3,15) e queira conhecer aquilo em que a Igreja Católica crê.

...No final deste documento que apresenta o Catecismo da Igreja Católica, peço a Santíssima Virgem Maria, Mãe do Verbo Encarnado e Mãe da Igreja, que ampare com a sua poderosa intercessão o empenho catequético da Igreja inteira a todos os níveis nestes tempos em que ela é chamada a um novo esforço de evangelização. Possa a luz da verdadeira fé libertar a humanidade da ignorância e da escravidão do pecado, para a conduzir a única liberdade digna deste nome (cf. Jô. 8,32): a da vida em Jesus Cristo sob a guia do Espírito Santo, na terra e no reino dos céus na plenitude da bem-aventurança da visão de Deus face a face (cf 1 Cor. 13,12; 2 Cor. 5,6-8).

Em 11/10/1992

Joannes Paulus PPII

O ROSÁRIO E O TERÇO

Luis Fernando Dornelles

Núcleo de Discernimento da RCC/Pr



INTRODUÇÃO:

Uma oração universal: assim poderia ser definido o Rosário (e o Terço). Afinal, a qualquer hora do

dia, em qualquer lugar do mundo, alguém o reza para louvar o Senhor ou agradecer-lhe seus dons,

para suplicar graças ou pedir-lhe perdão dos próprios pecados. A cada momento alguém está

contemplando os mistérios da vida de Jesus.

Rezar o Rosário é passear pelo Evangelho em união com Maria Santíssima; É como falar com uma

pessoa amada. Quando amamos alguém, queremos dizer-lhe mil vezes: eu amo você, eu amo você,

eu amo você. Não é uma repetição, é uma necessidade de coração. Maria é nossa mãe, nosso

modelo, é quem nos deu Jesus.

O Rosário é uma oração universal porque nela todos se encontram. Nos encontramos com o Pai que

“tanto amou o mundo que entregou seu Filho Unigênito”(Jô 3,16); nos encontramos com o Filho, o

Emanuel, isto é, o Deus conosco(cf. MT 1,23); e nos encontramos com o Espírito Santo que

continua sendo derramado sobre nós, conforme vemos e ouvimos (cf. At 2,33).

Na oração do Rosário encontram-se aqueles que olham para Maria e lhe dirigem as palavras que o

Espírito Santo pôs na boca de Isabel: “Bendita és tu entre as mulheres e bendito o fruto de teu

ventre” (Lc 1,42).

O Rosário é também uma maneira de olhar Maria com o olhar do Pai que a chamou e a enriqueceu

com Seus dons, em vista da missão que ela deveria exercer no mistério de Cristo e da Igreja. É uma

oração contemplativa acessível a todos: grandes e pequenos, leigos e clérigos, cultos e pessoas com

pouca instrução. É vínculo espiritual com Maria para permanecermos unidos a Jesus, para nos

conformarmos a Ele, assimilarmos os seus sentimentos e nos comportarmos como Ele se

comportou.

Conforme as palavras do Santo Padre João Paulo II: O Rosário (ou Terço) é a oração para este

mundo. É arma espiritual na luta contra o mal. É uma oração para salvação das pessoas, para a

transformação das famílias, para a mudança da nossa sociedade e para que o mundo seja salvo.

Importante: O Terço era a terça parte do Rosário; agora é a quarta parte porque o Papa João

Paulo II acrescentou mais um Terço ao Rosário, contemplando os mistérios da luz ou

Luminosos”, da Vida Pública de Jesus. Em cada terço contemplamos uma etapa da vida de

Jesus e o mistério da nossa Salvação; logo, o Terço é mais uma oração centrada em Cristo do

que em Maria. Nossa Senhora reza conosco o Terço, contemplando também ela os mistérios

da nossa salvação e intercedendo por nós. Por isso, é muito importante contemplar cada

mistério do Terço.

O Rosário é uma expressão de amor. É o que você irá descobrir se puser em prática esta simples e

poderosa oração.

5.1. O QUE A IGREJA FALA SOBRE O ROSÁRIO (ORIGEM E DEVOÇÃO)?

Não há uma data precisa sobre a origem do Rosário. Em linhas gerais, remonta já os primeiros

séculos da Igreja primitiva e surge aproximadamente no ano 800 à sombra dos mosteiros, como

Saltério dos leigos. Dado que os monges rezavam os salmos (150), os leigos, que em sua maioria

não sabiam ler, aprenderam a rezar 150 Pai Nossos. Com o passar do tempo, se formaram outros

três saltérios com 150 Ave Marias, 150 louvores em honra a Jesus e 150 louvores em honra a Maria.

No ano 1365 fez-se uma combinação dos quatro saltérios, dividindo as 150 Ave Marias em 15

dezenas e colocando um Pai nosso no início de cada uma delas. Em 1500 ficou estabelecido, para

cada dezena a meditação de um episódio da vida de Jesus ou Maria, e assim surgiu o Rosário de

quinze mistérios. E o nome “terço” popularizou-se por representar, como o nome diz, a terça

parte do total das 150 ave-marias, ou propriamente do Rosário.

