Uma Nova Evangelização, um Novo Pentecostes!




O Papa João Paulo II, este incansável missionário do Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo, que tem rodado os cinco continentes e como pastor tem gritado para todos os homens que a Igreja necessita de uma nova evangelização, tem suscitado a todos nós católicos, em todos nós cristãos, um especial empenho nessa nova evangelização. O que é este forte mandado que Deus grita para a Igreja através do Santo Padre? O que é este mandado que Deus grita para toda a Igreja da América Latina através da voz dos nossos bispos que dizem: "É necessário evangelizar, é necessário uma nova evangelização. "


Em Lucas 24,13-17.25-32 nós vemos aqueles dois discípulos indo para Emaús tristes, abatidos, decepcionados e até sem esperança. Tudo isso porque eles eram discípulos de Jesus que há três dias tinha sido crucificado. Eles não sabiam ainda que Ele tinha ressuscitado, que estava vivo. Para eles Jesus tinha sido derrotado na cruz. Não compreendiam que Jesus tinha vencido a morte, que era vencedor de todo mal. A vitória já estava conquistada, mas aqueles discípulos viviam como se aquilo não fosse verdade. Não haviam ainda conhecido Jesus Vivo. Caminhavam na estrada da vida...

Os nossos bispos nos lembram que, assim como os discípulos de Emaús, a humanidade, os homens, cada um de nós caminhamos na vida muito tristes, muito angustiados, sofridos, marcados pelos problemas de família, da situação do nosso país, voltados para os nossos complexos, enfermidades e traumas.

Somos discípulos de Jesus Cristo, mas ainda não experimentamos Jesus Vivo, Jesus Ressuscitado nas nossas vidas. Vivemos como se Jesus estivesse morto e não vitorioso no meio de nós para nos fazer vencedores de todas as dificuldades, de todos os problemas e ansiedades que nós como homens carregamos na estrada da vida.

Mas Jesus vai ao encontro dos dois discípulos. Ele vai ressuscitado, cheio de amor, poder e misericórdia. Hoje Jesus também vai ao encontro do homem sofredor, que está marcado com o peso de seus pecados e de suas dificuldades. E os nossos bispos dizem que a Nova Evangelização é isso: é levar a pessoa de Jesus Cristo, é levar Jesus Vivo ao coração de muitos que estão caminhando como se Ele não estivesse vivo porque Jesus deseja entrar na vida destas pessoas, na minha vida, na sua vida, na vida de cada um de nós.

Ele penetra na história da minha vida e também deseja penetrar, como fez com os discípulos de Emaús, na história da sua vida de uma maneira muito concreta, muito real não só através de palavras, ou do intelecto mas através de uma experiência viva. Os discípulos de Emaús sentiram o coração esquentar com a presença de Jesus na vida deles. Jesus deseja entrar, na nossa vida deseja curar as nossas feridas, deseja transformar a nossa vida. A nova Evangelização é isso: é proclamar para mim mesmo que Jesus está vivo, que Ele está ressuscitado, que Ele é real, que tem poder para penetrar na nossa vida e transformá-la.

Ele é, na verdade, como aquele bom samaritano. Foi o próprio Jesus que falou do bom samaritano, que ia passando e viu aquele homem, no meio da estrada, sofrido, ferido. Muitos passaram e nem ligaram para ele. Mas o bom samaritano veio, tomou aquele homem nos seus braços, levou para a hospedaria, atou-lhe as feridas e mandou que cuidassem dele.

Os nossos bispos lembram que Jesus é hoje este bom samaritano, que passando na nossa vida nos vê do jeito que nós estamos. Você e muitos dos que estão por aí, são aqueles que estão à beira do caminho, ferido, marcado, com o coração duro, resistente a seus apelos, muitas vezes envolvido no álcool, nas drogas, nas impurezas, na ambição, no poder, no possuir, no adultério, cego, sofrendo com o peso do pecado, pois não sabe nem porque sofre, mas sofre a ausência de Deus, sofre a ausência de Jesus.

Muitos de nós passamos indiferentes a essas pessoas e talvez muitos passaram indiferentes a nós, mas Jesus entrou e entra na vida do que está ferido. Ele é o bom samaritano, que entra na nossa vida no nosso coração. A Nova Evangelização é ver que isto é real. Jesus está vivo. E pode penetrar em todas as áreas da nossa vida, pode nos libertar das nossas angústias, das nossas dificuldades, de nossos pecados, da resistência na família, da nossa ambição, da nossa avareza. Não há nenhuma coisa que seja maior que o Amor e o Poder de Jesus vivo, que pode libertar, salvar e transformar você numa nova criatura, convertida.

Isto é Nova Evangelização: anunciar Jesus ressuscitado, Jesus, o bom samaritano, que penetra nas nossas vidas, que cura as nossas feridas.
Como é que Jesus penetra nas nossas vidas?! Como foi que Ele fez lá com os discípulos de Emaús?! Ele foi se aproximando, devagarzinho, sem nem se revelar direito, e foi começando a iluminar a vida, as dificuldades, os problemas, a tristeza daqueles dois homens que conversavam, com a Sua Palavra. E os nossos bispos dizem: A Nova Evangelização consiste em levar a Palavra de Deus, esta Palavra que tem poder, que tem a solução, a resposta, que não é como a Palavra dos homens, como as ideologias e caminhos falsos do homem.

A Nova Evangelização não é um novo Evangelho, é o mesmo Evangelho, a mesma Palavra, e o mesmo Jesus a iluminar a nossa vida. Na Bíblia a palavra de Jesus tem poder, tem respostas para as suas perguntas. Na Bíblia está a paz que você procura, a solução para as suas dificuldades, a força para você caminhar, a luz para iluminar as suas idéias, para abrir seus olhos, para que você veja Jesus vivo Da sua caminhada. É na luz da Palavra de Deus, é segundo esta Palavra que a Nova Evangelização caminha.

