O Papa Bento XVl e os Jovens

MENSAGEM DO PAPA BENTO XVI

PARA A XXIII JORNADA MUNDIAL DA JUVENTUDE



Prezados jovens

1. A XXIII Jornada Mundial da Juventude

Recordo sempre com grande alegria os vários momentos transcorridos juntos em Colónia, em Agosto de 2005. No final daquela inesquecível manifestação de fé e de entusiasmo, que permanece impressa no meu espírito e no meu coração, marquei encontro convosco para a próxima reunião que terá lugar em Sydney em 2008. Será a XXIII Jornada Mundial da Juventude e terá como tema: "Ides receber uma força, a do Espírito Santo, que descerá sobre vós e sereis minhas testemunhas" (Act 1, 8). O fio condutor da preparação espiritual para o encontro de Sydney é o Espírito Santo e a missão. Se em 2006 parámos para meditar sobre o Espírito Santo como Espírito de verdade, em 2007 procuramos descobri-lo mais profundamente, como Espírito de amor, para nos encaminharmos depois rumo à Jornada Mundial da Juventude de 2008, reflectindo acerca do Espírito de fortaleza e testemunho, que nos dá a coragem de viver o Evangelho e a audácia para o proclamar. Por isso, é fundamental que cada um de vós, jovens, na comunidade e com os educadores, possa reflectir sobre este Protagonista da história da salvação, que é o Espírito Santo ou Espírito de Jesus, para alcançar estas altas finalidades: reconhecer a verdadeira identidade do Espírito, em primeiro lugar ouvindo a Palavra de Deus na Revelação da Bíblia; tomar uma consciência límpida da sua presença contínua e activa na vida da Igreja, em particular redescobrindo que o Espírito Santo se põe como "alma", sopro vital da própria vida cristã, graças aos sacramentos da iniciação cristã Baptismo, Confirmação e Eucaristia; tornar-se assim capaz de amadurecer uma compreensão de Jesus cada vez mais profunda e alegre e, contemporaneamente, de realizar uma prática eficaz do Evangelho no alvorecer do terceiro milénio. Com esta mensagem, ofereço-vos de bom grado um percurso de meditação para aprofundar ao longo deste ano de preparação, no qual verificar a qualidade da vossa fé no Espírito Santo, reencontrá-la se foi perdida, revigorá-la se está debilitada e saboreá-la como companhia do Pai e do Filho Jesus Cristo, precisamente graças à obra indispensável do Espírito Santo. Nunca esqueçais que a Igreja, aliás a própria humanidade, a que vos circunda e a que vos aguarda no futuro, espera muito de vós, jovens, porque tendes em vós o dom supremo do Pai, o Espírito de Jesus.

2. A promessa do Espírito Santo na Bíblia

A escuta atenta da Palavra de Deus a respeito do mistério e da obra do Espírito Santo introduz-nos em conhecimentos vastos e estimulantes, que resumo nos seguintes pontos.

Pouco antes da sua ascensão, Jesus disse aos discípulos: "Eu vou mandar sobre vós o que meu Pai prometeu" (Lc 24, 49). Isto realizou-se no dia do Pentecostes, quando eles estavam reunidos em oração no Cenáculo com a Virgem Maria. A efusão do Espírito Santo na Igreja nascente foi o cumprimento de uma promessa de Deus, muito mais antiga, anunciada e preparada em todo o Antigo Testamento.

Com efeito, desde as primeiras páginas a Bíblia evoca o espírito de Deus como um sopro que "se movia sobre a superfície das águas" (cf. Gn 1, 2) e especifica que Deus insuflou pelas narinas do homem um sopro de vida (cf. Gn 2, 7), infundindo-lhe assim a própria vida. Depois do pecado original, o espírito vivificador de Deus manifestar-se-á diversas vezes na história dos homens, suscitando profetas para incitar o povo eleito a voltar para Deus e a observar fielmente os seus mandamentos. Na célebre visão do profeta Ezequiel, Deus faz reviver com o seu espírito o povo de Israel, representado por "ossos dissecados" (cf. 37, 1-14). Joel profetiza uma "efusão do espírito" sobre todo o povo, sem excluir ninguém: "Depois disto escreve o Autor sagrado acontecerá que derramarei o meu Espírito sobre toda a carne... Naqueles dias, derramarei também o meu Espírito sobre os escravos e as escravas" (3, 1-2).

Na "plenitude dos tempos" (cf. Gl 4, 4), o anjo do Senhor anuncia à Virgem de Nazaré que o Espírito Santo, "poder do Altíssimo", descerá e estenderá sobre ela a sua sombra. Aquele que Ela dará à luz será, portanto, santo e chamado Filho de Deus (cf. Lc 1, 35). Segundo a expressão do profeta Isaías, o Messias será Aquele sobre o qual se repousará o Espírito do Senhor (cf. 11, 1-2; 42, 1). Jesus retomou precisamente esta profecia no início do seu ministério público na sinagoga de Nazaré: "O Espírito do Senhor disse Ele, no meio da admiração dos presentes está sobre mim, porque me ungiu para anunciar a Boa Nova aos pobres; enviou-me para proclamar a libertação aos cativos e, aos cegos, o recobrar da vista; para mandar em liberdade os oprimidos e proclamar um ano de graça do Senhor" (Lc 4, 18-19; cf. Is 61, 1-2). Dirigindo-se aos presentes, referirá a si mesmo estas palavras proféticas, afirmando: "Cumpriu-se hoje esta passagem da Escritura, que acabastes de ouvir" (Lc 4, 21). E antes da sua morte na cruz, ainda anunciará várias vezes aos discípulos a vinda do Espírito Santo, o "Consolador", cuja missão consistirá em dar-lhe testemunho e assistir os fiéis, ensinando-os e orientando-os para a Verdade integral (cf. Jo 14, 16-17.25-26; 15, 26; 16, 13).