Vale lembrar que, a segunda parte da Ave-Maria (”Santa Maria, Mãe de Deus”), foi introduzida na

oração por ocasião da vitória sobre a heresia nestoriana, deflagrada no ano de 429. O bispo

Nestório, Patriarca de Constantinopla, afirmava ser Maria mãe de Jesus e não Mãe de Deus. O

episódio tomou feições tão sérias que culminou no Concílio de Éfeso convocado pelo Papa

Celestino I. Sob a presidência de São Cirilo (Patricarca de Alexandria), a heresia foi condenada e

Nestório, recusando a aceitar a decisão do conselho, acabou sendo excomungado.

Conta-se que no dia do encerramento do Concílio, onde os Padres Conciliares exaltaram as virtudes

e as prerrogativas especiais da VIRGEM MARIA, o Santo Padre Celestino ajoelhou-se diante da

assembléia e saudou Nossa Senhora, dizendo: “SANTA MARIA, MÃE DE DEUS, rogai por nós

pecadores, agora e na hora de nossa morte. Amém.” Na continuidade dos anos, esta saudação foi

unida àquela que o Arcanjo Gabriel fez a Maria, conforme o Evangelho de Jesus segundo São

Lucas 1,26-38: “Ave cheia de graça, o Senhor está contigo!” e também, a outra saudação que Isabel

fez a Maria, para auxiliá-la durante os últimos três meses de sua gravidez: “Bendita és tu entre as

mulheres, e bendito é o fruto do teu ventre.” (Lucas1, 42) Estas três saudações deram origem a

AVE MARIA.

A difusão e posterior expansão do Rosário a Igreja atribui a São Domingos de Gusmão (século XII),

conhecido como o “Apóstolo do Rosário”, cuja devoção propagou aos católicos como arma contra o

pecado e contra a heresia albigense, que assolava Toulose (França).

O terço que consiste em 50 Ave-Marias intercaladas por 10 Pai-Nossos se mantém desde o

pontificado do Papa Pio V (1566-1572), que deu a forma definitiva ao terço que conhecemos hoje

(O Papa era religioso da Ordem de São Domingos). Quanto às meditações, ressaltamos

novamente, que até o ano de 2002, cada Rosário, que era composto de três terços (150 Ave-

Marias) passou a ser composto de quatro terços (portanto, 200 Ave-Marias no total). Foi

quando o Papa João Paulo II inseriu aos mistérios existentes (gozosos, dolorosos e gloriosos),

os mistérios “luminosos” que retratam a vida pública de Jesus.

A palavra Rosário significa ‘Coroa de Rosas’. A Virgem Maria revelou a muitas pessoas que cada

vez que rezam uma Ave Maria lhe é entregue uma rosa e por cada Rosário completo lhe é entregue

uma coroa de rosas. A rosa é a rainha das flores, sendo assim o Rosário é a rosa de todas as

devoções e, portanto, a mais importante.

O Santo Rosário é considerado a oração perfeita porque junto com ele está a majestosa história de

nossa salvação. Com o rosário, meditamos os mistérios de gozo, de dor, de luz e de glória de Jesus e

Maria. É uma oração simples e humilde como Maria.

É uma oração que podemos fazer com ela, a Mãe de Deus. Com o Ave Maria a convidamos a rezar

por nós. A Virgem sempre nos dá o que pedimos. Ela une sua oração à nossa. Portanto, esta é mais

poderosa, porque Jesus recebe o que Maria pede. Jesus nunca diz não ao que sua Mãe lhe pede. Em

cada uma de suas aparições, nos convida a rezar o Rosário como uma arma poderosa contra o

maligno, para nos trazer a verdadeira paz.

O Rosário ou o Terço é composto de dois elementos: oração mental e oração verbal.

No Santo Rosário a oração mental é a meditação sobre os principais mistérios ou episódios da vida,

morte e glória de Jesus Cristo e de sua Santíssima Mãe.

A oração verbal consiste em recitar quinze dezenas (Rosário completo) ou cinco dezenas da Ave

Maria, cada dezena iniciada por um Pai Nosso, enquanto meditamos sobre os mistérios do Rosário.

5.2. O QUE A BÍBLIA FALA SOBRE O ROSÁRIO?

A devoção do rosário é preciosa e valorosa por um grande motivo:

É uma Oração Bíblica: O Pai Nosso é a oração que Jesus nos ensinou. A Ave-Maria na primeira

parte, é a saudação que lemos no Evangelho àquela que seria escolhida para ser a Mãe de Deus (Lc

1,28.42). O Rosário (ou Terço) repete as palavras do Evangelho. Quando rezamos, realizamos a

profecia de Maria no Magnificat: “Todas as gerações me chamarão de bendita” (Lc 1,48). Bendita

sois vós entre as mulheres....

Cristo está no Centro do Rosário (e do Terço): Para Cristo se dirigem e dele decorrem todos os

acontecimentos da nossa salvação. Ele nasce. Ele cresce. Anuncia o Reino. Realiza a vontade do

Pai. Sofre a Paixão. Vence a morte. Vive.

São os mistérios da vida de Jesus. São os mistérios do Terço (ou do Rosário).