Na medida em que nós nos aproximarmos da Palavra de Deus, em oração, em humildade, o poder da Palavra penetra e transforma o mais profundo do nosso coração.
Os homens estão exaustos de conselhos vazios. Nós muitas vezes estamos derramando água em vez de derramar vida. Estamos dando palavras soltas em vez do poder da Palavra de Deus. É isso que o coração do homem quer. É o remédio para a ferida do Homem.

Os Bispos nos alertam: A Nova Evangelização tem que ser segundo a palavra de Deus, segundo o Evangelho. Hoje tem-se fome e sede da Palavra de Deus. Não dê conselhos seus, idéias suas, o que você acha ... Dê a Palavra de Deus, dê o Evangelho. Aproxime-se da Palavra de Deus e você vai encontrar vida e salvação.

Os Bispos e o Santo Padre têm insistido: Não haverá Nova Evangelização sem um Novo Pentecostes. O Papa disse em Santo Domingo: "América, abre-te ao Cristo, acolhe o Espírito Santo, para que, em todas as tuas comunidades tenha lugar um Novo Pentecostes e surgirá de ti uma humanidade nova, bem-aventurada.

Só levaremos Jesus aos corações dos homens se nossos corações estiverem cheios do Espírito Santo, se acontecer um derramamento vivo do Espírito Santo, um novo ardor, que só o Espírito Santo pode dar. Pentecostes é isso. É um derramamento do poder, do amor, da graça de Deus sobre cada um de nós. Há muito, na Renovação carismática, Deus tem nos falado deste Novo Pentecostes. E muitos têm experimentado em sua vida um poder novo, um fogo novo, uma vida nova que o Espírito Santo nos dá.

O Papa e os Bispos dizem: Não haverá futuro para a Igreja, para o mundo se não houver um Novo Pentecostes. Isso nos alegra, mas nos dá grande responsabilidade, a primeira de crescermos nessa graça que recebemos, e a segunda, de levar esta graça a muitos. E isso só o Espírito Santo pode realizar em nós.

O Espírito Santo tem sido derramado e muitos têm experimentado esta graça. Se você já é batizado no Espírito Santo, o Senhor deseja que você cresça nesta graça. O Senhor deseja que mergulhemos no Espírito Santo, que sejamos cheios do Espírito Santo, porque só com Ele o mundo e nossa vida podem ser transformados.

Você está aqui para ter um encontro vivo com Jesus, para que Jesus queime seu coração, derrame o Espírito Santo, transforme sua vida, dê a você um Novo Pentecostes, pessoal, faça de você instrumento para que muitos outros tenham esta experiência, este Novo Pentecostes.
O Novo Pentecostes vai nos transformar por dentro, vai nos dar um ânimo novo, uma nova compreensão do que seja santidade.

O mundo está tomado pelo pecado e nós só poderemos enfrentar o mundo a não ser com o poder, a unção do Espírito Santo, com o Novo Pentecostes ardendo em nosso coração, porque o mundo tem força, mas Deus é maior, e nós cremos nisso.

Se você se deixar atingir pelo poder de Deus, você experimentará um poder novo que animará sua vida e tirará você da mediocridade, da mornidão de sua fé, acenderá um fogo dentro de você, leigo, religioso ou sacerdote.

O Espírito Santo quer reacender as forças de Deus em nós, quer fazer de nós apóstolos poderosos, que desejam a santidade, porque este é o primeiro fruto do Novo Pentecostes: o desejo de ser santo, de mudar de vida, de ter a luz de Deus em nós para brilhar para os povos, para ser sinal, um outro Jesus Cristo.

O Senhor quer nos dar um Novo Pentecostes, e o primeiro fruto é a transformação, não por nós mesmo, porque somos fracos, mas pela força, pelo poder de Deus.
A primeira graça é interior. A segunda graça é para fora, é o Espírito de Deus, na efusão, na transformação, que nos faz transbordar, nos dá um novo ânimo, novo dinamismo, novo poder evangelizador. Nós não o conseguimos reter em nós mesmos. E, quando Jesus derrama o Espírito Santo, Ele vem queimar nosso coração, nossos pecados, mas esse fogo não fica só em nós. Jesus quer que este fogo se alastre, e através de nós. Por isso, Ele nos dá um ânimo novo de evangelizar com poder, porque Pentecostes é sinônimo de poder, de um poder novo, inflamando nossas almas, porque em Pentecostes, aquelas línguas consumiram o coração dos homens para que saíssem a evangelizar, a proclamar o nome de Jesus.

Pentecostes são línguas de fogo e o Senhor deseja nos dar estas línguas de fogo, este poder, que ora, que proclama, que nos faz mergulhar no coração de Deus, que nos faz novos.
O Espírito Santo faz isso. As línguas de fogo, sinais do poder de Deus, fazem isso em nosso coração. Dão ânimo, força, vitalidade nova faz de nós crianças animadas, alegres, felizes, para anunciar, para levar Jesus, proclamar de graça o que de graça recebemos.

Quando você recebe uma grande graça, você não consegue ficar quieto. Quando o presente é precioso você fica querendo contar, comunicar logo àqueles que estão próximos de você. Que preciosidade é o Espírito de Deus, é o poder de Deus, é Jesus ressuscitado. É essa preciosidade que recebemos no Novo Pentecostes, que o próprio Espírito Santo nos infunde e nos faz comunicar a todos ao nosso redor.

O carismático é fogo, e é mesmo. Ele não pode ficar parado. É como disse o profeta: "Um fogo há dentro de mim que me consome. Eu queria calar minha boca, mas eu não posso. É necessário proclamar a palavra de Deus.