3. O Pentecostes, ponto de partida da missão da Igreja

À noite, no dia da sua ressurreição, Jesus apareceu aos discípulos, "soprou sobre eles e disse-lhes: "Recebei o Espírito Santo"" (Jo 20, 22). Com força ainda maior, o Espírito Santo desceu sobre os Apóstolos no dia do Pentecostes: "Subitamente ressoou, vindo do Céu lê-se nos Actos dos Apóstolos um som comparável ao de forte rajada de vento, que encheu toda a casa onde se encontravam. Viram, então, aparecer umas línguas à maneira de fogo, que se iam dividindo, e pousou sobre cada um deles" (2, 2-3).

O Espírito Santo renovou interiormente os Apóstolos, revestindo-os de uma força que os tornou audazes para anunciar sem medo: "Cristo morreu e ressuscitou!". Livres de todo o temor, eles começaram a falar com franqueza (cf. Act 2, 29; 4, 13; 4, 29.31). De pescadores amedrontados, tornaram-se corajosos anunciadores do Evangelho. Nem sequer os seus inimigos conseguiam compreender como homens "iletrados e plebeus" (cf. Act 4, 13) eram capazes de manifestar uma coragem como esta e suportar as contrariedades, os sofrimentos e as perseguições com alegria. Nada podia detê-los. Àqueles que procuravam reduzi-los ao silêncio, respondiam: "Quanto a nós, não podemos deixar de afirmar publicamente o que vimos e ouvimos" (Act 4, 20). Assim nasceu a Igreja, que a partir do dia do Pentecostes não cessou de irradiar a Boa Nova "até aos confins do mundo" (Act 1, 8).

4. O Espírito Santo alma da Igreja e princípio de comunhão

Mas para compreender a missão da Igreja, temos que voltar ao Cenáculo, onde os discípulos estavam reunidos (cf. Lc 24, 49) a rezar com Maria, a "Mãe", à espera do Espírito prometido. Neste ícone da Igreja nascente devem inspirar-se constantemente todas as comunidades cristãs. A fecundidade apostólica e missionária não é principalmente o resultado de programas e métodos pastorais sabiamente elaborados e "eficazes", mas é fruto da oração comunitária incessante (cf. Paulo VI, Exortação Apostólica Evangelii nuntiandi, 75). Além disso, a eficácia da missão pressupõe que as comunidades permaneçam unidas, ou seja, tenham "um só coração e uma só alma" (cf. Act 4, 32) e estejam dispostas a dar testemunho do amor e da alegria que o Espírito Santo infunde nos corações dos fiéis (cf. Act 2, 42). O Servo de Deus João Paulo II pôde escrever que antes de ser acção, a missão da Igreja é testemunho e irradiação (cf. Encíclica Redemptoris missio, 26). Assim aconteceu nos primórdios do cristianismo, quando os pagãos escreve Tertuliano se convertiam ao verem o amor que reinava entre os cristãos: "Vê dizem como se amam uns aos outros" (cf. Apologético, 39 7).

Concluindo esta rápida consideração da Palavra de Deus na Bíblia, convido-vos a observar como o Espírito Santo é o dom mais excelso de Deus ao homem e, portanto, o testemunho supremo do seu amor por nós, um amor que se expressa concretamente como "sim à vida" que Deus deseja para cada uma das suas criaturas. Este "sim à vida" tem a sua forma plena em Jesus de Nazaré e na sua vitória sobre o mal, mediante a redenção. A este propósito, nunca esqueçamos que o Evangelho de Jesus, precisamente em virtude do Espírito, não se reduz a uma simples constatação, mas quer tornar-se "boa nova para os pobres, libertação para os prisioneiros, vista para os cegos...". É aquilo que se manifestou com vigor no dia do Pentecostes, tornando-se graça e tarefa da Igreja em favor do mundo, a sua missão prioritária.

Nós somos os frutos desta missão da Igreja, por obra do Espírito Santo. Trazemos dentro de nós aquele selo do amor do Pai em Jesus Cristo, que é o Espírito Santo. Nunca o esqueçamos, porque o Espírito do Senhor se recorda sempre de cada um e quer, em particular mediante vós, jovens, suscitar no mundo o vento e o fogo de um novo Pentecostes.

5. O Espírito Santo "Mestre interior"

Estimados jovens, portanto também hoje o Espírito Santo continua a agir com poder na Igreja, e os seus frutos são abundantes na medida em que se dispõem a abrir-nos à sua força renovadora. Por isso, é importante que cada um de nós O conheça, entre em relação com Ele e por Ele se deixe orientar. Mas nesta altura apresenta-se naturalmente uma pergunta: quem é para mim o Espírito Santo? Com efeito, não são poucos os cristãos para os quais Ele continua a ser o "grande desconhecido". Eis por que, ao preparar-nos para a próxima Jornada Mundial da Juventude, desejei convidar-vos a aprofundar o conhecimento pessoal do Espírito Santo. Na nossa profissão de fé, proclamamos: "Creio no Espírito Santo, que é Senhor e dá a vida, e procede do Pai e do Filho" (Símbolo Niceno-Constantinopolitano). Sim, o Espírito Santo, Espírito de amor do Pai e do Filho, é Fonte de vida que nos santifica, "porque o amor de Deus foi derramado em nossos corações, pelo Espírito Santo que nos foi concedido" (Rm 5, 5). Todavia, não é suficiente conhecê-lo; é necessário acolhê-lo como guia das nossas almas, como o "Mestre interior" que nos introduz no Mistério trinitário, porque somente Ele pode abrir-nos à fé e permitir-nos vivê-la plenamente todos os dias. Ele impele-nos rumo aos outros, acende em nós o fogo do amor e torna-nos missionários da caridade de Deus.

