O
SANTO SACRIFÍCIO DA MISSA
PELAS
ORIGENS DA SANTA MISSA
Apresentamos a
nossos leitores mais um trabalho de Francisco Lafayette de Moraes
escrito na intenção de todos os católicos que,
tendo tomado conhecimento da Missa de São Pio V, voltaram a
freqüentá-la, a estudá-la e a fazer do Santo
Sacrifício da Missa uma fonte de vida espiritual.
Como o
modernismo instalado na Igreja deturpa as almas com seus erros, com
seus ritos heretizantes, parece necessário devolver a elas a
base que já não recebem mais no catecismo. Por isso o
autor apresenta de modo suscinto o essencial sobre a Santa Missa,
frizando seu duplo caráter, de verdadeiro sacrifício e
de sacramento instituído para a nossa salvação.
APRESENTAÇÃO.
Este
trabalho é a ordenação de trechos de várias
obras, de vários autores (ver Bibliografia), que mostraram e
provaram que a Missa enquanto sacrifício estava predita
desde o Antigo Testamento, e, ainda, que Jesus anunciou -
prometeu e instituiu o sacrifício-sacramento,
tendo os Santos Padres da Igreja, desde os primórdios do
Cristianismo, sempre ensinado aquilo que hoje é dogma de fé:
Missa é sacrifício com a presença real
(física) da Sagrada Vítima.
Se os dogmas relativos à Missa — isto é, o de ser a Missa um verdadeiro sacrifício, o da presença real, e o relativo ao sacerdócio ministerial — só foram formulados pelo Concílio de Trento, isto não significa que aquele Concílio do século XVI formulou uma doutrina nova, mas que tornou explícita a doutrina que até então havia sido sempre tacitamente aceita, e o fez em função da heresia protestante que negou, como ainda hoje nega, que a Missa seja sacrifício, querendo eles que seja um simples memorial do Senhor; negam, ainda, os protestantes a “presença real” e o “sacerdócio ministerial”. Hoje, depois do Concílio Vaticano II, quando muitos prelados da Igreja Católica, e até mesmo altos prelados, por terem assimilado a heresia protestante, apresentam a Missa como um memorial da Ceia do Senhor, entendi ser proveitoso compilar, para ajudar a combater a heresia progressista, o que outros autores com sabedoria e profundidade já haviam escrito para demonstrar que a Missa enquanto sacrifício está inserida no Deposito da Fé católica, estando predita no Velho Testamento e confirmada no Novo Testamento.
Se os dogmas relativos à Missa — isto é, o de ser a Missa um verdadeiro sacrifício, o da presença real, e o relativo ao sacerdócio ministerial — só foram formulados pelo Concílio de Trento, isto não significa que aquele Concílio do século XVI formulou uma doutrina nova, mas que tornou explícita a doutrina que até então havia sido sempre tacitamente aceita, e o fez em função da heresia protestante que negou, como ainda hoje nega, que a Missa seja sacrifício, querendo eles que seja um simples memorial do Senhor; negam, ainda, os protestantes a “presença real” e o “sacerdócio ministerial”. Hoje, depois do Concílio Vaticano II, quando muitos prelados da Igreja Católica, e até mesmo altos prelados, por terem assimilado a heresia protestante, apresentam a Missa como um memorial da Ceia do Senhor, entendi ser proveitoso compilar, para ajudar a combater a heresia progressista, o que outros autores com sabedoria e profundidade já haviam escrito para demonstrar que a Missa enquanto sacrifício está inserida no Deposito da Fé católica, estando predita no Velho Testamento e confirmada no Novo Testamento.
Rio
de Janeiro, no ano de 1992.
Francisco
Lafayette de Moraes.
Nosso
Senhor Jesus Cristo, na Última Ceia, ao instituir a
Eucaristia, transubstanciou o pão em seu Corpo e o vinho em
seu Sangue, um separado do outro, e ofereceu ali o mesmo sacrifício
que realizaria na Cruz, onde o seu Sangue foi separado do seu Corpo,
derramado por nós, em remissão dos pecados.
Depois de ter-Se imolado na Santa
Ceia, Ele se deu a Si mesmo aos Apóstolos ao levá-los a
participar da consumação do seu Corpo e do seu Sangue.
A Eucaristia é, assim, ao mesmo tempo, sacrifício
e sacramento.
EUCARISTIA
ENQUANTO SACRIFÍCIO (*1)
Enquanto
sacrifício a Eucaristia é o
Sacrifício da Missa, o sacrifício da Nova Lei
no qual Nosso Senhor Jesus Cristo,
pelo ministério do sacerdote, se oferece a Si mesmo a Deus, de
maneira incruenta, sob as aparências do pão e do vinho.
(*2)
EUCARISTIA
ENQUANTO SACRAMENTO
Enquanto
sacramento a Eucaristia é o Corpo,
Sangue, Alma e Divindade de Nosso Senhor Jesus Cristo
(*3), que é dado àqueles que O querem, e podem,
receber como alimento espiritual. (*4)
02
- SACRIFÍCIO É FAZER O SAGRADO.
A
religião é um culto que nos liga a Deus por um perfeito
sujeitamento de nós mesmos ao Ser supremo, e que nos faz
relacionar à Sua glória tudo o que nós somos e
tudo o que nós fazemos; e a religião nos faz cumprir,
de modo particular, este dever indispensável pelo sacrifício,
que é uma oblação feita a Deus para
reconhecer seu soberano domínio sobre tudo o que foi
criado.(*5)
O
sacrifício é, portanto, a expressão privilegiada
da virtude da religião e, segundo a etimologia da palavra,
sacrifício consiste em fazer o sagrado (sacrum
facere), diz-nos São Tomás de Aquino, isto é,
separar para Deus.(*6)
Os
homens sempre foram inspirados, pelas luzes da razão natural,
a considerar o sacrifício como o primeiro de todos os
atos essenciais à religião.(*7)
De
fato, desde a origem da humanidade, vemos o homem oferecer a
Deus sacrifícios e exprimir desse modo sua religião.
Mesmo depois do pecado original, permaneceu no homem a consciência
de um dever: o de render culto ao Senhor. Tão
universal era essa voz interior que não houve um tempo, remoto
que fosse, ou região por demais longínqua, em que não
se prestasse um culto e não se oferecesse um sacrifício
a Deus.
Assim,
Caim e Abel ofereceram a Deus frutos da terra e animais
(*8) e Noé saindo da arca levantou um altar,
tomou de todos os animais puros e os ofereceu ao Senhor em
holocausto sobre aquele altar. (*9)
O
sacrifício exterior consiste, pois, em oferecer a Deus
uma coisa sensível e exterior para ser destruída
ou para que sofra uma mudança qualquer, o que é
feito por quatro razões que são os quatro
fins do sacrifício:
>
reconhecer o soberano domínio
de Deus sobre todas as criaturas;
>
reconhecer a nossa dívida
para com a justiça divina e obter o perdão dos pecados;
>
agradecer a graça
recebida; e
>
pedir a graça que
necessitamos. (*10)
03
- OS SACRIFÍCIOS DA ANTIGA LEI.
TIPOS
- FINALIDADES - COMO ERAM FEITOS
Sob
a Lei de Moisés havia quatro sacrifícios: o
holocausto, o sacrifício propiciatório, o sacrifício
eucarístico e o sacrifício impetratório.
(*11)
HOLOCAUSTO.
As
vítimas eram oferecidas em holocausto em reconhecimento
ao soberano domínio de Deus sobre todas as criaturas
(*12). O holocausto consistia em queimar a vítima
de tal forma que ninguém a pudesse comer, para render, por
essa consumação total, uma homenagem plena e sem
reservas ao soberano domínio de Deus. (*13)
SACRIFÍCIO
PROPICIATÓRIO.
O
sacrifício propiciatório era
oferecido para a expiação de qualquer pecado e de
forma a tornar Deus propício (*14). Este sacrifício
era também denominado “hóstia pelo pecado”
(*15), sendo a vítima muitas vezes unida ao holocausto
(*16), e essa vítima era então dividida em três
partes; sendo que uma era consumida sobre o altar dos
holocaustos, a outra era queimada fora do acampamento (*17), e
a terceira era comida pelos sacerdotes (*18).
Aqueles
que ofereciam as vítimas pelos seus pecados não as
podiam comer; e quando os sacerdotes ofereciam por eles mesmos
ninguém as consumia. (*19)
SACRIFÍCIO
EUCARÍSTICO.
O
sacrifício eucarístico era
oferecido para agradecer a Deus qualquer favor considerável
que fosse recebido (*20). Eram sacrifícios de louvor, de ação
de graças.
SACRIFÍCIO
IMPETRATÓRIO.
O
sacrifício impetratório (*21)
era feito para pedir a Deus qualquer graça importante. (*22)
Os
sacrifícios eucarísticos e impetratórios, também
chamados de “pacíficos”, se distinguiam da “hóstia
pelo pecado” apenas pelo fato de que o povo e os sacerdotes deviam
participar consumindo uma parte da vítima.(*23)
SACRIFÍCIOS
DESAGRADÁVEIS A DEUS.
Ainda
que esses sacrifícios fossem ordenados pela lei divina, eles
não passavam de sinais incapazes, por eles mesmos, de agradar
à Deus (*24).
Quando
esses sacrifícios eram oferecidos por santos como haviam sido
Abel (*25), Abraão, Job e todos aqueles homens de fé
que haviam vivido na espera do Messias, então tais
sacrifícios eram agradáveis a Deus que os recebia como
um suave aroma, segundo a expressão da Escritura. (*26)
Mas
quando os sacerdotes se limitavam à cerimônia
exterior, alijando (eliminando,
expulsando) do
sacrifício, o espírito que lhe trazia todo o
mérito, os holocaustos não podiam agradar a
Deus, pois, por mais atenção que os sacerdotes pudessem
ter na escolha de animais sem mancha e sem defeito, tais
sacrifícios não passavam de simples figuras
inteiramente vazias e inanimadas. (*27)
E
por serem sacrifícios que não agradavam a Deus, Santo
Agostinho, no seu décimo-sétimo Livro da Cidade de
Deus, referindo-se ao santo Sacrifício da Missa, diz: “Este
Sacrifício foi estabelecido para tomar o lugar de todos os
sacrifícios do Antigo Testamento” (*28), para tomar
o lugar dos sacrifícios da Antiga Lei.
04
- A ANTIGA LEI É FIGURA DA NOVA LEI.