Hoje quem diz são os Bispos e o Papa. Nós nos juntamos a eles e proclamamos: É necessário evangelizar e por isso queremos o Novo Pentecostes na nossa vida, guiando-nos, animando nos, inflamando-nos a evangelizar.

Há um novo Pentecostes no meio de nós, aproveite a Graça. Abra seu coração. Experimente o seu poder. Novo pentecostes também, como diz nas Escrituras foram os prodígios, foram os milagres que marcaram a ação dos apóstolos.

O temor de Deus se apossava do coração de muitos porque eram muitos os prodígios, os milagres, os sinais que eram feitos por meio das mãos dos apóstolos. Sim, no novo Pentecostes de hoje há maravilhas, há prodígios, há milagres. O Senhor continua a realizar no meio de nós porque Jesus está vivo e, como está vivo, Seu poder é atuante. Ele é o mesmo que fazia maravilhas por meio dos apóstolos e é o mesmo que pode fazer maravilhas nas nossas vidas pelas nossas mãos.

Não, as nossas mãos não são santas, mas o Espírito de Deus que está em nosso coração, este é santo e tem o poder de através de nós e em nós realizar maravilhas maiores porque nós vimos nas sagradas escrituras e esta promessa é de Jesus e a palavra de Jesus é verdadeira. Ele disse: " Aquele que crer em mim fará as obras que eu faço e fará maiores ainda". Hoje nós estamos vendo no mundo maravilhas e prodígios na Igreja. Jesus ressuscitado curando, libertando, transformando, convertendo porque este é o maior milagre. Nós não nos espantamos que em pleno carnaval quinze mil pessoas reunidas sejam convertidas pelo poder de Deus, mas desacreditamos de uma cura física. Ora, se Deus que tem poder de reunir quinze mil não teria poder de curar? E Ele faz e fará. Isto é Novo Pentecostes. Isto é nova vida. É poder de Deus derramado no meio de nós - sinal da vitória de Deus sobre o pecado, sobre a morte. É Jesus que liberta todo o homem, o homem todo.

O Novo Pentecostes é isso. É poder de Deus, é milagre, prodígio, cura e libertação. Carismas que são derramados abundantemente dentro da Igreja, através de nós, pobres membros, que contribuem para edificação e construção do Reino de Deus. A partilha é também Novo Pentecostes. Sim, porque qual foi o primeiro fruto de Pentecostes? Foi a comunidade cristã. Depois do derramamento do Espírito e da pregação do Evangelho, os cristãos se reuniram em comunidade e começaram a partilhar sua vida, começaram a dividir os seus bens, a servir a Deus, a olhar o outro ... O Novo Pentecostes é isso também. Temos visto isto no meio de nós, no mundo inteiro. Milhares de pessoas tem se reunido para orar, dividir e partilhar suas vidas. Têm saído de si para servir à Igreja, aos outros, aos mais pobres e necessitados, aos enfermos.

No Novo Pentecostes, descobrimos que Deus é Pai, que Deus é amor e esse amor de Deus nos inflama e nos empurra para o outro e todos são nossos irmãos. Descobrimos o desejo de inflamar o outro e de amar o outro como eu amo a mim, de partilhar a minha vida, os meus bens, tudo o que eu sou, tudo o que eu tenho para a glória de Deus, por amor a Deus, com os meus irmãos. Novo Pentecostes é isso, é descobrir que o outro é meu irmão e que, como Deus me ama, como Deus me perdoa, eu também amo e perdôo o outro. E não há ofensa que não posa ser perdoada, não há dificuldade que eu não possa ajudar, e não há bem que eu não possa partilhar, que eu não possa dividir, porque com o Novo Pentecostes nós descobrimos que há maior alegria em dar do que em receber, descobrimos a felicidade de servir. Descobrimos aquela palavra do Evangelho de Jesus, quando Ele lavou os pés dos apóstolos e Ele disse em outras palavras: "Se vocês lavarem os pés uns dos outros, vocês serão felizes sob a condição de isto praticarem. Se vocês descobrirem que é servindo que vocês vão encontrar a alegria, vocês serão felizes."

É no Novo Pentecostes que descobrirmos a alegria de servir, a alegria de dar a vida para amar o outro, os mais difíceis, os mais complicados, de dar vida para ajudar os mais necessitados, de ver que o outro é meu irmão e que nele está a presença de Deus. Tudo o que eu sou e o que tenho não é só para mim, é para dividir, é para partilhar com os outros. Isto é Novo Pentecostes.

Esta é a verdade que descobrimos. Esta é a alegria que nos faz ser Igreja. Somos irmãos. Somos filhos de um mesmo Pai. O mesmo Espírito nos une! O Espírito de Pentecostes, o Espírito Santo de Deus. Isto é Novo Pentecostes, é a alegria de sermos irmãos, isto é Novo Pentecostes. E é com esta força, com este poder que o Senhor nos envia para a missão.

O Senhor nos dá a graça da missão, a graça da parresia. O que é parresia? Parresia é uma graça, que está no Novo Testamento, e que é um ânimo do evangelizador. Um ânimo dele cumprir a missão que Deus lhe deu, enfrentando todos os obstáculos, enfrentando todos os desafios, enfrentando tudo o que se levanta contra o projeto de Deus, mas que vivamente, firmemente, com a cabeça erguida, animado pelo Espírito, ele enfrenta, porque sabe que a vitória é de Deus, porque ele sabe que Jesus é o vencedor, porque Ele já venceu todas as coisas. E o Novo Pentecostes nos empurra para a missão, o Novo Pentecostes nos dá esta graça da parresia, nos leva a ter este ânimo novo, porque é necessário renovar as paróquias, é necessário renovar as estruturas que estão aí, é necessário renovar o mundo inteiro.