O "Glória", por nos falar da doxologia trinitária, é o apogeu da contemplação. Ele é posto em

grande evidência no Rosário(ou no Terço). Na medida em que a meditação do mistério tiver sido -

de Ave Maria em Ave Maria - atenta, profunda, animada pelo amor de Cristo e por Maria, a

glorificação trinitária de cada dezena, em vez de reduzir-se a uma rápida conclusão, adquirirá o seu

justo tom contemplativo, quase elevando o espírito à altura do Paraíso e fazendo-nos reviver de

certo modo a experiência do Tabor, antecipação da contemplação futura: « Que bom é estarmos

aqui! » (Lc 9, 33)."(RVM34)

A jaculatória final varia segundo os costumes. Sem diminuir em nada o valor de tais invocações,

parece oportuno assinalar que a contemplação dos mistérios poderá manifestar melhor toda a sua

fecundidade, se tivermos o cuidado de terminar cada um dos mistérios com uma oração para obter

os frutos específicos da meditação desse mistério. (...)

Uma tal oração conclusiva poderá gozar, como acontece já, de uma legítima variedade na sua

inspiração. Assim, o Rosário adquirirá uma fisionomia mais adaptada às diferentes tradições

espirituais e às várias comunidades cristãs. “(RVM35)”.

A recitação termina com a oração pelas intenções do Papa, para estender o olhar de quem reza ao

amplo horizonte das necessidades eclesiais. Foi precisamente para encorajar esta perspectiva

eclesial do Rosário que a Igreja quis enriquecê-lo com indulgências sagradas para quem o recitar

com as devidas disposições.

O centro do Rosário(ou do Terço) é Cristo crucificado. O Rosário é uma oração amorosa e

profunda, devoção querida da piedade popular, que nos mostra ser uma oração Bíblica, pois é

cristológica, uma espécie de compêndio do Evangelho, que concentra a profundidade de toda

a mensagem de Cristo. No Rosário ecoa a oração de Maria. Com ele, o povo cristão freqüenta

a escola de Maria para introduzir-se na contemplação do rosto de Cristo e na experiência do

seu amor infinito.

5.3. COMO PREPARAR-SE E COMO REZAR O ROSÁRIO?

Para recitar o Rosário com verdadeiro proveito deve-se estar em estado de graça ou pelo menos ter

a firme resolução de renunciar o pecado mortal.

O Santo Rosário nos permite percorrer os grandes momentos da obra salvífica de Cristo,

acompanhados por nossa Mãe Maria, de quem tomamos o exemplo de “guardar todas estas coisas

no coração”.

Além de ter como centro os Mistérios de Cristo, em conexão com a Trindade Santa e a vida de

Nossa Senhora, o Rosário torna presentes as circunstâncias de nossa existência: alegrias,

esperanças, angústias, inspirações, bem como dores e decepções.

O Rosário é “composto de quatro blocos de Mistérios, conforme o acréscimo, feito pelo Papa João

Paulo II, com a edição da Carta Apostólica Rosarium Virginis Mariae”.

Como rezar?

Oferecimento do terço:

Divino Jesus, nós Vos oferecemos este terço que vamos rezar, meditando nos mistérios da nossa

redenção. Concedei-nos, por intercessão da Virgem Maria, Mãe de Deus e nossa Mãe, as virtudes

que nos são necessárias para bem rezá-lo e a graça de ganharmos as indulgências desta santa

devoção. Oferecemos, particularmente, em desagravo dos pecados cometidos contra o Sagrado

Coração de Jesus e Imaculado Coração de Maria, pela paz no mundo, pela conversão dos pecadores,

pelas almas do purgatório, pelas intenções do Santo Padre nosso vigário, pela santificação das

famílias, pelas missões, pêlos doentes, pelos agonizantes, pôr aqueles que pediram nossas intenções

particulares, pelo Brasil e pelo mundo inteiro.

1 - Segurando o Crucifixo, fazer o Sinal da Cruz: Em nome do Pai do Filho e do Espírito Santo.

Amém.

2 - Em seguida, ainda segurando a cruz, rezar o Credo.

Creio em Deus Pai todo-poderoso, criador do céu e da terra; e em Jesus Cristo, seu único Filho,

nosso Senhor; que foi concebido pelo poder do Espírito Santo; nasceu da Virgem Maria, padeceu

sob Pôncio Pilatos, foi crucificado, morto e sepultado. Desceu à mansão dos mortos; ressuscitou ao

terceiro dia; subiu aos céus, está sentado à direita de Deus Pai todo-poderoso, donde há de vir a

julgar os vivos e os mortos; creio no Espírito Santo, na Santa Igreja Católica, na comunhão dos

Santos, na remissão dos pecados, na ressurreição da carne, na vida eterna. Amém.

3 - Na primeira conta grande, recitar um Pai Nosso.

Pai-Nosso que estais nos céus, santificado seja vosso nome, venha a nós o vosso reino, seja feita a

vossa vontade assim na terra como no céu. O pão nosso de cada dia nos dai hoje, perdoai-nos as

nossas ofensas assim como nós perdoamos a quem nos tem ofendido, e não nos deixeis cair em

tentação, mas livrai-nos do mal. Amém.