Bem sei como vós, jovens, tendes no coração uma grande estima e amor a Jesus, como desejais encontrá-lo e falar com Ele. Pois bem, recordai-vos que precisamente a presença do Espírito em nós atesta, constitui e constrói a nossa pessoa na própria Pessoa de Jesus crucificado e ressuscitado. Portanto, tornemo-nos familiares com o Espírito Santo, para o sermos com Jesus.

6. Os Sacramentos da Confirmação e da Eucaristia

Mas direis como podemos deixar-nos renovar pelo Espírito Santo e crescer na nossa vida espiritual? A resposta sabeis é: através dos sacramentos, porque a fé nasce e se fortalece em nós graças aos sacramentos, antes de tudo aos sacramentos da iniciação cristã: o Baptismo, a Confirmação e a Eucaristia, que são complementares e inseparáveis (cf. Catecismo da Igreja Católica, n. 1285). Esta verdade sobre os três sacramentos que se encontram no início do nosso ser cristãos é, talvez, descuidada na vida de fé de não poucos cristãos, para os quais eles são gestos cumpridos no passado, sem incidência real no presente, como raízes desprovidas da linfa vital. Acontece que, depois de terem recebido a Confirmação, diversos jovens se afastam da vida de fé. E há também jovens que nem sequer recebem este sacramento. Contudo, é mediante os sacramentos do Baptismo, da Confirmação e em seguida, de modo continuativo, da Eucaristia, que o Espírito Santo nos torna filhos do Pai, irmãos de Jesus, membros da sua Igreja, capazes de um verdadeiro testemunho do Evangelho, fruidores da alegria da fé.

Por isso, convido-vos a reflectir sobre aquilo que vos escrevo. Hoje é particularmente importante redescobrir o sacramento da Confirmação e voltar a encontrar o seu valor para o nosso crescimento espiritual. Quem recebeu os sacramentos do Baptismo e da Confirmação recorde-se que se tornou "templo do Espírito": Deus habita nele. Esteja sempre consciente disto e faça com que o tesouro que nele se encontra dê frutos de santidade. Quem é baptizado, mas ainda não recebeu o sacramento da Confirmação, prepare-se para o receber, consciente de que assim há-de tornar-se um cristão "completo", porque a Confirmação aperfeiçoa a graça baptismal (cf. Catecismo da Igreja Católica, nn. 1302-1304).

A Confirmação dá-nos uma força especial para testemunhar e glorificar a Deus com toda a nossa vida (cf. Rm 12, 1); torna-nos intimamente conscientes da nossa pertença à Igreja, "Corpo de Cristo", de Quem todos nós somos membros vivos, solidários uns com os outros (cf. 1 Cor 12, 12-25). Deixando-se orientar pelo Espírito, cada baptizado pode oferecer a sua contribuição para a edificação da Igreja, graças aos carismas que Ele infunde, porque "a manifestação do Espírito é dada a cada um, para proveito comum" (1 Cor 12, 7). E quando o Espírito age, traz na própria alma os seus frutos, que são "caridade, alegria, paz, paciência, benignidade, bondade, fidelidade, mansidão e temperança" (Gl 5, 22). A quantos ainda não receberam o sacramento da Confirmação, dirijo o cordial convite a preparar-se para o acolher, pedindo ajuda aos seus sacerdotes. O Senhor oferece-vos uma especial ocasião de graça: não a deixeis fugir!

Aqui, gostaria de acrescentar uma palavra sobre a Eucaristia. Para crescer na vida cristã, é necessário alimentar-se do Corpo e Sangue de Cristo: com efeito, somos baptizados e confirmados em vista da Eucaristia (cf. Catecismo da Igreja Católica, n. 1322; Exortação Apostólica Sacramentum caritatis, 17). "Fonte e ápice" da vida eclesial, a Eucaristia é um "Pentecostes perpétuo", porque cada vez que celebramos a Santa Missa recebemos o Espírito Santo que nos une mais profundamente a Cristo e nele nos transforma. Queridos jovens, se participardes frequentemente na Celebração eucarística, se consagrardes um pouco do vosso tempo à adoração do Santíssimo Sacramento, da Fonte do amor, que é a Eucaristia, haveis de receber aquela alegre determinação de dedicar a vida ao seguimento do Evangelho. Experimentareis, ao mesmo tempo, que quando as nossas forças não são suficientes, é o Espírito Santo que nos transforma, que nos cumula com a sua força e nos torna testemunhas repletas do ardor missionário de Cristo ressuscitado.

7. A necessidade e a urgência da missão

Muitos jovens reflectem sobre a sua vida com apreensão e formulam muitas interrogações acerca do seu futuro. Preocupados, eles perguntam-se: como inserir-se num mundo assinalado por numerosas e graves injustiças e sofrimentos? Como reagir ao egoísmo e à violência, que por vezes parecem prevalecer? Como dar pleno sentido à vida? Como contribuir para que os frutos do Espírito, que recordámos acima, "caridade, alegria, paz, paciência, benignidade, bondade, fidelidade, mansidão e temperança" (ponto n. 6), inundem este mundo ferido e frágil, antes de tudo o mundo dos jovens? Com que condições o Espírito vivificador da primeira criação, e sobretudo da segunda criação ou redenção, pode tornar-se a nova alma da humanidade? Não esqueçamos que quanto maior é o dom de Deus e o do Espírito de Jesus é o máximo tanto maior é a necessidade que o mundo tem de o receber e, portanto, tanto maior e mais apaixonante é a missão da Igreja de dar testemunho credível do mesmo. E vós jovens, com a Jornada Mundial da Juventude, de certo modo testemunhais a vontade de participar em tal missão.