A nova evangelização


A vida humana não se realiza por si só. A nossa vida é uma questão aberta, um projecto incompleto que ainda deve ser terminado e realizado. A pergunta fundamental de cada homem é:  como se realiza isto tornar-se homem? Como se aprende a arte de viver? Qual é o caminho da felicidade?

Evangelizar significa:  mostrar este caminho. Jesus diz no início da sua vida pública:  Vim para evangelizar os pobres (cf. Lc 4, 18); isto significa:  eu tenho a resposta para a vossa pergunta fundamental; eu indico-vos o caminho da vida, o caminho da felicidade ou melhor:  eu sou esse caminho. A maior pobreza é a incapacidade de alegria, o tédio da vida considerada absurda e contraditória. Esta pobreza hoje está muito difundida, em formas muito diferentes, quer nas sociedades materialmente ricas quer também nos países pobres. A incapacidade de alegria supõe e causa a incapacidade de amar, inveja, avareza todos estes são vícios que devastam a vida dos indivíduos e o mundo. Eis por que precisamos de uma nova evangelização se a arte de viver permanece desconhecida, tudo o mais deixa de funcionar. Mas esta arte não é objecto da ciência esta arte só pode ser comunicada por quem tem a vida aquele que é o Evangelho em pessoa.

I. Estrutura e método na nova evangelização

1. A estrutura

Antes de falar dos conteúdos fundamentais da nova evangelização desejaria dizer uma palavra acerca da sua estrutura e método adequados. A Igreja evangeliza sempre e jamais interrompeu o caminho da evangelização. Celebra todos os dias o mistério eucarístico, administra os sacramentos, anuncia a palavra da vida a palavra de Deus, empenha-se pela justiça e pela caridade. E esta evangelização dá frutos: produz luz e alegria, dá o caminho da vida a muitas pessoas; há quem viva, muitas vezes sem saber, da luz e do calor resplandecente desta evangelização permanente. Contudo, observamos um processo progressivo e preocupante de descristianização e de perda dos valores humanos essenciais. Uma boa parte da humanidade de hoje não encontra na evangelização permanente da Igreja o Evangelho, ou seja, uma resposta convincente à pergunta: como viver?

Eis por que procuramos, além da evangelização permanente, jamais interrompida e que nunca se deve deter, uma nova evangelização, capaz de se fazer ouvir por aquele mundo que não encontra o acesso à evangelização "clássica". Todos têm necessidade do Evangelho; o Evangelho destina-se a todos e não apenas a um círculo determinado, e portanto somos obrigados a procurar novos caminhos para levar o Evangelho a todos.

Mas também se esconde nisto uma tentação a tentação da impaciência, a tentação de procurar imediatamente o grande sucesso, de procurar os grandes números. E este não é o método de Deus. Para o reino de Deus e a evangelização, instrumento e veículo do reino de Deus, é sempre válida a parábola do grão de mostarda (cf. Mc 31-32). O reino de Deus recomeça sempre de novo sob este sinal. Nova evangelização não pode significar: atrair imediatamente com novos métodos mais requintados as grandes multidões que se afastaram da Igreja. Não não é esta a promessa da nova evangelização. Nova evangelização significa: não acontentar-se com o facto de que do grão de mostarda cresceu a grande árvore da Igreja universal, não pensar que é suficiente que nos seus ramos muito diferentes as aves possam encontrar lugar mas ousar de novo com a humildade do pequeno grão, deixando para Deus quando e como crescerá (cf. Mc 4, 26-29).

As grandes coisas começam sempre do pequeno grão e os movimentos em massa são sempre efémeros. Na sua visão do processo da evolução, Teilhard de Chardin fala do "branco das origens" (le blanc des origines):  o início das novas espécies é invisível e a investigação científica não o pode encontrar. As fontes são escondidas muito pequenas. Por outras palavras: as grandes realidades iniciam-se em humildade. Deixemos de lado se e até que ponto Teilhard tem razão com as suas teorias evolucionistas; a lei das origens invisíveis diz uma verdade uma verdade presente precisamente no agir de Deus na história: "Não te elegi porque és grande, ao contrário és o mais pequeno de entre os povos; elegi-te porque te amo...", diz Deus ao povo de Israel no Antigo Testamento e exprime desta forma o paradoxo fundamental da história da salvação: sem dúvida, Deus não conta com os grandes números; o poder exterior não é o sinal da sua presença. Grande parte das parábolas de Jesus indicam esta estrutura do agir divino e respondem desta forma às preocupações dos discípulos, os quais esperavam outro tipo de sucesso e de sinais do Messias sucessos do género dos que Satanás ofereceu ao Senhor:  dou-te todos os reinos do mundo tudo isto... (cf. Mt 4, 9). Sem dúvida, Paulo, no final da sua vida, teve a impressão de ter levado o Evangelho aos confins da terra, mas os cristãos eram pequenas comunidades espalhadas no mundo, insignificantes segundo os critérios seculares. Na realidade foram o germe que penetrou na massa a partir de dentro e levaram em si o futuro do mundo (cf. Mt 13, 33). Um antigo provérbio diz:  "Sucesso não é um nome de Deus". A nova evangelização deve submeter-se ao mistério do grão de mostarda e não pretender produzir imediatamente a grande árvore. Nós ou vivemos demasiado na certeza da grande árvore que já existe ou na impaciência de possuir uma árvore maior, mais vital ao contrário, devemos aceitar o mistério que a Igreja é ao mesmo tempo grande árvore e pequeníssimo grão. Na história da salvação é sempre Sexta-Feira Santa e, contemporaneamente, Domingo de Páscoa...