4 - Em cada uma das três contas pequenas, recitar uma Ave Maria.(em honra à Santíssima Trindade

– Pai, Filho e Espírito Santo)

Ave Maria, cheia de graça, o Senhor é convosco, bendita sois vós entre as mulheres, e bendito é o

fruto do vosso ventre, Jesus. Santa Maria, Mãe de Deus, rogai por nós, pecadores, agora e na hora

da nossa morte. Amém.

5 - Recitar um Glória antes da seguinte conta grande.

Glória ao Pai, ao Filho e ao Espírito Santo. Como era no princípio, agora e sempre. Amém

6 - Anunciar o primeiro Mistério do Rosário do dia e recitar um Pai Nosso na seguinte conta

grande.

7 - Em cada uma das dez seguintes contas pequenas (uma dezena) recitar um Ave Maria enquanto

se faz uma reflexão sobre o mistério.

8 - Recitar um Glória depois das dez Ave Maria. Também se pode rezar a oração ensinada por

Nossa Senhora, quando de sua aparição em Fátima. (Óh! meu Jesus, perdoai-nos, livrai-nos do fogo

do inferno. Levai as almas todas para o céu e socorrei principalmente as que mais precisarem, da

Vossa misericórdia Senhor Jesus. Abençoai o Santo Padre o Papa, os seus sacerdotes e toda a Santa

Igreja. Abençoai as nossas famílias, aumentai a nossa fé e dai-nos a Vossa Paz)

9 - Cada uma das seguintes dezenas é recitada da mesma forma: anunciando o correspondente

mistério, recitando um Pai Nosso, dez Ave Maria e um Glória enquanto se medita o mistério.

10 - Ao se terminar o quinto mistério o Rosário costuma ser concluído com a oração da Salve

Rainha.

Infinitas graças vos damos, soberana Rainha, pelos benefícios que todos os dias recebemos de

vossas mãos liberais. Dignai- vos agora e para sempre nos tomar debaixo do vosso poderoso

amparo e, para mais vos obrigar, nós vos saudamos com uma Salve-Rainha.

Salve, Rainha, Mãe de misericórdia, vida, doçura e esperança nossa, salve! A vós bradamos os

degredados filhos de Eva. A vós suspiramos, gemendo e chorando neste vale de lágrimas. Eia, pois,

advogada nossa, esses vossos olhos misericordiosos a nós volvei, e depois deste desterro mostrainos

Jesus, bendito fruto do vosso ventre, ó clemente, ó piedosa, ó doce e sempre Virgem Maria.

Rogai por nós, Santa Mãe de Deus. Para que sejamos dignos das promessas de Cristo. Amém

Mistérios gozosos (segunda-feira e sábado)

1º - O anjo Gabriel anuncia que Maria será a Mãe do Filho de Deus.(Lc 1,26-38)

2º - Maria visita sua prima Isabel. (Lc 1,39-56)

3º - Nascimento de Jesus em uma gruta, em Belém (Lc 2,1-21)

4º - Apresentação do Menino Jesus no templo (Lc 2,22-40)

5º - Encontro de Jesus no templo entre os doutores da lei (Lc 2,41-52)

Mistérios dolorosos (terça-feira e sexta-feira)

1º - Agonia mortal de Jesus no horto das Oliveiras (Mt 26,36-46)

2º - Flagelação de Jesus atado à coluna (Mt 27,11-26)

3º - Coroação de espinhos de Jesus pôr seus algozes (Mt 27,27-31)

4º - Subida dolorosa de Jesus carregando a Cruz até o Calvário (Jo 19,17-24)

5º - Crucificação e Morte de Jesus (Jo 19,25-37)

Mistérios gloriosos (quarta-feira e domingo)

1º - Ressurreição de Nosso Senhor Jesus Cristo (Jo 20,1-18)

2º - Ascensão gloriosa de Jesus Cristo ao céu (At 1,4-11)

3º - Descida do Espírito Santo sobre os apóstolos (At 2, 1-13)

4º - Assunção gloriosa de Nossa Senhora ao céu (Sl 44,11-18)

5º - Coroação de Nossa Senhora no céu (Ap 12,1-4)

Mistérios luminosos (quinta-feira)

1º - O Batismo de Jesus no rio Jordão (Mt 3,13-17)

2º - A sua auto-revelação nas bodas de Caná (Jo 12,1-12)

3º - Jesus anuncia o Reino de Deus com o convite à conversão

(Mc 1,15 * Mc 2,3-13 * Lc 7,47-48 * Jo 20, 22-23)

4º - A Transfiguração de Jesus no monte Tabor (Lc 9,28-36)

5º - A instituição da Eucaristia, expressão sacramental do mistério pascal (Jo 13,1-20)

34

5.4. OS BENEFÍCIOS E AS BENÇÃOS DO ROSÁRIO

Conforme as palavras do Santo Padre João Paulo II: O Rosário é a oração para este mundo. Para

salvação das pessoas, para a Transformação das famílias. Para a mudança da nossa sociedade e para

que o mundo seja salvo.