As
personagens e toda a história do Antigo Testamento mais não
foram que preparação e anúncio daquilo que
Cristo e a sua Igreja deveriam realizar, quando
chegasse a plenitude dos tempos (*29) e, por isso mesmo, na história
do povo judeu estão consignados os desígnios de Deus
acerca da salvação de todo o gênero humano:
>
o afastamento de Esaú em benefício de Jacob mostra
que não é a linhagem terrestre que importa, mas a
escolha gratuita de Deus, que faz os eleitos;
>
José, vendido por seus irmãos e salvando o Egito, é
Jesus salvando o mundo, depois de ser rejeitado e traído pelos
seus;
>
Moisés, que arranca o seu
povo à escravidão, e o conduz a terra prometida, é
Jesus que nos liberta do cativeiro do pecado e abre as portas do Céu;
(*30)
>
o gesto de Abraão, que se
prepara para imolar o filho, é o prenúncio do
sacrifício que Deus exigirá a seu próprio Filho,
para expiação das faltas cometidas pela
humanidade; (*31) e
>
Isaac, destinado à imolação e arrancado
depois à morte, é a figura de Jesus, morto e
ressuscitado. (*32)
O
sacrifício prefigurado em Abraão e Isaac foi
concretizado no Sacrifício da Cruz e é continuado
pelo Sacrifício da Missa, que é o Sacrifício da
Nova Lei. (*33)
05
- O SANTO SACRIFÍCIO DA MISSA É PREFIGURADO DOIS MIL
ANOS ANTES DE INSTITUÍDO.
Dentre
todas as figuras da Eucaristia, enquanto
sacrifício, existentes no Antigo Testamento nenhuma é
tão recordada pela tradição como o
sacrifício de pão e vinho oferecido por Melquisedeque
(*34). Este relato do Gênesis está, por isso mesmo,
apresentado mais abaixo e também, por força de uma
razão ainda maior, porque nos Salmos (*35) e no Novo
Testamento (*36) se diz expressamente de Nosso
Senhor Jesus Cristo que Ele é sacerdote segundo a ordem de
Melquisedeque.
Com
efeito, a Sagrada Escritura relaciona a oblação
que Jesus fez de seu Corpo e Sangue, na Última Ceia, ao Pai,
com o fato de ser Ele sacerdote eterno segundo a ordem de
Melquisedeque (*37), como O chamou o rei David(*38). De modo
que deve ser afirmado que a oblação de
Melquisedeque foi verdadeiro tipo do sacrifício
eucarístico, o que vale dizer que aquela não é
apenas uma oblação semelhante, mas que Deus dispôs
que Melquisedeque a fizera e assim nos fosse narrada no Gênesis,
para que tivéssemos uma autêntica prefiguração
da Eucaristia(*39).
Diz
o Livro do Gênesis:
“18-Então,
Melquisedeque, monarca de Salem, tomou pão e vinho, pois era
sacerdote do Deus Altíssimo, 19 os benzeu, exclamando:
‘Bendito Abraão do Deus Altíssimo, criador do céu
e da terra, 20 e bendito seja Deus Altíssimo, que entregou os
teus inimigos em tuas mãos!’ Depois do que Abraão lhe
deu o dízimo de tudo”(*40).
Regressava
Abraão depois de derrotar vários reis, que haviam(*41)
aprisionado a seu sobrinho Lot e tudo que ele tinha, e
Melquisedeque, rei e sacerdote (monarca de Salem... sacerdote
do Deus Altíssimo(*42)), saiu a seu encontro, ofereceu a Deus
um sacrifício de pão e vinho que logo deu em convite a
Abraão e aos seus e por fim abençoou a Abraão(*43).
A
divina Providência, uns dois mil anos antes da efetiva
instituição da Eucaristia, já havia tido o
cuidado de figurar este Sacrifício e este Convite, que havia
de ser o centro do culto cristão(*44): o
santo Sacrifício da Missa e o Sacramento da Comunhão.
06
- O SACRIFÍCIO DA MISSA É PROFETIZADO POR DAVID.
O
rei David dá a Jesus Cristo, no salmo 109, o título de
Sacerdote eterno segundo a ordem de Melquisedeque, porque
nosso divino Salvador irá empregar o pão e o
vinho no Sacrifício da Nova Aliança, como
outrora o havia feito Melquisedeque.
O
rei profeta O chama Padre eterno porque pai Ele sempre será
e porque o sacrifício que Ele irá instituir continuará
a existir até o fim dos tempos graças ao sacerdócio
católico.
POR
MALAQUIAS.
O
profeta Malaquias diz, no primeiro capítulo, versículo
11, que “depois do nascer e até o pôr do sol,
será oferecido, em toda parte (*45) (em todo lugar
(*46)) um sacrifício puro e sem mancha à majestade do
Altíssimo”.
POR
JEREMIAS
O
profeta Jeremias, no capítulo 33, versículo 18,
profetiza que “nunca se verá faltar os sacerdotes e os
sacrifícios”. (*47)
E
é a Igreja Católica, pelo ministério dos seus
sacerdotes, que oferecerá até o fim dos tempos, em
todos os lugares, o Sacrifício da Cruz, perpetuado pelo santo
Sacrifício da Missa, conforme as profecias de David,
Malaquias e Jeremias.
07
- DEUS ANUNCIA A SUBSTITUIÇÃO DOS ANTIGOS SACRIFÍCIOS
DA LEI MOSAICA.
Malaquias,
cronologicamente o último dos profetas chamados menores do
Antigo Testamento, escreveu, de acordo com todos os dados, na época
de Esdras e Nehemias, nos meados do século V antes de Cristo
(*48), 500 anos antes da vinda do Senhor.
No
começo da profecia de Malaquias, Deus insiste no amor que tem
ao seu povo e, por sua vez, nos pecados daquele povo que explicavam
os sofrimentos que haviam caído sobre ele. Refere-Se
antes de tudo aos pecados dos sacerdotes os quais, contrariando as
prescrições legais, ofereciam a Deus sacrifícios
de animais defeituosos.
O
Senhor anuncia que essas oblações não O agradam
e que em lugar delas há de vir uma oblação
extremamente pura que será oferecida a Deus em todo lugar,
entre as nações; e os termos empregados mostram
que se trata de uma “oblação sacrifical”
e indicam, principalmente, a oblação de um
sacrifício incruento.
Além
disso, tendo em vista o conhecimento universal de Deus e uma vez que
irão ser oferecidos sacrifícios agradáveis a
Deus entre os gentios, fica caracterizado que Malaquias se refere aos
tempos messiânicos.(*49)
Uma
vez que toda a ordem do Antigo Testamento tinha em vista a ordem do
Novo Testamento, dispôs admiravelmente o Espírito Santo
que sua última profecia naquele Testamento se referisse à
Sagrada Eucaristia, a qual, continuando o Sacrifício da
Cruz, irá constituir o centro da vida cristã.
Também é significativo que esta profecia se encontre em
Malaquias, aquele que tão decididamente insistiu no amor de
Deus a seu povo: “Os tenho amado”(*50), declara o Senhor Deus
(Javeh).(*51)
Nos
versículos 10 e 11 do capítulo 1 de Malaquias
temos:
“10...Minha
afeição não está em vós, diz o
Senhor Deus dos Exércitos e eu não receberei a oblação
que vem de vossas mãos. 11 Eis que desde o nascer do sol até
seu ocaso sacrificam a Mim em todo lugar e oferecem em meu nome uma
oblação toda pura, pois grande é o meu nome em
todas as nações”.(*52)
Os
mais antigos documentos cristãos têm uma predileção
por esta profecia de Malaquias, cujo eco foi recolhido pelo Concílio
de Trento(*53), ao dizer, a respeito do Sacrifício da Missa:
“E esta é certamente aquela oblação
pura, que não pode ser manchada por qualquer indignidade ou
malícia dos ofertantes, a qual foi predita pelo Senhor, por
Malaquias, que havia de ser oferecida pura, em todo lugar, ao seu
nome, o qual havia de ser grande entre as gentes”.(*54)
08
- CHEGA O TEMPO DO NOVO SACRIFÍCIO.
O
espírito que devia animar todas as cerimônias religiosas
diminuía dia a dia,
e a irreligião e a estupidez chegaram ao ponto culminante
imediatamente antes da chegada do Messias.
O
que, de fato, esperar dos fariseus que se detinham apenas nas
exterioridades da lei? E, sobretudo dos saduceus, que dominavam o
templo, que presidiam os sacrifícios e que não
acreditavam na ressurreição?
Era,
pois, o tempo em que as figuras deviam acabar e que, de acordo com a
predição do Profeta-Rei(*55), Deus devia rejeitar os
sacrifícios que haviam sido oferecidos, até então,
apenas no templo de Jerusalém.(*56)
Era
o tempo em que iam ser cumpridas as profecias do Antigo Testamento e,
assim sendo, em seu encontro com a samaritana, Jesus Cristo
anuncia um novo Sacrifício.
09
- JESUS CRISTO ANUNCIA UM NOVO SACRIFÍCIO.
Era
o tempo de um novo sacrifício.
E
era preciso um novo sacrifício que fosse necessariamente
oferecido em espírito e em verdade.(*57)
E
é este sacrifício que Jesus Cristo anuncia à
samaritana, quando ela lhe coloca a questão relativa ao lugar
onde se devia adorar(*58), isto é, sacrificar; porque a
contenda (discussão, briga)
entre os judeus e os
samaritanos dizia respeito apenas ao lugar do culto exterior, das
oblações e dos sacrifícios, e não
sobre o lugar da prece e do sacrifício interior, pois
todos estavam persuadidos que se podia rezar e se oferecer a
Deus em toda parte.
Jesus
Cristo entra no pensamento da samaritana e lhe diz que chegou a hora
(*59) em que não mais se adorará, isto é, que
não se sacrificará mais, nem sobre a montanha de
Garizin, nem em Jerusalém; mas que existirão
verdadeiros adoradores que adorarão o Pai em espírito e
em verdade(*60), e que não ficarão mais
restritos a um lugar em particular.(*61)
A
resposta de Jesus Cristo confirma a necessidade de um novo
sacrifício, do Sacrifício da Nova Lei, que será
oferecido em todo lugar e que será sempre oferecido em
espírito e em verdade por Aquele que é a própria
Verdade.(*62)
Este
novo sacrifício, anunciado por Jesus Cristo à
samaritana, já tinha o seu protótipo no
sacrifício de pão e vinho oferecido por Melquisedeque,
como disposto por Deus 2000 anos antes; e, por isso mesmo, o
pão e o vinho devem ser, sempre, a matéria do
sacrifício que Nosso Senhor Jesus Cristo está
por instituir.(*63)
E
sobre este novo sacrifício, agora, é o próprio
Verbo de Deus feito homem, e não mais os antigos
profetas, quem vai nos falar, primeiramente prometendo a Eucaristia e
depois realizando Ele mesmo a grande maravilha.(*64)
10
- JESUS CRISTO PROMETE A EUCARISTIA.
O
evangelista São João, com a vivência do
testemunho ocular e com a garantia de escritor sagrado inspirado por
Deus, nos relata o que aconteceu. Para ambientar a promessa
eucarística, São João faz neste caso uma exceção
singular com relação à norma que se havia
imposto de completar os sinópticos e, portanto, de não
repetir os milagres já narrados nos outros Evangelhos.