2. O método

Desta estrutura da nova evangelização deriva também o método justo. Sem dúvida, devemos usar de modo razoável os métodos modernos para nos fazer ouvir, ou melhor:  para tornar acessível e compreensível a voz do Senhor... Não procuramos escuta para nós não queremos aumentar o poder e a extensão das nossas instituições, mas desejamos servir o bem das pessoas e da humanidade dando espaço Àquele que é a Vida. Esta expropriação do próprio eu oferecendo Cristo para salvação dos homens, é a condição fundamental do verdadeiro empenho pelo evangelho. "Vim em nome de Meu Pai e não Me recebestes, mas se vier outro, em seu próprio nome, recebê-lo-eis" (Jo 5, 43). O sinal distintivo do Anticristo é falar em seu nome. O sinal do Filho é a sua comunhão com o Pai. O Filho introduz-nos na comunhão trinitária, no círculo do eterno amor, cujas pessoas são "relações puras", o acto puro do doar-se e receber-se. O desígnio trinitário visível no Filho, que não fala em seu nome mostra a forma de vida do verdadeiro evangelizador aliás, evangelizar não é simplesmente uma forma de falar, mas uma forma de viver:  viver em escuta e fazer-se voz do Pai. "Não falará de Si mesmo, mas dirá tudo o que tiver ouvido", diz o Senhor acerca do Espírito Santo (cf. Jo 16, 13). Esta forma cristológica e pneumatológica da evangelização é simultaneamente uma forma eclesiológica:  o Senhor e o Espírito constroem a Igreja, comunicam-se na Igreja. O anúncio de Cristo, o anúncio do reino de Deus pressupõe escuta da sua voz na voz da Igreja. "Não falará de Si mesmo" significa:  falar na missão da Igreja...

Desta lei da expropriação derivam consequências muito práticas. Todos os métodos razoáveis e moralmente aceitáveis devem ser estudados - é um dever fazer uso destas possibilidades de comunicação. Mas as palavras e toda a arte da comunicação não podem conquistar a pessoa humana naquela profundidade, à qual deve chegar o Evangelho. Há alguns anos li a biografia de um ótimo sacerdote do nosso século, Pe. Didimo, pároco de Bassano del Grappa (Itália, n.d.r.). Nas suas notas encontram-se palavras de ouro, fruto de uma vida de oração e de meditação. A respeito de nós diz Pe. Didimo:  "Jesus pregava de dia, de noite rezava". Com esta breve notícia, ele queria dizer:  Jesus devia obter de Deus os discípulos. Isto é válido sempre. Nós não podemos ganhar os homens. Devemos obtê-los de Deus para Deus. Todos os métodos são vazios sem o fundamento da oração. A palavra do anúncio deve estar sempre imersa numa intensa vida de oração.

Devemos dar um ulterior passo. Jesus pregava de dia, de noite rezava o que não é tudo. A sua vida inteira foi como mostra de maneira admirável o evangelho de São Lucas um caminho rumo à cruz, ascensão rumo a Jerusalém. Jesus não redimiu o mundo com palavras bonitas, mas com o seu sofrimento e a sua morte. Esta sua paixão é a fonte inexaurível de vida para o mundo; a paixão dá força à sua palavra.

O próprio Senhor estendendo e ampliando a parábola do grão de mostarda formulou esta lei de fecundidade na parábola do grão que, ao cair na terra, morre (cf. Jo 12, 24). Esta lei também é válida até ao fim do mundo e é juntamente com o mistério do grão de mostarda fundamental para a nova evangelização. Toda a história o demonstra. Seria fácil demonstrar isto na história do cristianismo. Desejo recordar aqui apenas o início da evangelização na vida de São Paulo. O sucesso da sua missão não foi o resultado de uma grande arte retórica ou de prudência pastoral; a fecundidade estava relacionada com o sofrimento, com a comunhão na paixão de Cristo (cf. 1 Cor 2, 1-5; 2 Cor 5, 7; 11, 10 s; 11, 30; Gl 4, 12-14). "Nenhum sinal será dado a não ser o sinal do profeta Jonas", disse o Senhor. O sinal de Jonas é Cristo crucificado são as testemunhas, que completam o "que falta aos sofrimentos de Cristo" (Cl 1, 24). Em todos os períodos da história verificou-se sempre de novo as palavras de Tertuliano:  o sangue dos mártires é semente.
Santo Agostinho diz o mesmo de uma maneira muito bonita, ao interpretar Jo 21, onde a profecia do martírio de Pedro e o mandato de apascentar, ou seja, a instituição da sua primazia, estão intimamente relacionados. Santo Agostinho comenta o texto de Jo 21, 16 da seguinte forma:  "Apascenta as minhas ovelhas", o que significa, sofre pelas minhas ovelhas (Sermo Guelf. 32; PLS 2, 640). Uma mãe não pode dar luz a uma criança sem sofrer. Qualquer parto requer sofrimento, é dor, e tornar-se cristão é um parto. Digamo-lo mais uma vez com palavras do Senhor:  o reino de Deus exige violência (cf. Mt 11, 12; Lc 16, 16), mas a violência de Deus é o sofrimento, é a cruz. Não podemos dar a vida a outros, sem dar a nossa vida. O processo de expropriação acima mencionado é a forma concreta (expressa de muitas formas diferentes) de doar a própria vida. E pensamos na palavra do Salvador:  "...quem perder a sua vida por Mim e pelo Evangelho, salvá-la-á..." (Mc 8, 36).