É a oração dos simples, é a oração dos sábios, é a oração dos pobres. É a oração de todos!

É uma Maravilhosa Terapia: Se você vive cansado, se você está com insônia, se procura auxílio nos

calmantes, tente rezar o Rosário(ou o Terço). Ele não é tóxico e produz um efeito maravilhoso. O

Rosário descontrai, gera confiança, acalma as tensões, dá ânimo e motivação para o trabalho, além

da alegria, paciência e tolerância. Nos livra dos pensamentos negativos. É fonte de bênçãos e de

graças. Tente rezá-lo e você mesmo descobrirá.

É uma Oração Simples e Profunda: Até as crianças podem rezar o Rosário e colher seus frutos. É

uma oração simples. Parece que surgiu no meio do povo mais humilde. Mas mesmo os grandes

místicos perceberam nesta oração uma fonte inesgotável de benefícios espirituais. O Rosário é uma

oração profunda.

É uma Escola de Oração: Precisamos aprender a rezar. Muitas pessoas não sabem como se achegar

a Deus. O Terço será uma verdadeira e grande Escola. Ele fortifica a nossa fé, apresenta-nos Maria

como Mediadora, dá-nos lições de penitência, faz retornar os dissidentes.

É uma Oração Atual: Cada dia se fala de meditação. Nosso mundo agitado está começando a dar

sinais de cansaço. Cresce o interesse pelos métodos orientais de oração. O Rosário é de inspiração

oriental....E é cristão. Por que não ensiná-lo às novas gerações?

É uma Oração Libertadora: O Rosário liberta porque nos põe em íntimo diálogo com o Libertador

(Jesus). Maria canta: “Derruba os poderosos de seus tronos e eleva os humildes” (Lc 1,52.53). Entre

um mistério e outro repetimos: “Jesus, socorrei principalmente os que mais precisarem”. É a opção

preferencial pelos pobres presente no terço. A oração do Terço(ou Rosário) nos livra dos

pensamentos negativos. Nos dá equilíbrio em todas as situações do nosso dia a dia.

É uma Oração Popular: Na cidade ou no campo – religiosos, leigos, bispos, padres, até o Papa,

todos têm uma simpatia especial pelo Rosário(ou o Terço).

Não é a oração oficial da Igreja. Mas sempre foi rezado por toda a Igreja, principalmente pelo povo

simples que encontra nele uma maneira prática de estar com Deus.

É uma oração que traz a paz e a união para as famílias: O Rosário sempre foi oração querida das

famílias e muito favoreceu sua união e seu crescimento. Sua oração torna-se motivo e oportunidade

de a família encontrar-se, no corre-corre da vida e com o pouco tempo que dispõe de estar junto

tomado pelas imagens da televisão. "Retomar a recitação do Rosário em família significa inserir na

vida diária imagens bem diferentes - as do mistério que salva: a imagem do Redentor, a imagem de

sua Mãe Santíssima. A família, que reza unida o Rosário, reproduz em certa medida o clima da casa

de Nazaré: põe-se Jesus no centro, partilha-se com Ele alegrias e sofrimentos, colocam-se em suas

mãos necessidades e projetos, e d'Ele se recebe a esperança e a força para o caminho" (RMV, 41).

Rezando o Rosário pelos filhos e com eles, os pais estarão apresentando as etapas de crescimento de

Jesus, desde a encarnação até a ressurreição como seu ideal de vida. Ao mesmo tempo, estarão

realizando a catequese da oração.

É uma Oração Cinematográfica: Enquanto repetimos as palavras, a imaginação vai criando em

nossa mente o filme da vida de Cristo. Este modo de rezar é conhecido por “contemplação”.

A devoção do rosário é preciosa e nos traz muitos benefícios e bênçãos:

Bênçãos da Oração do Rosário:



* Proteção especial na vida

* Morte feliz

* Salvação eterna de sua alma

* Não morrerá sem os sacramentos

* Não morrerá flagelado pela pobreza

* Tudo obterá por meio do Rosário

* A devoção do Rosário será sinal certo de salvação

* Os que rezarem o Rosário serão libertos do purgatório no dia de sua morte

* Terão grande glória no Céu

* Aos que propagarem o Rosário, Maria promete ajudar em todas as necessidades.

* Os pecadores serão perdoados.

* As almas áridas serão restauradas.

* Aqueles que estão acorrentados terão suas correntes rompidas.

* Aqueles que choram encontrarão felicidade.

* Aqueles que são tentados encontrarão paz.

* O pobre encontrará ajuda.

* Os religiosos serão corretos.

* Aqueles que são ignorantes serão instruídos.

* O ardente aprenderá a superar o orgulho.

* Os defuntos (as almas santas do purgatório) terão alívio em suas penas do sufrágio.

Benefícios da Oração do Rosário

* Gradualmente nos dá uma perfeita consciência de Jesus.

* Purifica nossas almas, lava o pecado.

* Dá-nos vitória sobre todos nossos inimigos.

* Torna-nos fácil a prática das virtudes.

* Faz arder em nós o amor do Senhor.