Caros amigos, a este propósito quero recordar-vos aqui algumas verdades de referência sobre as quais meditar. Mais uma vez, repito-vos que somente Cristo pode satisfazer as aspirações mais íntimas do coração do homem; só Ele é capaz de humanizar a humanidade e conduzi-la à sua "divinização". Com o poder do seu Espírito, Ele infunde em nós a caridade divina, que nos torna capazes de amar o próximo e de nos pormos com disponibilidade ao seu serviço. Revelando Cristo crucificado e ressuscitado, o Espírito Santo ilumina, indica-nos a vida para nos tornarmos mais semelhantes a Ele, ou seja, para sermos "expressão e instrumento do amor que dele dimana" (Encíclica Deus caritas est, 33). E quem se deixa guiar pelo Espírito, compreende que pôr-se ao serviço do Evangelho não é uma opção facultativa, porque sente como é urgente transmitir esta Boa Nova também aos outros. Todavia, é necessário voltar a recordá-lo, só podemos ser testemunhas de Cristo se nos deixarmos guiar pelo Espírito Santo, que é "o agente principal da evangelização" (cf. Evangelii nuntiandi, 75) e "o protagonista da missão" (cf. Redemptoris missio, 21).

Dilectos jovens, como reiteraram várias vezes os meus venerados Predecessores Paulo VI e João Paulo II, anunciar o Evangelho e dar testemunho da fé é hoje mais necessário do que nunca (cf. Redemptoris missio, 1). Alguns pensam que apresentar o tesouro precioso da fé às pessoas que não a compartilham significa ser intolerante para com elas, mas não é assim, porque propor Cristo não significa impô-lo (cf. Evangelii nuntiandi, 80). De resto, há dois mil anos doze Apóstolos deram a vida para que Cristo fosse conhecido e amado. A partir de então, o Evangelho continua a difundir-se ao longo dos séculos, graças a homens e mulheres animados pelo seu próprio zelo missionário. Portanto, também hoje são necessários discípulos de Cristo que não poupem tempo nem energias para servir o Evangelho. São precisos jovens que deixem arder dentro de si o amor a Deus e respondam generosamente ao seu apelo urgente, como fizeram muitos jovens Beatos e Santos do passado e inclusive de épocas mais próximas a nós. Em particular, asseguro-vos que o Espírito de Jesus hoje vos convida, jovens, a serdes portadores da Boa Nova de Jesus aos vossos coetâneos. A indubitável dificuldade que os adultos têm de encontrar de maneira compreensível e convincente a classe juvenil pode ser um sinal com que o Espírito tenciona impelir-vos, jovens, a assumir esta responsabilidade. Vós conheceis os ideais, as linguagens e também as feridas, as expectativas e ao mesmo tempo o desejo de bem dos vossos coetâneos. Abre-se o vasto mundo dos afectos, do trabalho, da formação, da expectativa, do sofrimento juvenil... Cada um de vós tenha a coragem de prometer ao Espírito Santo que conduzirá um jovem para Jesus Cristo, do modo como melhor considerar, sabendo "responder com doçura a todo aquele que vos perguntar a razão da vossa esperança" (cf. 1 Pd 3, 15).

Mas para alcançar esta finalidade, queridos amigos, sede santos, sede missionários, porque nunca se pode separar a santidade da missão (cf. Redemptoris missio, 90). Não tenhais medo de ser santos missionários, como São Francisco Xavier, que percorreu o Extremo Oriente para anunciar a Boa Nova até ao extremo das suas forças, ou como Santa Teresa do Menino Jesus, que foi missionária, contudo sem jamais ter deixado o Carmelo: ambos são "Padroeiros das Missões". Estai prontos a pôr em jogo a vossa vida, para iluminar o mundo com a verdade de Cristo; para responder com amor ao ódio e ao desprezo pela vida; e para proclamar em todos os cantos da terra a esperança de Cristo ressuscitado.

8. Invocar um "novo Pentecostes" sobre o mundo

Prezados jovens, aguardo-vos numerosos em Julho de 2008 em Sydney. Será uma ocasião providencial para experimentar plenamente o poder do Espírito Santo. Vinde em grande número, para serdes sinal de esperança e sustento precioso para as comunidades da Igreja na Austrália, que estão a preparar-se para vos receber. Para os jovens do país que nos hospedará, será uma extraordinária oportunidade de anunciar a beleza e a alegria do Evangelho a uma sociedade sob muitos aspectos secularizada. Como toda a Oceânia, a Austrália tem necessidade de descobrir novamente as suas raízes cristãs. Na Exortação pós-sinodal Ecclesia in Oceania, João Paulo II escrevia: "Com a força do Espírito Santo, a Igreja na Oceânia está a preparar-se para uma nova evangelização de povos que hoje têm fome de Cristo... A nova evangelização é uma prioridade para a Igreja na Oceânia" (n. 18).

Convido-vos a dedicar tempo à oração e à vossa formação espiritual neste último trecho do caminho que nos conduz à XXIII Jornada Mundial da Juventude, a fim de que em Sydney possais renovar as promessas do vosso Baptismo e da vossa Confirmação. Em conjunto, invocaremos o Espírito Santo, pedindo com confiança a Deus o dom de um renovado Pentecostes para a Igreja e para a humanidade do terceiro milénio.

Maria, unida em oração aos Apóstolos no Cenáculo, vos acompanhe durante estes meses e obtenha para todos os jovens cristãos uma renovada efusão do Espírito Santo, que inflame os seus corações. Recordai: a Igreja tem confiança em vós! Nós Pastores, de modo particular, rezamos para que vos ameis e façais com que Jesus seja cada vez mais amado, e a fim de que O sigais fielmente. Com estes sentimentos, abençoo-vos a todos com grande carinho.

Lorenzago, 20 de Julho de 2007.