II. Os conteúdos essenciais da nova evangelização





1. Conversão

No que se refere aos conteúdos da nova evangelização deve-se ter presente em primeiro lugar a inseparabilidade do Antigo e do Novo Testamento. O conteúdo fundamental do Antigo Testamento está resumido na mensagem de João Baptista:  Convertei-vos! Não se acede a Jesus sem o Baptista; não existe possibilidade de chegar a Jesus sem responder ao apelo do precursor; aliás:  Jesus assumiu a mensagem de João na síntese da sua própria pregação:  convertei-vos e acreditai no Evangelho (cf. Mc 1, 15). A palavra grega converter-se significa:  reconsiderar pôr em questão o próprio modo de viver e o comum; deixar entrar Deus nos critérios da própria vida; não julgar simplesmente de acordo com as opiniões correntes. Converter-se significa por conseguinte:  não viver como vivem todos, não fazer como fazem todos, não sentir-se justificados em acções duvidosas, ambíguas, perversas simplesmente porque há quem o faça; começar a ver a própria vida com os olhos de Deus, portanto procurar o bem, mesmo se não é agradável; não apostar no juízo da maioria, mas no juízo de Deus por outras palavras:  procurar um novo estilo de vida, uma vida nova. Tudo isto não implica um moralismo; a limitação do cristianismo à moralidade perde de vista a essência da mensagem de Cristo:  o dom de uma nova amizade, o dom da comunhão com Jesus e por conseguinte com Deus. Quem se converte a Cristo não pretende criar uma autonomia moral própria, não pretende construir com as próprias forças a sua bondade. "Conversão" (Metanóia) significa precisamente o contrário:  abandonar a auto-suficiência, descobrir e aceitar a própria indigência indigência dos outros e do Outro, do seu perdão, da sua amizade. A vida não convertida é autojustificação (não sou pior do que os outros); a conversão é a humildade de se confiar ao amor do Outro, amor que se torna medida e critério da minha própria vida.

Devemos ter também presente o aspecto social da conversão. Sem dúvida, a conversão é em primeiro lugar um acto pessoalíssimo, é personalização. Eu separo-me da fórmula "viver como todos" (já não me sinto justificado pelo facto de que todos fazem o que eu faço) e encontro perante Deus o meu próprio eu, a minha responsabilidade pessoal. Mas a verdadeira personalidade também é sempre uma nova e mais profunda socialização. O eu abre-se de novo ao tu, em toda a sua profundidade, e desta forma nasce um novo Nós. Se o estilo de vida difundido no mundo implica o perigo da despersonalização, do viver não a minha vida mas a vida dos outros, na conversão deve realizar-se um novo Nós do caminho comum com Deus. Ao anunciar a conversão também devemos oferecer uma comunidade de vida, um espaço comum do novo estilo de vida. Não se pode evangelizar só com palavras; o evangelho cria vida, cria comunidade de caminho; uma conversão meramente individual não tem consistência...


2. O Reino de Deus

Na chamada à conversão está implícito como sua condição fundamental o anúncio do Deus vivo. O teocentrismo é fundamental na mensagem de Jesus e também deve ser o centro da nova evangelização. A palavra-chave do anúncio de Jesus é:  Reino de Deus. Mas Reino de Deus não é uma coisa, uma estrutura social ou política, uma utopia. O Reino de Deus é Deus. Reino de Deus significa:  Deus existe. Deus vive. Deus está presente e age no mundo, na nossa na minha vida. Deus não é uma remota "causa última", Deus não é o "grande arquitecto" do deísmo, que construiu a máquina do mundo e agora se encontra fora. Ao contrário:  Deus é a realidade mais presente e decisiva em qualquer ato da minha vida, em todos os momentos da história. Na sua conferência de despedida da cátedra na universidade de Monastério, o teólogo J. B. Metz disse coisas que dele não se esperavam. No passado, Metz ensinou-nos o antropocentrismo o verdadeiro acontecimento do cristianismo teria sido a viragem antropológica, a secularização, a descoberta do secularismo no mundo. Depois, ensinou-nos a teologia política o carácter político da fé; depois a "memória perigosa"; finalmente a teologia narrativa. Depois deste caminho longo e difícil hoje dizemos:  o verdadeiro problema do nosso tempo é a "crise de Deus", a ausência de Deus, camuflada por uma religiosidade vazia. A teologia deve voltar a ser realmente teo-logia, um falar de Deus e com Deus. Metz tem razão:  para o homem, o "unum necessarium" é Deus. Tudo muda se Deus está ou não está presente. Infelizmente também nós cristãos vivemos muitas vezes como se Deus não existisse ("si Deus non daretur"). Vivemos segundo o slogan:  Deus não está presente, e se está, não tem incidência. Por isso a evangelização deve, antes de mais, falar de Deus, anunciar o único Deus verdadeiro:  o Criador o Santificador o Juiz (cf. Catecismo da Igreja Católica).

Também neste ponto se deve ter presente o aspecto prático. Deus não se pode dar a conhecer unicamente com as palavras. Não se conhece uma pessoa, se não sabemos directamente nada dela. Anunciar Deus é introduzir na relação com Deus:  ensinar a rezar. A oração é fé em acto. E só na experiência da vida com Deus se manifesta também a evidência da sua existência. Eis por que são tão importantes as escolas de oração, de comunidade de oração. Existe complementariedade entre oração pessoal ("no próprio quarto", sozinhos perante os olhos de Deus), oração comum "paralitúrgica" ("religiosidade popular") e oração litúrgica. Sim, a liturgia é, em primeiro lugar, oração; a sua especificidade consiste no facto que o seu sujeito primário não somos nós (como na oração privada e na religiosidade popular), mas o próprio Deus a liturgia é actio divina, Deus age e nós respondemos à acção divina.