Os
outros três evangelistas haviam descrito a primeira
multiplicação dos pães (Mt.14,13-21; Mc.6,34-44;
Lc.9,12-17) e dois deles como andou Jesus sobre as águas em
seguida àqueles milagres (Mt.14,22-34; Mc.6,45-53) e, todavia,
São João volta a referir-se sobre esses acontecimentos
(Jo.6,1-21), sem dúvida alguma não só para
tornar mais inteligíveis as palavras de Jesus relativas aos
pães multiplicados por Ele, como também para
indicar-nos a preparação psicológica que o
Senhor se dignou dar aos seus apóstolos, mostrando-lhes o seu
poder e chamando a sua atenção sobre as propriedades
singulares que Ele podia fazer desfrutar seu Corpo, a fim de que eles
pudessem receber melhor a inaudita promessa.(*65)
Partindo
do milagre da multiplicação dos pães
(Jo.6,1-15), começa Jesus convidando seus ouvintes a que
trabalhem não por um alimento perecível mas por aquele
que dura até a vida eterna (Jo.7,27)(*66), que é
superior ao maná (Jo.6,31-33; 6,49; 6,58), que é o
próprio Cristo — o pão da vida — isto
é, a carne e o sangue de Cristo
que, verdadeira comida e verdadeira bebida, dão a vida
eterna pela união com a vida do próprio Cristo [“Quem
come a minha carne e bebe o meu sangue permanece em Mim e Eu nele”
(Jo.6,56)]. Insiste Jesus na fé como disposição
fundamental e como força da alma para compreender e viver a
realidade eucarística. (*67)
A
realidade da Eucaristia como comida e bebida, do Corpo e do Sangue do
Senhor, está afirmada em termos peremptórios a
ponto de empregar (nos versículos 54 e 56 (*68)), para falar
de comer, uma palavra mais realista que significa literalmente
mastigar [que é palavra sumamente rara e que não
aparece na versão grega do Antigo Testamento, chamada dos
setenta, nem no Novo Testamento, a não ser nesta passagem de
São João (Cap.6), em Jo.13,18 e em Mt.24,38], e a ponto
de reforçar Jesus o sentido de comida e de bebida dizendo
"verdadeira comida" e "verdadeira bebida"
(v55 (*69) ou 56).
E,
além disso, esta realidade eucarística é posta
em evidência pelo fato de que os ouvintes de Jesus O
interpretaram neste sentido e por isso se escandalizaram, não
conseguindo compreender como podia o Senhor dar-lhes a sua Carne para
comer (v52 ou 53); e Jesus não desautorizou tal interpretação,
como deveria fazê-lo tratando-se de um ponto tão
importante e de tantas conseqüências, mas, ao contrário,
confirmou o que havia dito com expressões as mais realistas
(vv. 53-58 ou 54-59).
Outrossim,
quando muitos dentre os seus próprios discípulos
murmuravam como era “dura” (v.60 ou 61) essa linguagem e
inclusive se afastaram de Jesus (v.66 ou 67), o Mestre não
disse aos seus doze apóstolos: entendei bem as coisas e não
vos assusteis, pois o que lhes disse é uma figura ou um
simbolismo, mas apenas lhes perguntou simplesmente se também
eles queriam se retirar (v.67 ou 68). (*70)
Continuando
seu discurso eucarístico, Jesus promete com toda clareza
que sua Carne eucarística dará imortalidade a quem a
coma; não imortalidade corporal, mas sim ressurreição
(v54 ou 55), para nunca mais morrer de novo. Este é um dos
pensamentos que, com mais carinho, foi recolhido já nos
primeiros documentos da tradição cristã na luta
contra os hereges que acreditavam que a carne era, em si mesma, má
e incapaz de ressuscitar para uma vida sem fim.(*71)
Diz
o Evangelho de São João, no capítulo 6,
versículos 47 a 58(*72), que:
“47
Em verdade, em verdade, vos digo: Quem crê tem a vida eterna.
48 Eu sou o PÃO da VIDA. 49 Vossos pais comeram o maná
no deserto e morreram. 50 O pão que desceu do céu é
tal que quem come dele não morre. 51 Eu sou o PÃO VIVO
QUE DESCI DO CÉU. (*73) Se alguém comer
deste pão viverá eternamente; e o PÃO, QUE EU
DAREI, É A MINHA CARNE, para a vida do mundo”.
52
Mas os judeus discutiam entre si dizendo: “Como pode este dar-nos a
sua carne para comer?”
53
“Em verdade, em verdade, vos digo, respondeu-lhes Jesus: Se não
comerdes a carne do Filho do homem e beberdes o seu sangue, não
tereis a vida em vós. 54 Quem come a minha carne e bebe o meu
sangue, tem a vida eterna e Eu o ressuscitarei no último dia.
55 Porque a minha carne é verdadeiramente comida e o meu
sangue é verdadeiramente bebida. 56 Quem come a minha carne e
bebe o meu sangue permanece em Mim e Eu nele. 57 Assim como o Pai,
que vive, Me enviou, e Eu vivo pelo Pai, assim quem Me come, também
viverá por Mim. 58 Este é o pão que desceu do
céu. Não é como aquele que vossos pais comeram e
morreram. QUEM COME DESTE PÃO VIVERÁ ETERNAMENTE”.(*74)
Afirma,
assim, Nosso Senhor Jesus Cristo que esse Pão — matéria
do novo sacrifício que Ele já havia anunciado — e que
Ele irá dar — será sua Carne e uma verdadeira comida,
assim como seu Sangue uma verdadeira bebida, para a vida do mundo.
(*75)
Aproxima-se
a hora do Novo Sacrifício; pão e vinho serão
transformados, isto é, serão transubstanciados no Corpo
e no Sangue de Jesus e essa Vítima, pura e sem mancha, será
ofertada à majestade do Altíssimo(*76), quando
Ele, Jesus, oferecer ao Pai, pela primeira vez, na Última
Ceia, o Sacrifício da Nova Aliança, quando Ele fará,
também, que os Apóstolos participem da consumação
da Sagrada Vítima.
JESUS
CRISTO vai instituir — mistério dos mistérios— a
EUCARISTIA: SACRIFÍCIO e SACRAMENTO.
11
– JESUS CRISTO OFERECE - ANTES DA CRUZ - O NOVO SACRIFÍCIO
O
Novo Testamento oferece-nos quatro relatos sobre a instituição
do Sacrifício da Nova Aliança: os dos três
Evangelhos sinópticos e o de São Paulo em sua primeira
carta aos Coríntios. Os quatro coincidem inteiramente em
relatar que Jesus, na véspera de sua morte, fez do pão
e do vinho seu próprio Corpo e seu próprio Sangue.(*77)
A
simplicidade das palavras de Jesus foi extrema: ESTE
É O MEU CORPO; ESTE É O MEU SANGUE (*78); a
mesma simplicidade com que é dito no Gênesis, quando
Deus criou o mundo, que Ele o fez dizendo: QUE ASSIM SE FAÇA(*79).
Porém
a inteligência humana experimenta uma vertigem ao acercar-se a
este abismo, ou melhor, a este mistério: o pão
convertido no verdadeiro Corpo de Jesus, de modo tão
real que, como logo dirá Cirilonas, naquela Última Ceia
Jesus se levava a Si mesmo em suas mãos.*(80)
Todavia,
é preciso considerar que os Apóstolos já haviam
conhecido esta infalível eficácia da palavra do
Salvador ao ser aplicada sobre a matéria inanimada:
cala, emudece, havia dito encarando o mar, e amainou o vento e
seguiu-se uma grande bonança {Mc.4,39}.
Além
disso, o poder de Jesus sobre o pão havia sido mostrado de
forma patente e concretamente aos Apóstolos nas
milagrosas multiplicações do pão
{Jo.6,1-15; Mt.15,32-39} e sobre o vinho quando Jesus fez da
água vinho, em Caná {Jo.2,1-11}.
Por
outro lado, com relação ao próprio Corpo
de Jesus, já sabiam os Apóstolos que o mesmo
facilmente se libertava das leis a que estavam sujeitos os demais
corpos, como o haviam comprovado quando Jesus andou sobre as
águas do mar {Jo.6,16-21} e no episódio
da transfiguração {Mt.17,1-9}.(*81)
Psicologicamente
o que mais diretamente obrigava os Apóstolos a entender as
palavras de Jesus tal como foram ditas: ESTE
É O MEU CORPO, ESTE É O MEU SANGUE, era a
promessa que lhes havia feito, com termos tão claros, de
dar-lhes a comer a sua Carne e de dar-lhes a beber o seu Sangue.
Aos
Apóstolos era impossível esquecer aquela promessa, que
em si mesma já era admirável, mas que, ademais, havia
significado para eles o momento crucial em sua decisão de
seguir acompanhando-O, enquanto que muitos discípulos haviam,
então, se separado de Jesus {Jo.6,67-70 [*82]}. [*83]
Jesus
Cristo, na Última Ceia, transubstanciou então o pão
e o vinho em seu Corpo e em seu Sangue e, em seguida, ofereceu-Se em
sacrifício.
Este
caráter de sacrifício está manifestamente
indicado na Sagrada Escritura. Encontramos, com efeito, expressões
típicas de sacrifício, principalmente a respeito
do Sangue, o qual é dito derramado por muitos em
remissão dos pecados {Mt.26,28} e que é chamado
Sangue do Testamento {Mt.26,28; Mc.14,24} ou do Novo Testamento [*84]
{Lc.22,20; 1Cor.11,25}, palavras estas que na doutrina do
Antigo e do Novo Testamento têm sentido próprio de
sacrifício.
Este
sacrifício tem necessária e íntima relação
com o sacrifício que Jesus vai oferecer no dia seguinte na
Cruz, mas que aqui aparece oferecido na própria
Ceia, como o provam suficientemente os particípios
Corpo “dado” {Lc.22,19} e Sangue “derramado”
{Mt.26,28; Mc.14,24; e Lc.22,20} que são particípios
presentes e também porque se acaba de falar do Corpo e
do Sangue no indicativo presente "é"
[*85].
Um
argumento ainda mais forte advém do relato de São Lucas
quando diz que o cálice [*86] é
derramado {Lc.22,20} porque assim fica bem mais claro
que não se trata do Sangue derramado na Cruz mas sim do Sangue
contido no cálice. Trata-se, portanto, do sacrifício
oferecido por Jesus na Última Ceia em indissolúvel
união com o sacrifício oferecido na Cruz [*87],
pois, tanto na Ceia como na Cruz trata-se do Sacrifício do
Corpo e do Sangue de Jesus.
E
este sacrifício, que Jesus Cristo institui imediatamente antes
de ir se oferecer sobre a Cruz, Ele o instituiu por amor
[*88]: “Jesus que tinha amado os seus que estavam no mundo
amou-os até o fim” {Jo.13,1) [*89].