BENEDICTUS PP. XVI



MENSAGEM DO PAPA BENTO XVI
PARA A XXII JORNADA MUNDIAL DA JUVENTUDE
(1 DE ABRIL DE 2007)

 

"Que vos ameis uns aos outros
assim como Eu vos amei" (Jo 13, 34)

Queridos jovens!

Por ocasião da XXII Jornada Mundial da Juventude, que será celebrada nas Dioceses no próximo Domingo de Ramos, gostaria de propor à vossa meditação as palavras de Jesus: "que vos ameis uns aos outros assim como Eu vos amei" (Jo 13, 34).

É possível amar?

Cada pessoa sente o desejo de amar e ser amada. Mas como é difícil amar, quantos erros e falências devem verificar-se no amor! Há até quem chegue a duvidar que o amor seja possível. Mas se carências afectivas ou desilusões sentimentais podem levar a pensar que amar é uma utopia, um sonho irrealizável, talvez seja necessário resignar-se? Não! O amor é possível e a finalidade desta mensagem é contribuir para reavivar em cada um de vós, que sois o futuro e a esperança da humanidade, a confiança no amor verdadeiro, fiel e forte; um amor que gera paz e alegria; um amor que une as pessoas, fazendo-as sentir-se livres no respeito recíproco. Deixai então que eu percorra juntamente convosco um itinerário, em três momentos, na "descoberta" do amor.

Deus, fonte do amor

O primeiro momento refere-se à fonte do amor verdadeiro, que é única: é Deus. São João ressalta bem este aspecto ao afirmar que "Deus é amor" (1 Jo 4, 8.16); agora ele não quer dizer apenas que Deus nos ama, mas que o próprio ser de Deus é amor. Estamos aqui diante da revelação mais luminosa da fonte do amor que é o mistério trinitário: em Deus, uno e trino, há um intercâmbio eterno de amor entre as pessoas do Pai e do Filho, e este amor não é uma energia ou um sentimento, mas uma pessoa, é o Espírito Santo.

A Cruz de Cristo revela plenamente o amor de Deus

Como se nos manifesta o Deus-Amor? Estamos no segundo momento do nosso itinerário. Mesmo se já na criação são claros os sinais do amor divino, a revelação total do mistério íntimo de Deus verificou-se com a Encarnação, quando o próprio Deus se fez homem. Em Cristo, verdadeiro Deus e verdadeiro Homem, conhecemos o amor em todo o seu alcance. De facto, "a verdadeira novidade do Novo Testamento escrevi na Encíclica Deus caritas est não consiste em ideias novas, mas na própria figura de Cristo, que dá carne e sangue aos conceitos um realismo extraordinário" (n. 12). A manifestação do amor divino é total e perfeita na Cruz, onde, como afirma São Paulo, "é assim que Deus demonstra o seu amor para connosco: quando ainda éramos pecadores é que Cristo morreu por nós" (Rm 5, 8). Portanto, cada um de nós pode dizer sem receio de errar: "Cristo amou-me e entregou-se a Si mesmo por mim" (cf. Ef 5, 2). Redimida pelo seu sangue, vida humana alguma é inútil ou de pouco valor, porque todos somos amados pessoalmente por Ele com um amor apaixonado e fiel, um amor sem limites. A Cruz, loucura para o mundo, escândalo para muitos crentes, é ao contrário "sabedoria de Deus" para todos os que se deixam tocar profundamente no seu ser, "o que é considerado loucura de Deus é mais sábio que os homens, e o que é debilidade de Deus é mais forte que os homens" (cf. 1 Cor 1, 24-25). Aliás, o Crucificado, que depois da ressurreição traz para sempre os sinais da própria paixão, ressalta as "falsificações" e as mentiras sobre Deus, que se disfarçam com a violência, a vingança e a exclusão. Cristo é o Cordeiro de Deus, que assume os pecados do mundo e desenraiza o ódio do coração do homem. Eis a sua verdadeira "revolução": o amor.

Amar o próximo como Cristo nos ama

Chegamos agora ao terceiro momento da nossa reflexão. Na cruz Cristo grita: "Tenho sede" (Jo 19, 28): revela assim uma sede ardente de amar e de ser amado por todos nós. Unicamente se conseguirmos compreender a profundeza e a intensidade deste mistério, nos apercebemos da necessidade e da urgência de o amar por nossa vez "como" Ele nos amou. Isto exige o compromisso de dar também, se for necessário, a própria vida pelos irmãos amparados pelo Seu amor. Já no Antigo Testamento Deus dissera: "Amarás o teu próximo como a ti mesmo" (Lv 19, 18), mas a novidade de Cristo consiste no facto de que amar como Ele nos amou significa amar todos, sem distinções, também os inimigos, "até ao fim" (cf. Jo 13, 1).

Testemunhas do amor de Cristo

Gostaria agora de me deter sobre três âmbitos da vida quotidiana onde vós, queridos jovens, sois particularmente chamados a manifestar o amor de Deus. O primeiro é a Igreja que é a nossa família espiritual, composta por todos os discípulos de Cristo. Recordando-nos das suas palavras: "Por isso é que todos conhecerão que sois meus discípulos: se vos amardes uns aos outros" (Jo 13, 35), alimentai, com o vosso entusiasmo e com a vossa caridade, as actividades das paróquias, das comunidades, dos movimentos eclesiais e dos grupos juvenis aos quais pertenceis. Sede solícitos em procurar o bem do próximo, fiéis aos compromissos assumidos. Não hesiteis em renunciar com alegria a alguns dos vossos divertimentos, aceitai de bom grado os sacrifícios necessários, testemunhai o vosso amor fiel a Jesus anunciando o seu Evangelho especialmente entre os vossos coetâneos.