* Enriquece-nos de graças e méritos.

* Provém-nos o que é necessário para pagar todos os nossos débitos a Deus e aos irmãos; e,

Finalmente, obtém de Deus, todos os tipos de graças para nós.

Promessas de Maria Santíssima aos devotos do Rosário

* A todos aqueles que recitarem o meu Rosário promete a minha especialíssima proteção.

* Quem perseverar na reza do meu Rosário, receberá graças potentíssimas.

* O Rosário será uma arma potentíssima contra o inferno, destruirá os vícios, dissipará o pecado e

derrubará as heresias.

* O Rosário fará reflorir as virtudes, as boas obras e obterá às almas as mais abundantes a

Misericórdias de Deus.

* Quem confiar-se a Mim, com o Rosário, não será nunca oprimido pelas adversidades.

* Quem quer que recite devotadamente o Santo Rosário, com a meditação dos Mistérios, se

Converterá se pecador, crescerá em graça se justo e será feito digno da vida eterna.

* Os devotos do Meu Rosário na hora da morte, não morrerão sem sacramentos.

* Aqueles que rezam o Meu Rosário encontrarão, durante sua vida e na hora de sua morte, a luz de

Deus e a plenitude das suas graças e participarão aos méritos dos abençoados no Paraíso.

* Eu libertarei, todos os dias, do Purgatório, as almas devotas do Meu Rosário.

* Os verdadeiros filhos do Meu Rosário, gozarão de uma grande alegria no Céu.

* Aquilo que se pedir com o Rosário se obterá.

* Aqueles que propagarem o Meu Rosário serão por mim socorridos em todas as suas necessidades.

* Eu consegui do Meu Filho que todos os devotos do Rosário tenham, por irmãos em sua vida e na

hora de sua morte, os Santos do Céu.

* Aqueles que recitarem o Meu Rosário fielmente serão todos filhos meus amaríssimos, irmãos e

irmãs de Jesus.

* A devoção do Santo Rosário é um grande sinal de predestinação.

"O Rosário, lentamente recitado e meditado - em família, em comunidade,

Pessoalmente, vos fará penetrar, pouco a pouco, nos sentimentos de Jesus Cristo e de sua Mãe,

evocando todos os acontecimentos que são a chave de nossa salvação”.

(João Paulo II)

Quando se recita o Rosário revivem-se os momentos importantes e significativos da história da

salvação; percorrem-se as várias etapas da missão de Cristo. Com Maria orienta-se o coração

para o mistério de Jesus. Coloca-se Cristo no centro da nossa vida, do nosso tempo, das nossas

cidades, mediante a contemplação e a meditação dos seus santos mistérios de alegria, de luz, de

dor e de gloria”.

(Papa Bento XVI)



O JEJUM

O VALOR DO JEJUM PARA A ESPIRITUALIDADE CRISTÃ

Pe. Ednilson de Jesus, MIC

Reitor do Santuário da Divina Misericórdia (Curitiba)



INTRODUÇÃO:

Queremos refletir, neste breve artigo, sobre o valor do jejum para a espiritualidade cristã e

para o aprofundamento da intimidade com o Senhor. Nossa reflexão será orientada por 8 questões

fundamentais. Não queremos esgotar o assunto, pois a riqueza do tema é muito grande.

Apresentamos apenas algumas linhas de orientação para que cada qual possa aprofundar o estudo

desse magnífico meio de crescimento espiritual.

6.1. O QUE A IGREJA FALA SOBRE O JEJUM?

A Igreja reconhece o valor e o significado profundo do jejum para a espiritualidade cristã. O

quinto mandamento da Igreja nos orienta a “Jejuar e abster-se de carne, conforme manda a Santa

Mãe Igreja” (Catecismo, 2043).

Entre os chamados Padres da Igreja, os primeiros teólogos das origens cristãs, Santo

Agostinho reconhece o valor espiritual e moral do jejum: “a abstinência purifica a alma, eleva a

mente, subordina a carne ao espírito, cria um coração humilde e contrito, espalha as nuvens da

concupiscência, extingue o fogo da luxúria e acende a verdadeira luz da castidade” (Sermão sobre a

oração e o jejum).

Em nosso tempo, a Igreja ainda recomenda a prática do jejum. O jejum é citado no

Catecismo da Igreja Católica em 9 parágrafos específicos. Os parágrafos são: 575, 1387, 1430,

1434, 1438, 1755, 1969, 2043 e 2742. Síntese desse ensinamento é a mensagem de que os gestos

exteriores (saco e cinzas, jejuns e mortificações) não devem ser vazios, mas devem ser

acompanhados da conversão do coração ou da penitência interior: é por essa razão que o jejum é

associado ao Sacramento da Reconciliação.

Além do jejum, a oração e a esmola aparecem como as principais formas de expressão da

penitência interior. Assim, o jejum, a oração e a esmola representam a conversão em relação a si

mesmo, a Deus e aos outros (Catecismo, 1434). Como afirmou o Papa Bento XVI, na homilia da

celebração da Quarta-Feira de Cinzas, deste ano, “em relação harmoniosa com a oração, também o

jejum e a esmola podem ser considerados lugares de aprendizagem e prática da esperança cristã”.