E
certamente era preciso um enorme poder e um amor infinito
para transformar o pão e o vinho em seu Corpo e em seu Sangue
e para fazer antes de sua morte, por antecipação, uma
efusão de seu Sangue [*90]: “ESTE É O MEU CORPO
QUE É DADO POR VÓS... ESTE CÁLICE DA NOVA
ALIANÇA É O MEU SANGUE QUE É DERRAMADO POR VÓS”
{Lc.22,19-20}; efusão real e misteriosa no corpo e no coração
dos comungantes antes deste Sangue sair visivelmente de seu Corpo
sobre a Cruz [*91].
Nosso
Senhor Jesus Cristo havia instituído a Eucaristia; havia sido
oferecido o primeiro Sacrifício e entregue aos convidados a
primeira Comunhão.
E,
mais ainda, pois além de instituir, Nosso Senhor perpetuou
este Sacrifício ao ordenar: hoc facite!
{Lc.22,19}.
“FAZEI
ISTO EM MEMÓRIA DE MIM”.
12
- O SACRIFÍCIO DA CRUZ.
A
Sagrada Escritura e a Tradição, junto com as
declarações solenes do Magistério Eclesiástico,
nos ensinam como dogma de fé que, na Cruz, Jesus Cristo
ofereceu ao Pai, ofendido por nossos pecados, um verdadeiro e
autêntico sacrifício. [*92]
Nos
infelizes tempos de irreligiosidade, que haviam
antecedido a chegada do Messias, Jesus Cristo, que era a
verdade de todas as figuras, vem se oferecer a Si mesmo, e suprir
assim a imperfeição de todos os antigos sacrifícios.
[*93]
Com
efeito, Jesus Cristo predisse por duas vezes a sua Paixão
[*94] e em uma dessas ocasiões Ele diz: “É
necessário que o Filho do homem padeça muitas coisas,
seja rejeitado pelos anciãos, pelos príncipes dos
sacerdotes e escribas, que seja morto, e ressuscite ao terceiro dia
(Lc.9,22)”. [*95]
“Não
encontrando coisa alguma no mundo, diz Santo Agostinho, que fosse
bastante pura para oferecer a Deus, Ele se ofereceu a Si mesmo. E é
por esta oblação, que será permanente e eterna,
que os homens foram santificados (Hebr.10,10;
10,14). Porque Ele se ofereceu uma vez e para sempre (Hebr.10,14;
10,10).
Sua
vida foi um contínuo sacrifício até que Ele, na
Cruz, tivesse derramado todo seu Sangue. Então, a figura dos
sacrifícios sangrentos de Aarão foi substituída;
e todos os sacrifícios, que deviam ser multiplicados por causa
de suas imperfeições, desapareceram, para que os fiéis
recorram apenas ao único e verdadeiro sacrifício de
nosso divino Mediador, que é o sacrifício que expia os
pecados”. [*96]
E
São Paulo, em sua carta aos Hebreus, demonstra a superioridade
do Sacrifício de Cristo sobre os da Antiga Aliança:
“É
verdade que a primeira Aliança teve também regulamentos
relativos ao culto e um santuário temporal. Com efeito, foi
construído o tabernáculo com uma parte anterior,
chamada o ‘santo’, na qual estavam o candelabro, a mesa e os pães
da proposição. Por trás do segundo véu,
havia um tabernáculo, que se chama o ‘santo dos santos’,
contendo um turíbulo de ouro e a Arca da Aliança,
coberta de ouro por todos os lados. E nela havia uma urna de ouro,
com o maná, a vara de Aarão que tinha florescido, e as
tábuas da aliança. E sobre elas estavam os querubins da
glória, que cobriam o propiciatório. Mas não
cabe aqui falarmos destas coisas pormenorizadamente. Dispostas assim
estas coisas, os sacerdotes entravam em qualquer tempo no primeiro
tabernáculo, para desempenhar as funções do
culto. Mas no segundo o pontífice só entrava uma vez no
ano, não sem sangue, que oferecia pelos seus pecados e pelos
do povo [*97]. Com isto o Espírito Santo mostra
que o caminho do santuário não estava ainda franqueado,
enquanto subsistisse o primeiro tabernáculo. Isto é uma
figura do tempo presente. Ela significa que as oblações
e sacrifícios então oferecidos não podiam
purificar a consciência de quem prestava o culto. Com efeito,
eles constavam somente de comidas e bebidas [*98], e de
diversas abluções e cerimônias carnais, impostas
até o tempo da restauração” (Hebr.9,1-10).
[*99]
-
Valor do sacrifício do Cristo -
A
seguir (Hebr.9,11-15), o Apóstolo contrapõe aos
sacrifícios antigos, inferiores e ineficazes, o Sacrifício
de Cristo, que penetrou o céu (v.11) com seu sangue (v.12) e
nos purificou do pecado (v.14), tornando-se o Mediador da Nova
Aliança (v.15) [*100]:
“11
Mas Cristo veio como Pontífice dos bens futuros; e
passando por um tabernáculo mais excelente e perfeito, não
feito por mão de homem, isto é, não deste mundo,
12 entrou no Santo dos Santos não pelo sangue de bodes ou de
bezerros, mas pelo seu próprio Sangue, e de uma vez para
sempre, porque alcançou a Redenção eterna. 13
Com efeito, se o sangue dos cabritos e dos touros bem como a cinza
duma novilha, com que se aspergem os impuros, os santifica quanto à
pureza do corpo, 14 quanto mais o Sangue de Cristo, que pelo Espírito
Santo se ofereceu a Si mesmo, sem mácula, a Deus, não
purificará a nossa consciência das obras da morte, para
servirmos ao Deus vivo?” [*101]
“15
E por isso Ele é o Mediador da Nova Aliança: morrendo
para resgatar os pecados cometidos sob a primeira Aliança,
quis que recebessem a herança eterna os escolhidos, a quem foi
prometida, em Jesus Cristo, Nosso Senhor” (Hebr.9,15). [*102]
De
fato, as oblações da antiga Aliança não
agradavam a Deus [*103] e, assim sendo, São Paulo, na mesma
Epístola aos Hebreus, diz:
“Por
isso é que, entrando no mundo, Cristo diz [*104]: Tu não
quiseste hóstia nem oblação, mas me deste um
corpo. Os holocaustos pelo pecado não te agradaram. Então
disse Eu: Eis que venho para fazer, ó Deus, a tua vontade,
como está escrito de Mim no cabeçalho do livro”
(Hebr.10,5-7). [*105]
E
continua São Paulo:
“Primeiro
disse: não quiseste hóstias, oblações e
holocaustos pelo pecado, nem te agradas deles: são coisas que
se oferecem segundo a lei. Depois acrescentou: Eis que eu venho para
fazer, ó Deus, a tua vontade. Aboliu o primeiro para
estabelecer o segundo. Por essa vontade é que somos
santificados, pela oblação do Corpo de Jesus Cristo,
uma vez para sempre” (Hebr.10,8-10). [*106]
E
é em Jesus Cristo que encontramos realmente, nesse único
santificador, tudo aquilo que nós podemos desejar e considerar
em todos os sacrifícios: Deus a quem se deve oferecer, o
sacerdote que oferece e o dom que se deve ofertar.
Porque
este divino Mediador, Sacerdote e Vítima, é
um com Deus a quem Ele oferece; e que está reunido, ou, mais
ainda, que se fez um com todos os fiéis que Ele oferece
para os reconciliar com Deus. É certo que, na cruz,
Ele foi ao mesmo tempo Sacerdote e Vítima [*107].
Os
judeus e os gentios que o mataram foram os seus carrascos e não
os seus sacrificadores [*108]; foi então Ele quem se
ofereceu em sacrifício e quem nos ofereceu com Ele sobre a
cruz. [*109]
Com
este sacrifício deu Jesus Cristo, e em Jesus Cristo o
gênero humano também, ao Pai uma adoração,
uma ação de graças, uma expiação
infinitas; apresentou uma impetração de
valor infinito, ficamos redimidos de nossos pecados; foi
o Pai satisfeito por todas as maldades dos homens com satisfação
condigna e superabundante; foi o Pai amado e
glorificado com amor infinito e com infinita glorificação.
Por Jesus Cristo e em Jesus Cristo damos à Augusta Trindade
mais honra do que aquilo que Lhe tiramos pelo pecado de Adão e
por quantos pecados adicionaram os homens. O Sacrifício
de Jesus é o momento culminante da criação.
[*110]
Felizmente
este momento foi perpetuado [*111]; foi perpetuado na herança
que o Senhor nos deixou ao instituir, na Última Ceia, um
sacrifício visível: “fazei isto em memória
de Mim”; um sacrifício para dar continuidade, ao
longo dos séculos e até o fim dos tempos, ao Sacrifício
da Cruz; um sacrifício incruento no qual Nosso Senhor
Jesus Cristo é o oferente principal e também a própria
vítima; um sacrifício que faz chegar até nós
— e aos que virão depois de nós — as graças
salvadoras do Sacrifício do Calvário. Tal
sacrifício é o Santo Sacrifício da Missa, que é
o mesmo Sacrifício da Cruz sacramentalmente transportado para
os nossos altares, e é, por isso mesmo, a nossa maior
herança. [*112]
13
- O SACRIFÍCIO DA CRUZ É ÚNICO. POR QUE
RENOVÁ-LO?
Diz
São Paulo que é pela vontade de Deus que “somos
santificados, pela oblação do Corpo de Jesus, uma vez
para sempre” (Hebr.10,10) [*113], mas, antes, foi dito que o
Sacrifício da Cruz foi perpetuado. Aprofundemos, pois,
um pouco mais esta questão.
O
Sacrifício do Calvário é único e basta
para render a Deus toda honra e glória e para obter para os
homens a graça; todavia esse Sacrifício, fonte única
de todo o bem superior, Deus o quis tornar presente em todas as
gerações de homens que se sucederão ao longo de
todos os séculos até o fim do mundo, como já
havia profetizado o profeta Malaquias: “Eis que em todo lugar se
oferece a Deus uma oblação pura”. [*114]
É
certíssimo que Cristo operou a Redenção do mundo
em um ato único e que Ele morreu uma só vez. Por sua
morte, logrou Cristo a salvação para todos os homens.
Esta é a doutrina da Igreja; Cristo morreu, portanto,
para todos. No entanto, isso não quer dizer que todos os
homens sejam salvos. Ao contrário, Cristo nos
disse que muitos irão ao fogo eterno. [*115]
A
Paixão de Cristo é causa universal de salvação
e uma causa universal deve ser aplicada aos casos individuais.