Preparar-se para o futuro

O segundo âmbito, no qual sois chamados a expressar o amor e a crescer nele, é a vossa preparação para o futuro que vos espera. Se sois noivos, Deus tem um projecto de amor para o vosso futuro de casal e de família e por conseguinte é essencial que o descubrais com a ajuda da Igreja, livres do preconceito difundido de que o cristianismo, com os seus mandamentos e as suas proibições, constitua obstáculos à alegria do amor e impeça em particular de viver plenamente aquela felicidade que o homem e a mulher procuram no seu amor recíproco. O amor do homem e da mulher está na origem da família humana e o casal formado por um homem e por uma mulher tem o seu fundamento no desígnio originário de Deus (cf. Gn 2, 18-25). Aprender a amar-se como casal é um caminho maravilhoso, que contudo exige um tirocínio empenhativo. O período do noivado, fundamental para construir o casal, é um tempo de expectativa e de preparação, que deve ser vivido na castidade dos gestos e das palavras. Isto permite amadurecer no amor, na solicitude e nas atenções ao outro; ajuda a exercer o domínio de si, a desenvolver o respeito do outro, características do verdadeiro amor que não procura em primeiro lugar a própria satisfação nem o seu bem-estar. Na oração comum pedi ao Senhor que guarde e incremente o vosso amor e o purifique de qualquer egoísmo. Não hesiteis em responder generosamente à chamada do Senhor, porque o matrimónio cristão é uma verdadeira e própria vocação na Igreja. De igual modo, queridos jovens e queridas jovens, estai preparados para dizer "sim", se Deus vos chamar a segui-lo pelo caminho do sacerdócio ministerial ou da vida consagrada. O vosso exemplo servirá de encorajamento para muitos outros vossos coetâneos, que estão em busca da verdadeira felicidade.

Crescer no amor todos os dias

O terceiro âmbito do compromisso que o amor exige é o da vida quotidiana com as suas numerosas relações. Refiro-me sobretudo à família, à escola, ao trabalho e ao tempo livre. Queridos jovens, cultivai os vossos talentos não só para conquistar uma posição social, mas também para ajudar os outros "a crescer". Desenvolvei as vossas capacidades, não só para vos tornardes mais "competitivos" e "produtivos", mas para serdes "testemunhas da caridade". Juntai à formação profissional o esforço de adquirir conhecimentos religiosos úteis para poder desempenhar a vossa missão de modo responsável. Sobretudo, convido-vos a aprofundar a doutrina social da Igreja, para que a vossa acção no mundo seja inspirada e iluminada pelos seus princípios. O Espírito Santo faça com que sejais inovadores na caridade, perseverantes nos compromissos que assumis, e audaciosos nas vossas iniciativas, a fim de que possais oferecer o vosso contributo para a edificação da "civilização do amor". O horizonte do amor é verdadeiramente infinito: é o mundo inteiro!

"Ousar o amor" seguindo o exemplo dos santos

Queridos jovens, gostaria de vos convidar a "ousar o amor", isto é, a não desejar nada para a vossa vida que seja inferior a um amor forte e belo, capaz de tornar toda a existência uma jubilosa realização da doação de vós próprios a Deus e aos irmãos, à imitação d'Aquele que mediante o amor venceu para sempre o ódio e a morte (cf. Ap 5, 13). O amor é a única força capaz de mudar o coração do homem e a humanidade inteira, tornando proveitosas as relações entre homens e mulheres, entre ricos e pobres, entre culturas e civilizações. Disto dá testemunho a vida dos Santos que, verdadeiros amigos de Deus, são o canal e o reflexo deste amor originário. Comprometei-vos a conhecê-los melhor, entregai-vos à sua intercessão, procurai viver como eles. Limito-me a citar Madre Teresa que, para se apressar a responder ao grito de Cristo "Tenho sede", grito que a comoveu profundamente, começou a recolher os moribundos nas estradas de Calcutá, na Índia. A partir de então, o único desejo da sua vida tornou-se o de extinguir a sede de amor de Jesus não com palavras, mas com gestos concretos, reconhecendo o seu rosto desfigurado, sequioso de amor, no rosto dos mais pobres. A Beata Teresa pôs em prática o ensinamento do Senhor: "Sempre que fizerdes isto a um destes meus irmãos mais pequeninos, a mim mesmo o fizestes" (cf. Mt 25, 40). E a mensagem desta humilde testemunha do amor divino difundiu-se em todo o mundo.

O segredo do amor

Queridos amigos, a cada um de nós é concedido alcançar este grau de amor, mas unicamente se recorrermos ao indispensável apoio da Graça divina. Só a ajuda do Senhor nos permite, de facto, evitar a resignação diante da grandiosidade da tarefa a ser desenvolvida e infunde-nos a coragem de realizar quanto é humanamente impensável. Sobretudo a Eucaristia é a grande escola do amor. Quando se participa regularmente e com devoção na Santa Missa, quando se transcorrem na companhia de Jesus Eucarístico pausas prolongadas de adoração é mais fácil compreender a largura, o comprimento, a altura e a profundidade do seu amor que ultrapassa todo o conhecimento (cf. Ef 3, 17-18). Partilhando o Pão eucarístico com os irmãos da comunidade eclesial sentimo-nos depois estimulados a traduzir "depressa", como fez a Virgem com Isabel, o amor de Cristo em generoso serviço aos irmãos.

Rumo ao encontro de Sidney

A este propósito é iluminadora a exortação do apóstolo João: "Meus filhinhos, não amemos nem com palavras nem com a boca, mas com as obras e com a verdade. Por isto conheceremos que somos da verdade" (1 Jo 3, 18-19). Queridos jovens, é com este espírito que vos convido a viver a próxima Jornada Mundial da Juventude juntamente com os vossos Bispos nas vossas respectivas Dioceses. Ela representará uma etapa importante rumo ao encontro de Sidney, cujo tema será: "Ides receber uma força, a do Espírito Santo, que descerá sobre vós, e sereis minhas testemunhas" (Act 1, 8). Maria, Mãe de Cristo e da Igreja, ajudar-vos-á a fazer ressoar em toda a parte o grito que mudou o mundo: "Deus é amor!". Acompanho-vos com a oração e abençoo-vos de coração.