O Concílio Vaticano II assim nos ensina: “A penitência do tempo quaresmal não deve ser

somente interna e individual, mas também externa e social. Fomente-se a prática penitencial de

acordo com as possibilidades de nosso tempo, dos diversos países e da condição dos fiéis (...).

Tenha-se como sagrado o jejum pascal que há de celebrar-se em todos os lugares na Sexta-feira da

Paixão e Morte do Senhor e ainda estender-se segundo as circunstancias, ao Sábado Santo, para que

deste modo cheguemos à alegria do Domingo da Ressurreição com ânimo elevado e grande

entusiasmo” (Sacrosanctum Concilium, n. 110).

Para o Papa Bento XVI, “jejuar significa aceitar um aspecto essencial da vida cristã. É

necessário redescobrir também o aspecto corporal da fé, a abstinência do alimento é um desses

aspectos” (Joseph Ratzinger, no livro A Fé em crise?).

6.2. SEGUNDO A BÍBLIA O QUE DEUS NOS FALA SOBRE O JEJUM?

O Antigo Testamento é rico em passagens que revelam a prática do jejum associada à vida

espiritual. Eis apenas alguns exemplos: Lv 16,29; Nm 29,7; 1Rs 21,9; Esd 8,21; Tb 12,8; Jl 1,14,

2Sm 12,16. No livro do Gênesis pode-se encontrar uma primeira referência ao jejum, ainda que

indireta, na ordem de Deus: “Podes comer do fruto de todas as árvores, do jardim, mas não comas

do fruto da árvore da ciência do bem do mal, porque no dia em que dele comeres, morrerás

indubitavelmente” (Gn 2, 16-17).

Na cultura judaica, o jejum era cumprido rigorosamente, o que é atestado pelos constantes

desencontros de Jesus com os fariseus a respeito do tema (Mc 2,18; Lc 5,33).

Jesus jejuou durante quarenta dias e quarenta noites, depois do seu batismo (Mt 4,2). O

jejum de Jesus precede o início da pregação de Jesus (Mt 4,17), a escolha dos primeiros discípulos

(Mt 4, 18-22), as primeiras curas (Mt 4,23-25) e o sermão sobre as bem-aventuranças (Mt 5,1-12).

O jejum é necessário para o apostolado. Aumenta nossa intimidade com Deus Pai e

potencializa nossa oração (Mt 17,14-20; Mc 9,29). Com efeito, Jesus declarou certa ocasião:

”quanto a esta espécie de demônio, só se pode expulsar à força de oração e de jejum”.

O Livro de Atos registra os crentes jejuando antes de tomarem importantes decisões (Atos13:4; 14:23).

São Paulo dá um sentido mais amplo ao jejum, inserindo-o nas práticas que nos ajudam a

viver segundo o Espírito e não apenas segundo a carne: “Portanto irmãos, não somos devedores da

carne, para que vivamos segundo a carne. De fato, se viverdes segundo a carne, haveis de morrer;

mas, se pelo Espírito mortificardes as obras da carne, vivereis, pois todos os que são conduzidos

pelo Espírito de Deus são filhos de Deus (Rm 8, 13-14).

6.3. COMO PREPARAR-SE PARA PRATICAR O JEJUM?

O jejum é um sinal externo da conversão do coração. Portanto, sua preparação exige um

profundo exame de consciência e uma atitude de contrição, de arrependimento de nossas fraquezas

e um propósito firme de mudança de vida.

Pela boca do profeta Isaías, o Senhor revela o sentido da conversão que deve acompanhar o

jejum: “Sabeis qual é o jejum que eu aprecio? - diz o Senhor Deus: É romper as cadeias injustas,

desatar as cordas do jugo, mandar embora livres os oprimidos, e quebrar toda espécie de jugo” (Is

58, 6).

6.4. COMO PRATICAR O JEJUM?

O jejum deve estar associado a uma visão positiva da vida espiritual, o que impede que seja

compreendido como uma pena ou sacrifício ruim. Deve, portanto, expressar a alegria, a fé e a

esperança. É Jesus mesmo quem nos ensina a esse respeito: “Quando jejuardes, não tomeis um ar

triste como os hipócritas, que mostram um semblante abatido para manifestar aos homens que

jejuam. (...) Quando jejuares, perfuma a tua cabeça e lava teu rosto Assim não parecerá aos homens

que jejuas, mas somente a teu Pai, que vê no segredo” (Mt 6,16-18).