Ora, os méritos da Paixão de Cristo nos são
aplicados precisamente pela renovação do Sacrifício
da Cruz que é continuado no santo Sacrifício da
Missa. [*116]
Eis
um exemplo. Ainda que uma fonte seja suficientemente abundante para
satisfazer as necessidades de toda uma cidade, ainda será
preciso captar essa fonte e transportar a água até a
porta de cada habitante, senão, apesar da fonte, pode-se
vir a morrer de sede. Assim, por sua Paixão, Cristo
abriu a fonte de todo o bem espiritual. Todavia, isso não
basta para que efetivamente participemos dessa fonte, pois é
preciso que a aplicação de seus frutos se faça
para cada um de nós. [*117] Essa é a obra
do Sacrifício da Missa.
O
Sacrifício da Missa, Sacrifício da Cruz
sacramentalmente trazido para os nossos altares, é necessário
para que os frutos da Paixão cheguem até nós.
[*118]
14
- O SACRIFÍCIO DA CRUZ E SUAS MODALIDADES.
O
Sacrifício da Cruz — fonte
original de todas as fontes de graças — foi perpetuado no
Santo Sacrifício da Missa que é o mesmo
sacrifício que Jesus Cristo instituiu e ofereceu na
Última Ceia, quando Ele, na véspera de sua
Paixão, ordenou aos Apóstolos oferecerem o sacrifício
do seu Corpo e do seu Sangue:
“Fazei
isto e memória de Mim”.
Na
Última Ceia o Sacrifício da Cruz foi antecipado e não
só foi este sacrifício ali oferecido como foi
instituído o modo segundo o qual devia ser celebrado, depois
do Calvário, até o fim dos tempos.
Na
Missa o Sacrifício da Cruz é sacramentalmente
transportado para o altar, ao ser realizado conforme o modo
estabelecido por Jesus na Última Ceia.
Há,
pois, três modalidades, mas um único sacrifício:
o Sacrifício da Ceia é o
próprio Sacrifício da Cruz que é o mesmo
Sacrifício da Missa.
15
- O SACRIFÍCIO DA MISSA.
O
Sacrifício da Missa é a continuação
— no tempo e no espaço —
do Sacrifício da Cruz [*119]; no Altar é
oferecida a mesma Vítima que foi imolada no Calvário,
isto é, o próprio Cristo; uma Vítima que
está fisicamente presente, que tem uma Presença
Real ainda que sacramental, pois está escondida sob as
aparências do pão e do vinho.
Só
a maneira de oferecer é diferente: no Calvário a
imolação é sangrenta, na Missa a imolação
reproduz-se sacramentalmente, isto é, por um sinal
sacramental, a Deus reservado, que produz e realiza o que
significa. A separação das oblatas é sinal
sagrado que significa a morte de Cristo na Missa. [*120]
No
sacrifício de animais da Antiga Aliança, a
separação do corpo e do sangue significa a morte da
vítima; no Sacrifício da Nova Aliança, a
separação do pão e do vinho consagrados
significa sacramentalmente a morte da Vítima: Cristo.
[*121]
No
Sacrifício da Missa, o sacerdote sacrificador também é
Cristo, que perpetua a oferenda voluntária de seu sacrifício,
mas, agora, Ele o faz pelos lábios de seus ministros, que são
seus instrumentos [*122], que, agindo “in persona Christi”
[*123], atualizam a palavra como se o próprio Cristo a
pronunciasse.
Com
efeito, o sacerdote, pelas palavras que ele pronuncia na
Consagração, faz vir Deus à terra
[*124]; quando fala o sacerdote é o próprio
Cristo que fala e que opera o milagre [*125], isto é,
a transubstanciação
do pão e do vinho no Corpo e no Sangue de Nosso Senhor Jesus
Cristo. Por isso mesmo, os seus ministros ordenados devem fazer, por
ocasião do Sacrifício da Missa, aquilo que Jesus Cristo
fez na Última Ceia, quando Ele antecipou, por assim dizer, o
Sacrifício da Cruz.
Ao
dizer “hoc facite” — fazei isto em memória de Mim
[*126]— Jesus Cristo não só estabeleceu o mandato,
como também instituiu “o que” e “como” devia ser
oferecido o santo Sacrifício da Missa, por “quem” devia
fazê-lo; de fato, para a validez duma Missa existem condições
essenciais: a matéria e a forma do sacramento, o
sacerdote validamente ordenado e a intenção de fazer o
que sempre fez a Igreja [*127].
Como
“matéria” do sacramento Ele escolheu o pão
e o vinho, como o havia feito Melquisedeque,
que são separados do uso comum e se tornam as
oblatas [*128]; a “forma” do sacramento são
as palavras que Jesus pronunciou na Última Ceia e, por
elas, as oblatas são
transubstanciadas no Corpo e no Sangue do Senhor, o
que torna a Vítima efetivamente presente e não apenas
simbolicamente [*129]; e os sacerdotes são
aqueles que foram separados da vida comum para servirem ao Senhor
e que, como sucessores dos Apóstolos, receberam o mandato de
oferecer o santo Sacrifício da Missa.
E
se tomarmos um bispo qualquer de
nossos tempos, podemos reconstituir a fila ininterrupta que pode ser
assim imaginada: mãos antigas impostas em cabeças
novas, e outras mãos mais antigas pousadas em outras
cabeças, até o dia em que os primeiros Apóstolos
receberam de Cristo a primeira sagração episcopal
[*130]; e por isso mesmo: “nunca se verá faltar os
sacerdotes e os sacrifícios”, como predisse Jeremias
[*131].
E
o Sacrifício da Missa, que será oferecido, até o
fim dos tempos, e “em toda parte” [*132] pelo “sacerdote
eterno segundo a ordem de Melquisedeque” [*133], por meio
de seus ministros, é ofertado a Deus com os seguintes fins:
>
para adorá-Lo
[*134], para honrá-Lo como convém, e sob este ponto de
vista o sacrifício é LATRÊUTICO [*135];
>
para Lhe dar graças
pelos benefícios recebidos, e sob este ponto de vista
o sacrifício é EUCARÍSTICO;
>
para aplacá-Lo,
dar-Lhe a devida satisfação pelos nossos pecados,
para sufragar as almas do Purgatório, e sob este ponto de
vista o sacrifício é PROPICIATÓRIO [*136];
[*137]
>
para alcançar todas as
graças que nos são necessárias, e sob
este ponto de vista o sacrifício é IMPETRATÓRIO
[*138]. [*139]
Temos,
assim, o único Sacrifício da Nova Aliança
substituindo todos os sacrifícios da Antiga Aliança, os
quais não agradavam a Deus. [*140]
16
- O SACRIFÍCIO DA MISSA NÃO É A MISSA
Convém
esclarecer que o Sacrifício da Missa e a Missa não
constituem uma só e mesma coisa, mas o sacrifício
se efetua na Missa. [*141]
De
fato, é na dupla Consagração que se realiza o
Sacrifício; é nesse rito, prescrito pelo Senhor,
que se renova sacramentalmente o Sacrifício do Calvário.
[*142]
Jesus
Cristo é, portanto, Ele mesmo, o autor da Missa naquilo que
ela tem de essencial. [*143]
É
a Igreja que, por sua vez, institui os ritos da Missa para magnificar
o Sacrifício do Senhor e para explicitar seu mistério e
dispor, desse modo, os espíritos aos sentimentos de adoração
e de devoção. [*144]
17
- O SACRIFÍCIO DA MISSA É REALIZADO NA DUPLA
CONSAGRAÇÃO.
O
autor do “De Sacramentis”, atribuído a Santo Ambrósio
(+397), diz que a mudança, ou melhor, a
transubstanciação do pão e do vinho no Corpo e
no Sangue do Senhor se dá no momento que são
pronunciadas as palavras de Jesus Cristo. [*145]
Santo
Ambrósio, no tratado “Dos Iniciados”, que é
incontestavelmente de sua autoria, pronuncia-se quase que com os
mesmos termos sobre tal mudança [*146] e assinala que a
benção tem mais força que a natureza, porque a
benção muda mesmo a natureza. [*147]
Ainda
que apenas a benção ou apenas a prece de Jesus Cristo
possa, sem dúvida, produzir a mudança do pão em
seu Corpo, como apenas a Sua vontade modificou a água em vinho
nas bodas de Caná, ou como a Sua benção
multiplicou os pães, os Padres nos dizem sem qualquer
ambigüidade que Jesus consagrou seu Corpo com estas palavras:
Isto é o meu Corpo.
Jesus Cristo tomando o pão, diz Tertuliano, e o dando aos seus
discípulos, Ele o fez seu Corpo ao dizer: Isto
é o meu Corpo. Santo Ambrósio, Santo
Agostinho falaram a mesma coisa e é assim que a Igreja deseja
que nós falemos. [*148]
-
A intenção da Igreja deve ser manifestada -
E
sobre a Consagração que se faz todos os dias sobre os
nossos altares, também
deve ser dito que a Igreja deve fazer aquilo que Jesus Cristo fez. É
uma ordem: hoc facite, fazei isto em memória de Mim.
Ora, Jesus Cristo rezou, benzeu e pronunciou estas palavras: Isto
é o meu Corpo; é necessário,
pois, rezar, benzer e pronunciar estas mesmas palavras. Estas
preces, que o sacerdote deve dizer, vieram da mais alta tradição
a todas as grandes Igrejas.
São
Basílio (+379) desejando mostrar que há dogmas não
escritos diz: “Quem é este que nos deixou por escrito
as palavras que servem para a consagração da
Eucaristia?” porque, prossegue ele, “nós não
nos contentamos com as palavras que são relatadas pelo
Apóstolo e pelos Evangelistas; mas nós acrescentamos
outras antes e depois, como tendo bastante força para os
mistérios, as quais nós aprendemos nessa doutrina não
escrita”. [*149]
São
Justino, que escreveu 40 anos depois da morte de São João
[*150], por sua vez, diz que “nós sabemos que estes
alimentos, destinados à nossa alimentação comum,
são modificados pelas preces no Corpo e no Sangue de Jesus
Cristo”, porque de fato essas preces contêm as
palavras de Jesus Cristo e tudo aquilo que as deve acompanhar. [*151]
O
que isto quer dizer? que as preces da Igreja têm a mesma
virtude que as palavras de Cristo? Não é isso que os
Padres e os Concílios querem que nós entendamos, já
que eles nos dizem abertamente, em diversos lugares, que as palavras
de Jesus Cristo contêm essencialmente a virtude que modifica as
dádivas (as ofertas, os dons) em seu Corpo e em seu
Sangue, como o Concílio de Florença declarou
depois deles e como a Igreja do Oriente o reconheceu, de acordo mesmo
com o relato daqueles que permaneceram no cisma.
Mas
todos os antigos autores juntaram sempre, com desvelo, as preces da
Igreja às palavras de Jesus Cristo como tendo bastante força
para a consagração, conforme a expressão de São
Basílio. E por que isto? porque nos sacramentos a intenção
da Igreja deve ser manifestada.