Falar de Deus e falar com Deus são duas acções que devem andar sempre juntas. O anúncio de Deus orienta para a comunhão com Deus na comunhão fraterna, fundada e vivificada por Cristo. Portanto a liturgia (os sacramentos) não é um tema paralelo à pregação do Deus vivo, mas a concretização da nossa relação com Deus. Neste contexto, seja-me permitida uma observação geral sobre a questão litúrgica. O nosso modo de celebrar a liturgia com frequência é demasiado racional. A liturgia torna-se ensinamento, cujo critério é:  fazer-se compreender a consequência é com frequência a banalização do mistério, o prevalecer das nossas palavras, a repetição das fraseologias que parecem mais acessíveis e mais agradáveis ao povo. Mas isto é um erro não só teológico, mas também psicológico e pastoral. A onda do exoterismo, a difusão de técnicas asiáticas de distensão e auto-esvaziamento mostram que nas nossas liturgias falta algo.

Precisamente no nosso mundo de hoje precisamos do silêncio, do mistério supra-individual, da beleza. A liturgia não é invenção do sacerdote celebrante ou de um grupo de especialistas; a liturgia (o "rito") cresceu num processo orgânico ao longo dos séculos, leva em si o fruto da experiência de fé de todas as gerações. Mesmo se os participantes talvez não entendam todas as palavras, compreendem o significado profundo, a presença do mistério, que transcende todas as palavras. O celebrante não é o centro da ação litúrgica; o celebrante não está em frente do povo em seu nome não fala se si nem para si, mas "in persona Christi". Não contam as capacidades pessoais do celebrante, mas unicamente a sua fé, na qual se Cristo se torna transparente. "Ele deve crescer e eu diminuir" (Jo 3, 30).





3. Jesus Cristo

Com esta reflexão o tema Deus já se alargou e concretizou no tema Jesus Cristo:  só em Cristo e através de Cristo o tema Deus se torna realmente concreto:  Cristo é Emanuel, o Deus connosco a concretização do "Eu sou", a resposta ao Deísmo. Hoje é grande a tentação de reduzir Jesus Cristo, o único filho de Deus a um Jesus histórico, a um homem puro. Não se nega necessariamente a divindade de Jesus, mas com certos métodos destila-se da Bíblia um Jesus à nossa medida, um Jesus possível e compreensível dentro dos parâmetros da nossa historiografia. Mas este "Jesus histórico" é inatural, a imagem dos seus autores e não a imagem do Deus vivo (cf. 2 Cor 4, 4 s.; Cl 1, 15). O Cristo da fé não é um mito; o chamado Jesus histórico é uma figura mitológica, auto-inventada pelos diferentes intérpretes. Os duzentos anos de história de "Jesus histórico" refletem fielmente a história das filosofias e das ideologias deste período.

No âmbito desta conferência, não posso tratar os conteúdos do anúncio do Salvador. Desejaria brevemente mencionar dois aspectos importantes. O primeiro é o seguimento de Cristo Cristo oferece-se como caminho para a minha vida. Seguimento de Cristo não significa:  imitar o homem Jesus. Uma tentativa como esta falha necessariamente seria um anacronismo. O seguimento de Cristo tem uma meta mais alta:  assimilar-se a Cristo, isto é, alcançar a união com Deus. Estas palavras talvez soem mal aos ouvidos do homem moderno. Mas na realidade todos temos sede do infinito:  de uma liberdade infinita, de uma felicidade sem limites. Toda a história das revoluções dos últimos dois séculos só se explica desta forma. A droga explica-se assim. O homem não se contenta com soluções abaixo do nível da divinização. Mas todos os caminhos oferecidos pela "serpente" (Gn 3, 5), que significa pela sabedoria mundana, falham. O único caminho é a comunhão com Cristo, realizável na vida sacramental. Seguimento de Cristo não é um assunto de moral, mas um tema "místico" um conjunto de acção divina e de resposta da nossa parte.
Desta forma encontramos presente no tema seguimento o outro centro da cristologia, que desejaria mencionar:  o mistério pascal a cruz e a ressurreição. Nas reconstruções do "Jesus histórico" normalmente o tema da cruz não tem significado. Numa interpretação "burguesa" torna-se um acidente em si evitável, sem valor teológico; numa interpretação revolucionária torna-se a morte heróica de um rebelde. Mas a verdade é outra. A cruz pertence ao mistério divino é expressão do seu amor até ao fim (cf. Jo 13, 1). O seguimento de Cristo é participação da sua cruz, unir-se ao seu amor, à transformação da nossa vida, que se torna nascimento do homem novo, criado à imagem de Deus (cf. Ef 4, 24). Quem omite a cruz, omite a essência do cristianismo (cf. 1 Cor 2, 2).