6.5. QUAIS OS BENEFÍCIOS E EFEITOS DO JEJUM?

Os benefícios do jejum vão além da vida espiritual. Eles cobrem muitos aspectos da vida

humana. Além do domínio dos vícios, o jejum enobrece a mente, auxilia alcançar as virtudes da

sabedoria, da prudência e temperança, promove o bem-estar, recupera as perdas espirituais e nos

prepara para a batalha do dia-a-dia da fé; por isto é eficaz em quatro áreas fundamentais.

a) Alimentar e física:

• Disciplina a forma desordenada e irregular de comer e o mau hábito de beliscar entre as

refeições, fumar, tomar café, chás, doces lanches e refrigerantes, a todo instante;

• Elimina o reprovável desperdício e ensina a conhecer o valor nutritivo dos alimentos

vegetais e animais e a importância dos produtos naturais, orgânicos;

• Torna o corpo mais saudável através do bom funcionamento do sistema digestivo e

possibilita aumento a expectativa de vida.

b) Mental e psicológica:

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• Mantém a mente descansada, mais aberta e sensível às coisas espirituais, atividades e à

criatividade intelectual em diversas áreas;

• Aumenta a estabilidade mental e psicológica através do domínio das emoções, torna o corpo

leve, ativo e incansável (a história demonstra que os filósofos pagãos, na Grécia antiga, para

um melhor desempenho intelectual, jejuavam espontaneamente antes de entrarem em

debates públicos).

c) Moral e religiosa:

• Supera as dependências e apegos às coisas materiais supérfluas e amplia a consciência do

ser;

• Fortalece a vontade, renova a força moral e consolida os verdadeiros valores e a fé;

• Estimula a partilha com generosidade e abre o nosso coração à caridade, oferecendo aos

necessitados, os que sofrem, aquilo que vem a sobrar em nossas despensas: “Boa coisa é a

oração acompanhada de jejum, e a esmola é preferível aos tesouros de ouro escondidos” (Tb

12,8)

• Traz o domínio sobre a presunção, a indolência espiritual e moral e intensifica a genuína

piedade.

d) Vida de fé:

• Prepara para uma intensa participação nos mistérios da Fé, nos Sacramentos, em particular

da Penitência ou Confissão e da Eucaristia.

E produz:

• Maior qualidade de vida interior, vida na graça e união íntima, real, natural, pessoal e

constante com Deus;

• Docilidade e abertura às inspirações do Espírito Santo;

• Maior silêncio, busca da meditação, confiança e disposição para a adoração;

• Maior disponibilidade para servir, para a missão e para o próximo;

• Libertação a partir da renúncia à gula, luxúria, preguiça e demais pecados capitais;

• É uma poderosa arma contra as tentações do Inimigo;

• Portanto não deve ser visto como um dever, mas um direito que nos abre à Graça.

6.6. QUAIS OS PREJUÍZOS QUANDO NÃO PRATICAMOS O JEJUM?

O maior prejuízo, sem dúvida, é deixar-se levar pelas tendências humanas da “vida segundo

a carne”, como nos ensina São Paulo (Rm 8). Não se trata de viver o dualismo corpo e espírito,

muito enfatizado na Idade Média, que via como mal e pecaminoso tudo o que se relacionava ao

corpo. Isso, de fato, é um exagero e não corresponde à doutrina cristã: Deus, que criou-nos também

o corpo, “viu que tudo era bom” (Gn 1,31).

6.7. QUAL A REGULARIDADE PARA PRATICAR O JEJUM?

O jejum não deve ser praticado em demasia e exagero, pois isso causa prejuízo ao corpo,

constituindo-se nesse caso um mal e não um bem. É preciso bom senso e equilíbrio. No Código de

Direito Canônico, a Igreja nos ensina que “os dias e tempos penitenciais, em toda a Igreja, são todas

as sextas-feiras do ano e o tempo da quaresma” (Cân. 1250). E ainda: “Observe-se a abstinência de

carne ou de outro alimento, segundo as prescrições da conferência dos Bispos, em todas as sextasfeiras

do ano, a não ser que coincidam com algum dia enumerado entre as solenidades; observem-se

a abstinência e o jejum na quarta-feira de Cinzas e na sexta-feira da Paixão e Morte de Nosso

Senhor Jesus Cristo” (Can. 1251).

Há também a orientação da Igreja para o jejum que prepara a participação na Eucaristia:

“Quem vai receber a Santíssima Eucaristia abstenha-se de qualquer comida ou bebida, excetuandose

somente água e remédio no espaço de ao menos uma hora antes da sagrada comunhão” (Can.

919).

6.8. QUEM PODE E QUEM DEVE PRATICAR O JEJUM?

Conforme o ensinamento da Igreja, no Código de Direito Canônico, “todos os fiéis, cada

qual a seu modo, estão obrigados por lei divina a fazer penitência; mas, para que todos estejam

unidos mediante certa observância comum da penitência, são prescritos dias penitenciais, em que os

fiéis se dediquem de modo especial à oração, façam obras de piedade e caridade, renunciem a si

mesmos, cumprindo ainda mais fielmente as próprias obrigações e observando principalmente o

jejum e a abstinência, de acordo com os cânones seguintes” (Can. 1249).

A Igreja também ensina que estão obrigados à lei da abstinência aqueles que tiverem

completado catorze anos de idade; estão obrigados à lei do jejum todos os maiores de idade até os

sessenta anos começados. Todavia, os pastores de almas e os pais cuidem que sejam formados para

o genuíno sentido da penitência também os que não estão obrigados à lei do jejum e da abstinência em razão da pouca idade” (Can. 1252).
 Fonte:www.derradeirasgraças.com
Fonte:www.rcc.org.br


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