Ora,
as preces que acompanham as palavras de Jesus Cristo assinalam a
intenção, os desejos, e o que a Igreja tem em vista ao
fazer pronunciar tais palavras[*152], pois isto [*153] sem aquilo
[*154], poderá ser considerado como uma leitura histórica.
É a Igreja que, pela autoridade de Jesus Cristo,
consagra os padres aos quais Ela assinala o que eles devem fazer por
ocasião da grande ação do Sacrifício.
O
sacerdote é o ministro de Jesus Cristo e da Igreja e ele deve
falar pela pessoa de Jesus Cristo e como representante da Igreja. Ele
começa em nome da Igreja invocando o Todo-Poderoso para que
atue sobre o pão e o vinho, a fim de que eles sejam
transubstanciados no Corpo e no Sangue de Jesus Cristo; e,
depois disso, como ministro de Jesus Cristo, ele não fala mais
em seu nome, dizem os Padres. Ele pronuncia as palavras de Jesus
Cristo e, conseqüentemente, é a palavra de Jesus Cristo
que consagra; isto é, a palavra d`Aquele por quem todas as
coisas foram feitas. Assim, é Jesus Cristo quem consagra, como
dizem várias vezes São Crisóstomo e os outros
Padres; mas Ele o faz pela boca e pelas preces dos sacerdotes, como
diz São Jerônimo. [*155]
Admiremos,
pois, todas as palavras sagradas que os padres pronunciam e digamos
com São João Crisóstomo (+407) em seu terceiro
livro do Sacerdócio: “Quando vocês vêm o
sacerdote aplicado ao Santo Sacrifício, fazendo as
suas preces, envolvido pelo povo santo, que foi lavado pelo precioso
Sangue, e o divino Salvador que se imola sobre o altar, pensam vocês
que estão ainda sobre a terra? não acreditam vocês
estarem elevados até o céu? ó milagre! ó
bondade! Aquele que está sentado à direita do Pai
encontra-se por um momento entre nossas mãos e vai se dar
àqueles que o querem receber”. [*156]
Assim,
a doutrina da Igreja que nos assegura que ao serem ditas as palavras
da Consagração, quando se dá a
transubstanciação do pão e do vinho no Corpo e
no Sangue do Senhor, Jesus Cristo está realmente, está
fisicamente presente no Altar, trazido a terra pelo sacerdote,
e que Ele se oferece em verdadeiro sacrifício, não é
uma doutrina tardia (como disse - e ainda diz- a heresia
protestante e como o diz agora a heresia progressista), mas
é, na verdade, a mesma doutrina que foi pregada pelos
Apóstolos, por São Paulo e pelos primeiros Santos
Padres da Igreja.
18
- O SACRIFÍCIO DA MISSA SEGUNDO SÃO PAULO.
São
João não se refere em seu Evangelho à
instituição da Sagrada Eucaristia. Neste ponto o
Apóstolo não sentiu haver necessidade de completar os
evangelhos sinópticos, os quais, todavia, havia completado
magnificamente com o discurso de Jesus prometendo a Eucaristia.
[*157]
Quando
o discípulo amado compôs o seu Evangelho, já
havia muitos anos que as comunidades cristãs vinham celebrando
a Eucaristia do Corpo e do Sangue do Senhor, como nos
testemunham as cartas de São Paulo e os Atos dos Apóstolos.
[*158]
Podemos
deduzir, pois, que São João entendeu que não era
necessário acrescentar coisa alguma à doutrina do
Apóstolo dos gentios.
Em
duas passagens de sua primeira Carta aos fiéis de Corinto,
fala São Paulo da Eucaristia. A
data desta carta deve ser colocada provavelmente na páscoa do
ano 56. Note-se a importância de tal documento, ainda que do
ponto de vista meramente histórico, distante pouco mais de
vinte (20) anos da instituição da
Eucaristia na Última Ceia. Esta Carta só teria
como anterior a ela, entre os escritos do Novo Testamento, quando
muito, o Evangelho de São Mateus. [*159]
São
Paulo faz, no capítulo 10, uma alusão à
Eucaristia quando se refere ao maná (Ex.16,15) e
à água que por duas vezes jorrou do rochedo
(Ex.17,6):
“3
e todos comeram da mesma comida espiritual; 4 e todos beberam da
mesma bebida espiritual (pois eles bebiam da pedra espiritual que os
acompanhava - e a pedra era Cristo)”. [*160]
E
referindo-se a Cristo como pedra, designação dada a
Javeh no Antigo Testamento, que ia defendendo e ajudando seu povo
através do deserto, São Paulo nos oferece um precioso
testemunho da divindade de Jesus Cristo. [*161]
-
O Sacrifício Eucarístico segundo São Paulo –
Na
segunda passagem, São Paulo é inteiramente explícito
em relação à Eucaristia.
Para
que os Coríntios fiquem muito longe da idolatria o Apóstolo
lhes propõe este argumento [*162]: por meio das carnes
imoladas entra aquele que as come em comunhão com aquele a
quem se oferece o sacrifício; os sacrifícios oferecidos
aos ídolos, na realidade, são oferecidos aos demônios
e aquele que em um banquete sacrifical participa das vítimas
que lhes são oferecidas entra em comunhão com os
demônios [*163]; da mesma forma que aquele que
participa das vítimas oferecidas no altar do antigo Israel
entra em comunhão com esse altar, e se não entra em
comunhão com Javeh, a quem são oferecidos esses
sacrifícios, é porque já se rompeu a união
segundo a carne entre Javeh e o velho Israel. Nós
cristãos ao participarmos do cálice e do pão,
entramos em comunhão com o Corpo e o Sangue de Cristo
[“O cálice de bênção que
consagramos não é, porventura, a comunhão do
Sangue de Cristo? E o pão que partimos não é a
comunhão do Corpo do Senhor?” [*164]]. Não é,
pois, possível participar da mesa do Senhor e também
participar da mesa dos demônios. [*165]
O
caráter de Sacrifício da Eucaristia
é realçado com toda
força nesta passagem pelo paralelismo que São Paulo
estabelece entre a Eucaristia, os sacrifícios
pagãos e os sacrifícios israelíticos. Além
disso, acreditamos que há aqui também um argumento para
a equiparação absoluta entre Jesus Cristo e Deus, uma
vez que São Paulo não sente necessidade de dizer, como
pediria o paralelismo, que a participação do pão
e do cálice nos une a Deus, a quem se oferece o sacrifício,
mas apenas lhe é suficiente dizer que nos faz entrar em
comunhão com o Corpo e o Sangue de Cristo. [*166]
-
A Presença Real -
Outra
indicação fundamental, que se recolhe desta passagem de
São Paulo [“O cálice de bênção
que consagramos não é, porventura, a comunhão do
Sangue de Cristo? E o pão que partimos não é a
comunhão do Corpo do Senhor?” (1Cor.10,16 [*167])],
é que a Presença Real do Senhor fica suficientemente
estabelecida ao empregar São Paulo, sem atenuante algum, as
expressões Sangue de Cristo e Corpo de Cristo, as mesmas que
utilizará no capítulo 11, em sentido tão
realista. [*168]
Nesse
capítulo 11 de sua primeira Carta aos Coríntios
(11,23-28), narra São Paulo a instituição da
Eucaristia na Última Ceia, conforme o Senhor lhe havia dado a
conhecer, o que a seguir transcrevemos:
“23
Recebi do Senhor - o que também vos transmiti que, na
noite em que foi entregue, o Senhor Jesus tomou o pão, 24 e,
depois de ter dado graças, o partiu e disse: ‘Tomai e comei;
isto é o meu Corpo que é entregue por vós. Fazei
isto em memória de Mim’. 25 Do mesmo modo, depois da Ceia,
tomou também o cálice, dizendo: ‘Este cálice é
a nova aliança no meu Sangue. Todas as vezes que o beberdes,
fazei isto em memória de Mim. 26 Pois todas as vezes que
comerdes este pão e beberdes o cálice, anunciareis a
morte do Senhor, até que Ele venha’. 27 Portanto, quem comer
este pão ou beber o cálice do Senhor indignamente, será
réu do Corpo e do Sangue do Senhor. 28 Examine-se, pois, o
homem, e assim coma deste pão e beba deste cálice.
Porque quem come e bebe indignamente sem discernir o Corpo do Senhor,
come e bebe a sua própria condenação”.
[*169]
Diz,
portanto, S. Paulo, a respeito da Presença Real do
verdadeiro Corpo e do verdadeiro Sangue do Senhor na Eucaristia
[*170], que se trata de comer o pão e de beber o
cálice do Senhor dignamente, pois quem não o faz será
réu do Corpo e do Sangue do Senhor... pois quem come e bebe
sem discernir o Corpo do Senhor, come e bebe a sua própria
condenação. Estas expressões tão
reais, comentário de São Paulo às palavras de
Jesus na Última Ceia, não deixam lugar a dúvida
sobre o fato que o pão e o vinho a que se refere são
realmente [*171] o Corpo e o Sangue de Jesus Cristo.
[*172]
-
Continuação da doutrina de São Paulo –
A
respeito da Eucaristia como sacrifício é também
riquíssima de sentido esta afirmação de São
Paulo: “pois todas as vezes que comerdes este pão e
beberdes o cálice, anunciareis a morte do Senhor até
que Ele venha” (1Cor.11,26). Trata-se, com efeito, de uma
renovação objetiva do Sacrifício da Cruz [*173],
continuação [*174], por expresso mandato do Senhor, do
Sacrifício da Última Ceia, na qual Jesus falou
do Corpo que era dado por nós e do cálice que era o
Novo Testamento, a Nova Aliança em seu Sangue (v24s).
Por
sua vez, este Sacrifício nos coloca diante da alegria
esperançosa da vinda triunfal do Salvador, imolado por nós
para dar-nos a vida eterna, “até que Ele venha”.
[*175]
Acrescentamos,
para completar a doutrina eucarística de São Paulo, a
seguinte passagem de sua Carta aos Hebreus (13,10) [*176]: “10
Nós temos um altar, do qual não podem comer os que
servem no tabernáculo”. [*177]
São
Paulo insiste, nesta Carta aos Hebreus, que Jesus é sacerdote
segundo a ordem de Melquisedeque (5,6-10;
6,20; 7,11-15-17-21), que ofereceu pão e vinho, se bem que São
Paulo não faça menção expressa deste
oferecimento de pão e vinho por parte de Melquisedeque; além
disso, o vocabulário de São Paulo nesta Carta é
profundamente eucarístico (p. ex: 9,15.18ss; 10,16s.29; 12,24;
13,20).