4. A vida eterna

Um último elemento central de qualquer evangelização autêntica é a vida eterna. Hoje devemos anunciar a fé com renovado vigor na vida quotidiana. A este ponto, desejaria mencionar apenas um aspecto da pregação de Jesus que hoje, muitas vezes, é negligenciado:  o anúncio do Reino de Deus é o anúncio do Deus presente, do Deus que nos conhece, nos ouve; do Deus que entra na história, para fazer justiça. Portanto, esta pregação é também anúncio do juízo, anúncio da nossa responsabilidade. O homem não pode fazer ou deixar de fazer o que lhe apetece. Ele será julgado. Deve prestar contas. Esta certeza é válida tanto para os poderosos como para os simples. Onde ela é honrada, são delineados os limites de qualquer poder deste mundo. Deus faz justiça, e só ele o pode fazer por último. Nós consegui-lo-emos tanto mais, quanto mais formos capazes de viver sob o olhar de Deus e de comunicar ao mundo a verdade do juízo. Desta forma, o artigo de fé do juízo, a sua força de formação das consciências, é um conteúdo central do Evangelho e é deveras uma Boa Nova. E também o é para todos os que sofrem sob a injustiça do mundo e procuram a justiça. Compreende-se desta forma o nexo entre o Reino de Deus e os "pobres", os que sofrem e todos aqueles dos quais falam as bem-aventuranças do sermão da montanha. Eles são protegidos pela certeza do juízo, pela certeza que existe a justiça. Eis o verdadeiro conteúdo do artigo sobre o juízo, sobre Deus-juiz:  há justiça. As injustiças do mundo não são a última palavra da história. Existe uma justiça. Só quem não quer que haja justiça, se pode opor a esta verdade. Se tomarmos a sério o juízo e a seriedade da responsabilidade que disso nos advém, compreendemos bem o outro aspecto deste anúncio, isto é, a redenção, o facto de que na cruz Jesus assume os nossos pecados; que o próprio Deus na paixão do Filho se torna advogado de nós, pecadores, e desta forma torna possível a penitência, a esperança para o pecador arrependido, esperança expressa maravilhosamente nas palavras de São João:  diante de Deus, tranqüilizaremos o nosso coração, independentemente do que eles nos reprova. "Deus é maior que os nossos corações e conhece todas as coisas" (1 Jo 3, 20). A bondade de Deus é infinita, mas não devemos reduzir esta bondade a uma pieguice afetada sem verdade. Só acreditando no justo juízo de Deus, só tendo fome e sede de justiça (cf. Mt 5, 6) é que abrimos o nosso coração, a nossa vida à misericórdia divina. Vê-se:  não é verdade que a fé na vida eterna torna insignificante a vida terrena. Pelo contrário:  só se a medida da nossa vida for a eternidade, também a vida na terra é grande e o seu valor é imenso. Deus não é o concorrente da nossa vida, mas a garantia da nossa grandeza. Desta forma voltamos ao ponto de partida:  Deus. Se considerarmos bem a mensagem cristã, não falamos de muitas coisas. Na realidade, a mensagem cristã é muito simples. Falamos de Deus e do homem e, desta forma, dizemos tudo.
Papa Bento XVI reflete sobre a “Nova Evangelização”.





Papa Bento XVI reflete sobre a “Nova Evangelização”.







Em uma sociedade como a de hoje, frequentemente marcada pela secularização, a Igreja tem o dever de oferecer aos homens e mulheres “um renovado anúncio de esperança”.

Foi o que disse hoje o Papa Bento XVI, ao receber em audiência os participantes da Plenária do Conselho Pontifício para a Promoção da Nova Evangelização. Este organismo foi instituído no ano passado para dar “um princípio operativo” à necessidade de “oferecer uma resposta particular ao momento de crise da vida cristã”.

“O termo ‘nova evangelização’ recorda a exigência de uma renovada modalidade de anúncio, sobretudo para aqueles que vivem em um contexto, como o atual, em que os desenvolvimentos da secularização têm deixado pesadas marcas também em países de tradição cristã”, afirmou o Papa em seu discurso.

“Sublinhar que neste momento da história a Igreja está chamada a realizar uma nova evangelização quer dizer intensificar a ação missionária para corresponder plenamente ao mandato do Senhor.”

No atual contexto – reconheceu – “a crise que se vive leva consigo os traços da exclusão de Deus da vida das pessoas” e “de uma generalizada indiferença em relação à fé cristã, indo até a tentativa de marginalizá-la da vida pública”.

“Assiste-se ao drama da fragmentação, que não consente em ter uma referência de união; ademais, verifica-se frequentemente o fenômeno de pessoas que desejam pertencer à Igreja, mas que são fortemente influenciadas por uma visão da vida que contrasta com a fé.”

“Anunciar Jesus Cristo, único Salvador do mundo, parece ser hoje mais complexo que no passado; mas nosso dever é idêntico, como no alvorecer de nossa história”, reconheceu o Papa. “A missão não mudou, assim como não devem mudar o entusiasmo e a valentia que impulsionaram os Apóstolos e os primeiros discípulos”.

“O Espírito Santo que os alentou a abrir as portas do cenáculo, tornando-os Evangelizadores, é o mesmo Espírito que move hoje a Igreja em um renovado anúncio de esperança aos homens de nosso tempo”.

A nova evangelização – indicou – “deverá encarregar-se de encontrar os caminhos para tornar mais eficaz o anúncio da salvação, sem o qual a existência pessoal permanece em sua contradição e privada do essencial”.

“Também em quem permanece o laço com as raízes cristãs, mas vive a difícil relação com a modernidade, é importante fazer compreender que o ser cristão não é uma espécie de traje que se veste de forma privada ou em ocasiões particulares, mas algo vivo e integral, capaz de assumir tudo que há de bom na modernidade.”

Neste contexto, o Papa pediu “um projeto que seja capaz de ajudar toda a Igreja e as diferentes Igrejas particulares em seu compromisso com a nova evangelização”, em que “a urgência por um renovado anúncio se encarregue da formação, em particular das novas gerações”, e “se conjugue com a proposta de sinais concretos para fazer evidente a resposta que a igreja pretende oferecer neste momento especial”.

Dado que “o estilo de vida dos crentes precisa de uma genuína credibilidade, tanto mais convincente quanto mais é dramática a condição daqueles aos quais se dirigem”, o Papa concluiu com palavras da exortaçãoEvangelii nuntiandi, de Paulo VI: “Será pois, pelo seu comportamento, pela sua vida, que a Igreja há de, antes de mais nada, evangelizar este mundo; ou seja, pelo seu testemunho vivido com fidelidade ao Senhor Jesus, testemunho de pobreza, de desapego e de liberdade frente aos poderes deste mundo; numa palavra, testemunho de santidade”.



Moysés Azevedo Filho
Comunidade Católica Shalom
Fonte: www.comshalom.org

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