Vaticano, 27 de Janeiro de 2007.

BENEDICTUS PP. XVI



MENSAGEM DO PAPA BENTO XVI
PARA A XXI JORNADA MUNDIAL DA JUVENTUDE
(9 DE ABRIL DE 2006)

"A tua palavra é lâmpada para os meus pés
e luz para o meu caminho" (Sl 118 [119], 105)

Queridos jovens

Enquanto me dirijo com alegria a vós, que estais a preparar-vos para a XXI Jornada Mundial da Juventude, revivo na minha alma a recordação das enriquecedoras experiências feitas em Agosto do ano passado na Alemanha. A Jornada deste ano será celebrada nas diversas Igrejas locais e será uma ocasião oportuna para reavivar a chama de entusiasmo acesa em Colónia e que muitos de vós levaram às vossas famílias, paróquias, associações e movimentos. Será, ao mesmo tempo, um momento privilegiado para comprometer muitos dos vossos amigos na peregrinação espiritual das novas gerações rumo a Cristo.

O tema que proponho à vossa consideração é um versículo do Salmo 119 [118]: "A tua palavra é lâmpada para os meus pés e luz para o meu caminho" (v. 105). O amado João Paulo II comentou assim estas palavras do Salmo: "O orante efunde-se no louvor da Lei de Deus, que ele adopta como uma lâmpada para os seus passos no caminho muitas vezes obscuro da vida" (Insegnamenti di Giovanni Paolo II, XXIV/2, 2001, pág. 715). Deus revela-se na história, fala aos homens e a sua palavra é criadora. Com efeito, o conceito hebraico "dabar", habitualmente traduzido com o termo "palavra", significa tanto palavra como acto. Deus diz o que faz e faz o que diz. No Antigo Testamento, anuncia aos filhos de Israel a vinda do Messias e a instauração de uma "nova" aliança; no Verbo que se fez homem, Ele cumpre as suas promessas. Evidencia-o bem também o Catecismo da Igreja Católica: "Cristo, Filho de Deus feito homem, é a Palavra única, perfeita e inultrapassável do Pai. Nele o Pai disse tudo. Não haverá outra palavra além dessa" (n. 65). O Espírito Santo, que orientou o povo eleito, inspirando os autores das Sagradas Escrituras, abre o coração dos fiéis à compreensão daquilo que elas contêm. O mesmo Espírito está activamente presente na Celebração eucarística, quando o sacerdote, pronunciando "in persona Christi" as palavras da consagração, transforma o pão e o vinho no Corpo e Sangue de Cristo, para que sejam alimento espiritual dos fiéis. Para progredir na peregrinação terrena rumo à Pátria celeste, todos nós temos necessidade de nos alimentarmos com a palavra e com o pão da Vida eterna, inseparáveis entre si!

Os Apóstolos acolheram a palavra de salvação e transmitiram-na aos seus sucessores como uma jóia preciosa, conservada no cofre seguro da Igreja: sem a Igreja, esta pérola corre o risco de se perder ou de se fragmentar. Prezados jovens, amai a palavra de Deus e amai a Igreja, que vos permite aceder a um tesouro de tão excelso valor, introduzindo-vos na valorização da sua riqueza. Amai e acompanhai a Igreja, que do seu Fundador recebeu a missão de indicar aos homens o caminho da verdadeira felicidade. Não é fácil reconhecer e encontrar a autêntica felicidade do mundo em que vivemos, em que o homem é muitas vezes refém de correntes de pensamento que o levam, não obstante ele se julgue "livre", a perder-se nos erros ou nas ilusões de ideologias aberrantes. É urgente "libertar a liberdade" (cf. Encíclica Veritatis splendor, 86), iluminar a escuridão em que a humanidade está a andar às cegas. Jesus indicou como isto pode acontecer: "Se guardardes a minha palavra, sereis de facto meus discípulos; conhecereis a verdade e a verdade libertar-vos-á" (Jo 8, 31-32). O Verbo encarnado, Palavra de Verdade, torna-nos livres e orienta a nossa liberdade para o bem. Estimados jovens, meditai com frequência a palavra de Deus e permiti que o Espírito Santo seja o vosso Mestre. Assim, haveis de descobrir que os pensamentos de Deus não são os dos homens; sereis levados a contemplar o verdadeiro Deus e a ler os acontecimentos da história com os seus olhos; haveis de saborear a alegria que nasce da verdade. Ao longo do caminho da vida, não fácil nem isento de insídias, podereis encontrar dificuldades e sofrimentos, e por vezes sereis tentados a exclamar, com o Salmista: "Estou profundamente humilhado" (Sl 119 [118], 107). Não esqueçais de acrescentar, juntamente com ele: "Senhor, fazei-me viver conforme a vossa palavra... A minha vida está sempre em perigo, porém não me esqueço da vossa vontade" (Ibid., vv. 107.109). A presença amorosa de Deus, através da sua palavra, é lâmpada que dissipa as trevas e ilumina o caminho também nos momentos mais difíceis.