E
as próprias palavras que emprega no versículo 10 acima
transcrito, pois o Apóstolo fala de altar, de comer e diz no
presente temos, são uma prova do pensamento eucarístico
do Apóstolo que unia, sem poder dissociá-los, o
Sacrifício da Cruz e sua continuação como
sacrifício incruento no Sacrifício do Altar. [*178]
19
- O SACRIFÍCIO DA MISSA SEGUNDO OS SANTOS PADRES DA IGREJA.
“Do
nascer ao pôr do sol, será oferecido a Mim, em todo
lugar, um sacrifício, e será uma oblação
toda pura, porque o Meu nome é grande em todas as nações”
(Mal.1,10-11). [*179]
Não
é possível deixar de considerar que os mais antigos
doutores da Igreja: São Justino (+165), São Irineu
(+202), Tertuliano, São Cipriano (+258), etc, tenham aplicado
esta profecia de Malaquias à Eucaristia. [*180]
Os
primeiros santos Padres da Igreja nos fazem ver, de maneira
irrefutável, que desde os primeiros tempos do Cristianismo era
oferecido a Deus (como o é ainda hoje) um sacrifício —
o Santo Sacrifício da Missa — o mesmo
Sacrifício da Cruz —, isto é, a própria
“Paixão do Salvador”; com Presença
Real da Sagrada Vítima [*181]; sacrifício
ofertado por aqueles a quem Nosso Senhor Jesus Cristo havia concedido
tal poder: “hoc facite!”. Senão vejamos:
-
Sobre SACRIFÍCIO -
SÃO
PAULO
São
Paulo, 20 anos depois da instituição da Eucaristia,
escreve em sua primeira carta aos Coríntios: “O cálice
da benção que consagramos não é,
porventura, a comunhão do Sangue de Cristo? E o pão que
partimos não é a comunhão do Corpo do Senhor?”.
E
na sua carta aos Hebreus: “Nós temos um altar, do qual
não podem comer os que servem no tabernáculo”.
Ver
também a subdivisão 18.
SANTO
INÁCIO DE ANTIOQUIA (+110)
A
princípios do século II, Santo Inácio de
Antioquia expressava a fé comum ao dizer que a Eucaristia é
“a Carne de nosso Salvador Jesus Cristo, a qual padeceu por
nossos pecados e a qual o Pai ressuscitou por sua benignidade”.
[*182]
SÃO
IRINEU (+202)
“Os
Apóstolos receberam este Sacrifício de Jesus
Cristo e a Igreja o recebeu dos Apóstolos e Ela O
oferece hoje, por toda parte, conforme a profecia de Malaquias”.
[*183]
SÃO
CIPRIANO (+258)
“O
Sacrifício que nós oferecemos é a mesma Paixão
do Salvador”. [*184]
“O
pão e o vinho devem ser sempre a matéria do Sacrifício
de Jesus Cristo e tornar-se-ão seu Corpo e seu Sangue”.
[*185]
SÃO
CIRILO de JERUSALÉM (+386)
São
Cirilo de Jerusalém, nos meados do século IV, ao
instruir os novos batizados sobre a necessidade de rezar pelos
mortos, já dizia: “Nós cremos que suas almas
recebem um alívio muito grande em virtude das preces que são
oferecidas por eles no santo e temível Sacrifício do
Altar”. [*186]
SÃO
JOÃO CRISÓSTOMO (+407)
“Quando
vocês vêm o sacerdote aplicado ao Santo Sacrifício,
fazendo as suas preces, envolvido pelo povo santo, que foi lavado
pelo precioso Sangue, e o divino Salvador que se imola sobre o altar,
pensam vocês que estão ainda sobre a terra? não
acreditam vocês estarem elevados até o céu? Ó
milagre! Ó bondade! Aquele que está
sentado à direita do Pai encontra-se por um momento entre
nossas mãos e vai se dar àqueles que o querem receber”.
[*187]
SÃO
JERÔNIMO (+420)
São
Jerônimo, por sua vez, diz que Jesus Cristo “ensinou os
Apóstolos a atreverem-se a dizer, todos os dias, durante o
Sacrifício do seu Corpo: Pai Nosso que estais no céu”.
[*188]
SANTO
AGOSTINHO (+430)
Santo
Agostinho falando a cerca do Sacrifício da Missa,
em seu décimo sétimo livro da Cidade de Deus, diz:
“Este Sacrifício foi estabelecido para substituir
todos os sacrifícios do Antigo Testamento”. [*189]
“Oferecemos
por toda parte, sob o grande Pontífice Jesus Cristo, aquilo
que ofereceu Melquisedeque”. [*190]
E
é também Santo Agostinho quem nos explica
maravilhosamente o versículo 7 do salmo 39: “Vós não
quisestes nem oblações nem sacrifícios”, ao
escrever:
“E
agora! ficamos nós sem sacrifício? Que Deus não
permita. Escutemos a continuação da profecia: ‘Mas me
destes um Corpo’. Eis aqui uma nova vítima, e então o
que é que Deus rejeitará? As figuras. O que é
que Deus aceitará e nos prescreverá para substituir as
figuras? O Corpo que substitui todas as figuras, o Corpo adorável
de Jesus Cristo sobre nossos altares [*191]; este Corpo que os fiéis
conhecem e que os catecúmenos não conhecem [*192]. Este
Corpo que nós recebemos, nós que O conhecemos e que vós
ireis conhecer, vós, catecúmenos, que não O
conheceis ainda; e agrade a Deus que quando vós O conheçais
vós não O recebais jamais para a vossa condenação”.
[*193]
-
Sobre PRESENÇA REAL –
SÃO
PAULO
Ver
a subdivisão 18.
SÃO
CIPRIANO (+258)
“O
pão e o vinho devem ser sempre a matéria do Sacrifício
de Jesus Cristo e tornar-se-ão seu Corpo e seu Sangue”.
[*194]
SANTO
INÁCIO DE ANTIOQUIA (+110)
A
princípios do século II, Santo Inácio de
Antioquia expressava a fé comum ao dizer que a Eucaristia é
“a Carne de nosso Salvador Jesus Cristo, a qual padeceu por
nossos pecados e a qual o Pai ressuscitou por sua benignidade”.
[*195]
“Esforçai-vos
em realizar uma só Eucaristia, pois uma só é a
Carne de Nosso Senhor Jesus Cristo e um só é o cálice
para nos unirmos em seu Sangue”. [*196]
“Quero
o pão de Deus que é a Carne de Jesus Cristo... e por
bebida quero seu Sangue que é puro amor”. [*197]
SÃO
JUSTINO (+165)
São
Justino, que escreveu 40 anos depois da morte de São João
[*198], por sua vez, diz que “nós sabemos que estes
alimentos, destinados à nossa alimentação comum,
são modificados pelas preces no Corpo e no Sangue de Jesus
Cristo”. [*199]
“Este
alimento se chama entre nós Eucaristia. Do qual nenhum
outro é lícito participar senão ao que crê
que a nossa doutrina é verdadeira, e que tenha sido purificado
com o batismo para o perdão dos pecados e para a regeneração,
e que vive como Jesus ensinou. Porque estas coisas não a
tomamos como pão ordinário nem como bebida ordinária,
mas assim como o Verbo de Deus encarnado, Jesus Cristo nosso
Salvador, teve Carne e Sangue para a nossa salvação (na
Cruz), assim também nos foi ensinado que o alimento
‘eucaristizado’ pela palavra da oração vinda
de Deus (na dupla consagração) é a Carne e o
Sangue daquele Jesus que se encarnou (Presença Real). Porque
os Apóstolos, nos comentários por eles compostos
chamados Evangelhos, nos transmitiram que assim lhes havia sido
mandado”. [*200]
SANTO
AMBRÓSIO (+397)
“Ele
(Deus) nos alimenta realmente todos os dias deste sacramento da
Paixão”. [*201]
SÃO
JOÃO CRISÓSTOMO (+407)
“Quando
vocês vêm o sacerdote aplicado ao Santo Sacrifício,
fazendo as suas preces, envolvido pelo povo santo, que foi lavado
pelo precioso Sangue, e o divino Salvador que se imola sobre o altar,
pensam vocês que estão ainda sobre a terra? não
acreditam vocês estarem elevados até o céu? ó
milagre! ó bondade! Aquele que está sentado à
direita do Pai encontra-se por um momento entre nossas mãos e
vai se dar àqueles que o querem receber”. [*202]
SANTO
AGOSTINHO (+430)
Santo
Agostinho, ao falar sobre a assiduidade de sua mãe ao
Sacrifício do Altar, diz: “Nós participamos
deste altar divino, onde nós sabemos que é distribuída
a vítima santa pela qual a condenação foi
apagada”. [*203]
-
Sobre SACERDÓCIO MINISTERIAL -
SÃO
JOÃO EVANGELHISTA
“(Vós)
não sois do mundo e Eu vos escolhi e separei do mundo...”.
[*204]
SÃO
JOÃO CRISÓSTOMO (+407)
“Não
foi homem, nem anjo, nem arcanjo e nenhuma outra potestade senão
o próprio Paráclito quem instituiu este ministério”.
[*205]
“Quando
vês o Senhor sacrificado e humilde e o Sacerdote orando sobre a
Vítima e a todos aspergidos por aquele precioso Sangue, por
que razão crês estar na terra entre os homens? Não
penetras imediatamente nos céus?”. [*206]
As
citações acima não exigem qualquer
interpretação; elas mostram o que os Apóstolos
transmitiram aos seus sucessores e assim sucessivamente.
As
figuras da Antiga Lei já haviam sido substituídas e com
Santo Agostinho afirmamos que foram substituídas pelo
Sacrifício do Corpo adorável de Jesus Cristo oferecido
sobre nossos altares; e sendo este novo Sacrifício um
aprimoramento do antigo sacrifício propiciatório,
agora, sacerdote e fiéis devem participar da consumação
da Vítima. [*207]
E
com o Padre Le Brun dizemos que o Sacrifício da Nova Lei
é o Sacrifício do Corpo de Jesus Cristo, “oferecido e
comido sobre nossos altares, por toda a terra”. [*208]
O
Sacrifício da Nova Lei é o Santo Sacrifício da
Missa que é o mesmo Sacrifício da Cruz.
[*209]
20
- O SACRIFÍCIO DA MISSA É O MESMO SACRIFÍCIO DA
CRUZ NA MISSA HÁ UM VERDADEIRO SACRIFÍCIO.
Jesus
Cristo usando o seu poder supremo para fazer a mudança do pão
em seu Corpo, e do vinho em seu Sangue
(Presença Real), exerceu ao
mesmo tempo, o seu poder sacerdotal, ao qual Ele não
se elevou de Si mesmo, diz S. Paulo (Hebr.5,5) [*210], mas que Ele
recebeu de seu Pai (“mas foi elevado por Aquele que Lhe disse: Tu
és meu Filho, Eu hoje te gerei”), para ser
“sacerdote eternamente segundo a ordem de Melquisedeque”
(Hebr.5,6) [*211]. Como seu sacerdócio é
eterno, Ele oferecerá eternamente este sacrifício,
e Ele não terá um sucessor. Ele estará sempre
sobre os nossos altares, ainda que invisivelmente, o Sacerdote e o
Dom, o oferente e a coisa ofertada, como diz Santo Agostinho [*212].
Mas
para que este sacrifício seja visível, Ele estabeleceu
como seus ministros os Apóstolos e os sucessores dos
Apóstolos, aos quais Ele deu na Última Ceia o poder de
fazer aquilo que Ele acabara de fazer: fazei isto em memória
de Mim (Lc.22,19) [*213], inclusive repetindo o mandato por
ocasião da transubstanciação do vinho em seu
sangue, como registrou São Paulo (1Cor.11,25) [*214]; e eles o
têm feito e eles o farão, sempre, todos os dias, em seu
nome, por toda a terra: “Oferecemos por toda parte, sob o
grande Pontífice Jesus Cristo, aquilo que ofereceu
Melquisedeque”, diz Santo Agostinho. E para mostrar que
este Sacrifício jamais terminará sobre a terra, Ele nos
ordenou participar e anunciar a sua morte até a Sua
última vinda (1Cor.11,26) [*215].
-
Com consumação do Corpo e do Sangue da vítima -
O
essencial do Sacrifício da Cruz consistiu na oblação
que Jesus fez do seu Corpo [*216] e, como já foi dito, Ele
continua a oferecer este mesmo Corpo sobre o altar; e, levando à
sua derradeira perfeição este divino Sacrifício
(que no Calvário não podia ser comido pelos fiéis),
Ele nos alimenta realmente todos os dias com o sacramento da Paixão,
como diz Santo Ambrósio (+397); a manducação da
vítima, que faltava no Altar da Cruz, faz a perfeição
do sacrifício dos nossos altares. “Nós temos um
altar”, diz São Paulo (Hebr.13,10) [*217], e é
no altar da Igreja que esta manducação se efetua pela
comunhão.
A
mesma vítima é oferecida sobre o Calvário e
sobre os nossos altares, mas no Calvário ela é apenas
oferecida, enquanto que na Missa ela é oferecida e
distribuída, segundo a expressão de Santo Agostinho ao
falar sobre a assiduidade de sua mãe ao Sacrifício do
Altar: Nós participamos deste altar divino, onde nós
sabemos que é distribuída a vítima santa pela
qual a condenação foi apagada. [*218]
E
esta é a fé da Igreja: que Jesus Cristo está
sentado a direita do Pai e está fisicamente presente, tem uma
Presença Real em todos os altares onde o santo Sacrifício
da Missa é oferecido, e é o seu Corpo e é o seu
Sangue que nos são dados como alimento e bebida da alma:
“Quem
come a minha Carne e bebe o meu Sangue tem a vida eterna...”
[*219].
COM
PRESENÇA REAL DA VÍTIMA
A
fé da Igreja na Presença Real de Jesus Cristo sob as
espécies sacramentais eucarísticas é a fé
de todos os tempos. [220]
A
princípios do século II, Santo Inácio de
Antioquia (+110) expressava a fé comum ao dizer que a
Eucaristia é “a Carne de nosso Salvador Jesus Cristo,
a qual padeceu por nossos pecados e a qual o Pai ressuscitou por sua
benignidade”.
Nos
começos da negação eucarística por parte
de Berengário, o Concílio Romano do ano 1079 lhe opôs
a fé da Igreja: “...e que depois da consagração
[o pão e o vinho] são o verdadeiro Corpo de
Cristo, (Corpo) que nasceu da Virgem e que, oferecido pela
salvação do mundo, esteve pendurado na Cruz, e que está
sentado à direita do Pai, e [que o pão e o vinho] são
o verdadeiro Sangue de Cristo que foi derramado de seu lado”.
No
tempo da maior negação da Eucaristia por parte dos
protestantes, o Concílio de Trento proclamava a mesma fé:
“Ensina primeiramente o Santo Concílio e confessa aberta
e simplesmente que no venerável sacramento da Santa
Eucaristia, depois da consagração do pão e do
vinho, debaixo das aparências destas coisas sensíveis,
se encerra Nosso Senhor Jesus Cristo, verdadeiro Deus e verdadeiro
homem, verdadeira, real [*221] e substancialmente (Canon
1).
Porque
não há contradição entre o fato de estar
o Nosso Salvador, Ele mesmo, sempre sentado à mão
direita do Pai no céu, conforme o seu modo natural de existir,
e que, não obstante, a sua substância esteja presente
entre nós, em muitos outros lugares, sacramentalmente, com
aquele modo de existir, o qual, ainda que nós possamos apenas
exprimi-lo com palavras, podemos, contudo, alcançar com a
razão iluminada pela fé e devemos crer firmemente ser
possível a Deus”. [*222]
Mais
recentemente, na grande Encíclica “Mediator Dei” sobre a
Liturgia, temos, “uma vez mais, uma idêntica profissão
de fé: [com seu culto eucarístico] os fiéis
cristãos atestam e solenemente manifestam a fé da
Igreja pela qual cremos que é o mesmo Verbo de Deus e Filho da
Virgem Maria, que padeceu na Cruz, que se esconde presente na
Eucaristia e que reina nos céus”. [*223]
E
é Jesus Cristo — presente na Eucaristia — quem se oferece
no Altar, como Ele se ofereceu para morrer sobre a Cruz [*224],
mas agora, no Sacrifício da Missa, ele se oferece pelo
ministério dos sacerdotes [*225].
E
NUNCA SE VERÁ FALTAR OS SACRIFÍCIOS EM FUNÇÃO
DO SACERDÓCIO MINISTERIAL
FAZEI
ISTO! HOC FACITE! [*226]
Ao dizer tais palavras, Jesus Cristo fez dos Apóstolos,
e dos seus sucessores, sacerdotes da Nova Aliança.
Os
apóstolos, depois de orar, escolheram a Matias para o
lugar de Judas (At.1,24-26) [*227]; mais adiante, também
depois de orar, impuseram as mãos sobre sete novos auxiliares
(Estevão, Felipe, Prócoro, Nicanor, Timão,
Pármenas e Nicolau); e por obra do Espírito
Santo impuseram as mãos sobre Saulo e Barnabé
(At.13,2-3) [*228]; e a palavra do Senhor se divulgava (At.6,5-7)
[*229].
São
Paulo constituiu Timóteo bispo de Éfeso
[*230] e a Tito bispo de
Creta [*231]; mãos antigas colocadas sobre cabeças
mais novas e assim sucessivamente [*232]; e deste modo foram sendo
escolhidos e nomeados os sacerdotes da Nova Aliança.
São
João Crisóstomo (354-407), chamado “doutor da
Eucaristia”, diz que “não foi homem, nem
anjo, nem arcanjo e nenhuma outra potestade, senão o próprio
Paráclito quem instituiu este Ministério”
[*233], o Ministério dos Sacerdotes e, conseqüentemente,
“nunca se verá faltar nem os sacerdotes e nem os
sacrifícios” (Jer.33,18).
O
sacerdócio da Nova Aliança, com sacerdotes
segundo a ordem de Melquisedeque, foi estabelecido para ser
oferecido, pelo Sacerdote Eterno, em toda parte, um Sacrifício
puro e sem mancha, como profetizou Malaquias, sacrifício este
que foi instituído “para tomar o lugar de todos os
sacrifícios do Antigo Testamento”, como disse Santo
Agostinho [*234]: o Santo Sacrifício da Missa.
Assim,
o Sacerdote, ao oferecer o Santo Sacrifício da Missa,
apenas dá continuidade ao Sacrifício da Cruz,
uma vez que recebeu de Jesus Cristo a ordem formal, na véspera
da sua morte [*235], durante a Última Ceia: fazei isto.
Se
os sacerdotes oferecem tal sacrifício — o Santo
Sacrifício da Missa — como ministros de Cristo e da
Igreja, também o oferecem os demais fiéis. Mas há
entre aqueles e estes uma diferença essencial que reside no
caráter sacerdotal, que unicamente se imprime na alma
pelo sacramento da Ordem que dá ao sacerdote o poder de
consagrar. [*236]
Atendendo
aos diversos aspectos, explica a doutrina da Igreja que a imolação
incruenta pela qual Cristo, em virtude das palavras da consagração,
se faz presente sobre o altar em estado de vítima, não
a faz o sacerdote na qualidade de representante dos fiéis,
senão que como representante de Jesus Cristo mesmo. [*237]
Apesar
da diferença que existe entre o sacerdócio ministerial
e o sacerdócio comum dos fiéis, os assistentes, como
dito acima, também oferecem o Santo Sacrifício da
Missa; as pessoas reunidas diante do altar unem-se a Jesus
Cristo no oferecimento que é feito a Deus; oferecem a Deus a
melhor dádiva que Lhe pode ser ofertada: o sacrifício
do seu próprio Filho, o qual substituiu todos os sacrifícios
da Antiga Lei que não agradavam a Deus.
E
os propósitos pelos quais este sacrifício é
realizado são, sempre foram e sempre serão os
seguintes: adoração –
agradecimento - satisfação pelos
pecados e para a salvação das almas - pelos
vivos e pelos mortos - pelos presentes e ausentes - pela Santa Igreja
Católica - e - para receber as graças que precisamos
“ET
INTROÍBO AD ALTÁRE DEI: AD DEUM QUI LAETÍFICAT
JUVENTÚTEM MEAM”. “E APROXIMAR-ME-EI DO ALTAR DE DEUS;
PERANTE DEUS QUE É A ALEGRIA DA MINHA JUVENTUDE”.
21
- SUBAMOS O CALVÁRIO.
O
Santo Sacrifício da Missa é o mesmo Sacrifício
da Cruz e, por isso mesmo, a sua celebração
permite aplicar aos fiéis os méritos da Cruz,
perpetuar esta fonte de graças no tempo e no espaço. O
Evangelho de São Mateus termina com estas palavras: “E
eis que Eu estou convosco todos os dias até a consumação
dos séculos” [*238].
Assim,
cada vez que assistimos ao Sacrifício da Missa, subimos, em
espírito, o Calvário, onde nos sentimos ao lado da Mãe
das Dores e de São João [*239].
“Eu
lá estava”, dizia Santo Agostinho.
[*240]
“Eu
quero estar lá, no Calvário de nossos altares”,
digamos nós.
Subamos
o Calvário para dobrarmos os nossos joelhos, para nos
curvarmos diante de Nosso Senhor Jesus Cristo e Ele, fisicamente —
realmente — presente, receberá as nossas ofertas e
súplicas, para levá-las, junto com seu Corpo e seu
Sangue, como um suave aroma [*241], ao altar celestial: a seu Pai,
nosso Deus Todo-Poderoso
Francisco
Lafayette de Moraes.
FONTE
MOVEMENTO MARIANO SACERTDOTAL
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