O Autor da Carta aos Hebreus escreve: "A palavra de Deus é viva, eficaz e mais penetrante que qualquer espada de dois gumes; ela penetra até ao ponto onde a alma e o espírito se encontram, e até onde as juntas e medulas se tocam; ela sonda os sentimentos e pensamentos mais íntimos" (4, 12). É necessário assumir com seriedade a exortação a considerar a palavra de Deus como uma "arma" indispensável na luta espiritual; ela age eficazmente e produz frutos, quando aprendemos a ouvi-la, para depois obedecermos à mesma. O Catecismo da Igreja Católica explica: "Obedecer ("ob-audire") na fé é submeter-se livremente à palavra escutada, por a sua verdade ser garantida por Deus, que é a própria Verdade" (n. 144). Se Abraão é o modelo desta escuta que é obediência, Salomão revela-se por sua vez um investigador apaixonado pela sabedoria encerrada na Palavra. Quando Deus lhe propõe: "Pede. O que queres que te dê?", e o sábio responde: "Concede-me um coração cheio de entendimento" (1 Rs 3, 5.9). O segredo para ter "um coração cheio de entendimento" é modelar um coração que seja capaz de ouvir. Isto obtém-se, meditando incessantemente a palavra de Deus e permanecendo arraigado, mediante o compromisso de conhecê-la cada vez melhor.

Dilectos jovens, exorto-vos a adquirir familiaridade com a Bíblia, a conservá-la ao alcance da mão, a fim de que seja para vós uma bússola que indique o caminho a seguir. Lendo-a, aprendereis a conhecer Cristo. A este propósito, São Jerónimo observa: "A ignorância das Escrituras é ignorância de Cristo" (PL 24, 17; cf. Dei Verbum, 25). Um caminho bem experimentado para aprofundar e saborear a palavra de Deus é a lectio divina, que constitui um verdadeiro e próprio itinerário espiritual por etapas. Da lectio, que consiste em ler e reler um trecho da Sagrada Escritura e em frisar os seus aspectos principais, passa-se à meditatio, que é como que uma pausa interior, em que a alma se dirige a Deus, procurando compreender aquilo que a sua palavra diz hoje à vida concreta. Depois, vem a oratio, que nos faz entreter com Deus um diálogo directo, e enfim chega-se à presença de Cristo, cuja palavra é "luz que brilha num lugar escuro, até que venha o dia em que a estrela da manhã brilhe nos vossos corações" (2 Pd 1, 19). Em seguida, a leitura, o estudo e a meditação da Palavra devem desabrochar numa vida de adesão coerente a Cristo e aos seus ensinamentos.

São Tiago admoesta: "Sede daqueles que põem em prática a Palavra e não somente ouvintes, iludindo-vos a vós mesmos. Porque se alguém simplesmente ouve e não põe em prática a Palavra, assemelha-se a um homem que observa o seu próprio rosto num espelho: assim que se observa, vai-se embora e imediatamente esquece como era. Quem, ao contrário, fixa o olhar na lei perfeita, na lei da liberdade, e permanece fiel à mesma não como um ouvinte distraído, mas como alguém que a põe em prática, este encontrará a sua felicidade na própria prática" (1, 22-25). Quem ouve a palavra de Deus e faz referência constante à mesma, alicerça a sua existência sobre um fundamento sólido. "Portanto, quem ouve estas minhas palavras e as põe em prática diz Jesus é como o homem prudente que construiu a sua casa sobre a rocha" (Mt 7, 24): ele não cederá às intempéries.
Construir a vida em Cristo, acolhendo com alegria a sua palavra e colocando em prática os seus ensinamentos: eis, jovens, do terceiro milénio, como deve ser o vosso programa! É urgente que nasça uma nova geração de apóstolos arraigados na palavra de Cristo, capazes de responder aos desafios do nosso tempo e prontos a difundir o Evangelho. É isto que o Senhor vos pede, para isto vos convida a Igreja e é isto que o mundo ainda que não o saiba espera de vós! E se Jesus vos chama, não tenhais medo de lhe responder com generosidade, de modo especial quando vos propõe de O seguir na vida consagrada ou na vida sacerdotal. Não tenhais medo; confiai nele e não ficareis desiludidos.

Caros amigos, com a XXI Jornada Mundial da Juventude, que celebraremos no próximo dia 9 de Abril, Domingo de Ramos, empreenderemos uma peregrinação ideal rumo ao encontro mundial dos jovens, que terá lugar em Sidney em Julho de 2008. Preparemo-nos para este grande encontro, reflectindo juntos sobre o tema: O Espírito Santo e a missão, através das várias etapas. No corrente ano, a atenção concentrar-se-á no Espírito Santo, Espírito de verdade que nos revela Cristo, o Verbo que se fez homem, abrindo o coração de cada um à Palavra de salvação, que leva à Verdade integral. No próximo ano, 2007, meditaremos sobre um versículo do Evangelho de João: "Assim como Eu vos amei, também vós deveis amar-vos uns aos outros" (13, 34), e descobriremos ainda mais profundamente que o Espírito Santo é Espírito de amor, que infunde em nós a caridade divina e nos torna sensíveis às necessidades materiais e espirituais dos irmãos.

Enfim, chegaremos ao encontro mundial de 2008, que terá como tema: "O Espírito Santo descerá sobre vós e dele recebereis a força para serdes as minhas testemunhas"(Act 1, 8).
Desde já, num clima de incessante escuta da palavra de Deus invocai, caros jovens, o Espírito Santo, Espírito de força e de testemunho, para que vos torne capazes de proclamar sem temor o Evangelho até aos extremos confins da terra. Maria, presente no Cenáculo com os Apóstolos à espera do Pentecostes, seja a vossa Mãe e guia. Que Ela vos ensine a acolher a palavra de Deus, a conservá-la e a meditá-la nos vossos corações (cf. Lc 2, 19), como Ela fez durante toda a sua vida. Que vos encoraje a dizer o vosso "sim" ao Senhor, vivendo a "obediência da fé". Que vos ajude a permanecer firmes na fé, constantes na esperança e perseverantes na caridade, sempre dóceis à palavra de Deus. Acompanho-vos com a minha oração enquanto, do íntimo do coração, abençoo todos vós.

Vaticano, 22 de Fevereiro de 2006, Festa da Cátedra do Apóstolo São Pedro.



BENEDICTUS PP. XVI

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