Confissão

A Confissão geral.




D. — Padre, uma última pergunta. O quê é a Confissão geral?

M. — Chama-se confissão geral a revisão de todas as culpas cometidas durante a vida, ou em grande parte dela.



D. — E a confissão geral é necessária?

M. — Para muitos pode ser necessária; para outros é somente útil, enquanto que para alguns é nociva.



D. — Em que caso é necessária?

M. — É necessária quando as confissões precedentes foram sacrílegas ou então nulas.



D. — E quando é que as confissões são sacrílegas? e quando são nulas?

M. — As confissões são sacrílegas quando se calaram propositadamente culpas graves, sabendo que tinha obrigação de confessá-las; ou então quando não sentimos a dor necessária ou não fizemos o propósito de evitar o pecado no futuro. São nulas, quando o penitente ignorava essa falta de dor e de propósito.



D. — Então, quais são os que têm necessidade de uma confissão geral?

M. — Tem necessidade absoluta de fazer uma confissão geral, quem, seja por malícia, seja por vergonha, calou ou negou nas confissões precedentes algum pecado mortal ou então alguma circunstância que muda a espécie do pecado; ou não indicou com precisão o número dos pecados mortais que conhecia bem; ou exprimiu suas culpas ao confessor de tal modo que ele não as compreendeu; ou então o enganou com mentiras graves quando respondeu às suas perguntas.



D. — Tenha a bondade de me explicar tudo com exemplos.

M. — Suponhamos que um coitado tenha escondido, desde as primeiras vezes que se confessou certos pecados por vergonha de os expor. Mesmo que, em seguida, tenha manifestado sempre todas as outras culpas, todavia, por não ter corrigido as primeiras confissões más, nenhuma das seguintes é considerada bem feita. Essa pessoa tem portanto absoluta necessidade de repará-las todas com uma confissão geral, na qual deve acusar também todos os sacrilégios cometidos.



Suponhamos que uma outra pessoa tenha cometido certos pecados de más obras, e que, ao acusá-los tenha somente dito que teve maus pensamentos. Essa também se confessou mal e precisa de uma confissão geral.



Suponhamos ainda que outro indivíduo tenha tido não só a infelicidade de pecar sozinho, mas com outra pessoa. Se ele, ao confessar-se, calou propositalmente essa circunstância e não indicou as condições particulares de tal pessoa, fez também uma má confissão e o seu dever é fazer uma confissão geral.



Suponhamos finalmente que alguém tenha o hábito de cometer quatro ou cinco pecados graves por semana ou por mês, e, em lugar de quatro ou cinco diga só dois ou três, ou três ou quatro, sabendo perfeitamente que está mentindo. Ter-se-á sempre confessado mal e nesse caso, deve fazer uma confissão geral.

D. — Misericórdia!

M. — Em segundo lugar, a confissão geral é de estrita necessidade para quem se confessou sem pesar e sem propósito, como ficou dito acima, ou para quem não cumpriu as obrigações impostas pelo confessor ou seja: não evitou a ocasião próxima e voluntária do pecado, ou não deixou certa amizade perniciosa ou não queimou, não se desfez dos maus livros, não cortou certa relação; em suma todos os que se acham em condições análogas. Todos esses, tendo faltado, quem mais, quem menos, às qualidades substanciais da confissão, devem por a consciência em ordem e tranqüilizá-la com uma boa confissão.



D. — Padre, o número desses indivíduos é diminuto ou elevado?

M. — Antes fossem poucos os que pertencem a essas diversas classes! Mas, infelizmente, a experiência quotidiana demonstra que o número deles é muito maior do que parece, mesmo entre pessoas aparentemente boas.



Na biografia de S. Inês da Montepulciano lê-se que uns senhor muito rico, tido como bom cristão, sendo muito devoto da santa e do seu convento, a socorria com freqüentes e generosas esmolas. A santa rezava muito pelo seu benfeitor em troca do seu auxílio. Um dia, estando ela rezando, perdeu os sentidos e, no êxtase, viu no meio do inferno um palácio de fogo e ouviu uma voz que dizia: Inês, Inês, este é o palácio do teu benfeitor e ele virá habitá­lo quanto antes.



Voltando a si, Inês apreensiva mandou logo pedir ao senhor que fosse ter com ela e lhe contou a visão espantosa que tivera.

O homem empalideceu, e, quase desmaiando, declarou sinceramente que havia trinta anos que não se confessava bem, estando sempre na ocasião próxima de pecado.

A santa aromou-o então a fazer logo uma boa confissão geral.

Ele obedeceu e Inês teve outra visão: viu o mesmo palácio, agora no Paraíso, e a mesma voz declarou-lhe que o seu benfeitor subiria logo para habitá-lo. Pois bem, quem tiver medo de ter o seu palácio ou a sua casa no inferno por causa de confissões mal feitas, já sabe o que fazer para se livrar.



D. — Padre, se alguém tiver deixado de contar alguns pecados nas confissões passadas, ou por ignorância, ou por esquecimento, e vier a conhecê-los ou a se lembrar deles mais tarde, é obrigado a referir todas as confissões passadas numa confissão geral?

M. — Não; quando deixamos de contar os pecados por ignorância ou esquecimento, só temos obrigação de reparar essas omissões parciais. Para sermos obrigados a uma confissão geral é preciso que se trate de sacramentos mal recebidos, de sacrilégios cometidos consciente e propositadamente.



D. — E quando duvidamos se somos ou não obrigados a uma confissão geral, como devemos proceder?

M. — Nos casos de dúvida devemos expor as nossas dificuldades ao confessor e nos conformar ao seu parecer.



D. — Obrigado, Padre; e agora, diga-me: quanto é que a confissão geral é útil?

M. — É útil:

1) Para quem duvida das confissões passadas e tem necessidade de se por em paz.

2) É útil para todos os que nunca a fizeram, porque ela faz brotar em nossos corações maior contrição dos pecados e consolida o propósito firme e eficaz de não mais os cometer.

3) É também bastante útil para os que, chegados a um ponto decisivo de suas vidas, devem escolher ou abraçar um estado do qual depende o seu futuro. Poderão receber do Confessor, que faz às vezes de Deus, melhores esclarecimentos e conselhos, para fazerem sua escolha com mais segurança.



D. — Por exemplo: os noivos nas proximidades do casamento?

M. — Justamente! A confissão geral é também bastante útil para eles, seja para os dispor melhor a bem receber o sacramento que os deve ligar para toda a vida, seja para lhes proporcionar a ocasião de receber os esclarecimentos e os conselhos indispensáveis para bem se governarem em tal estado. O matrimônio é grande Sacramento: ai de quem o receber indignamente! Deus nunca abençoará um matrimônio em que houver pecado.



D. — Quando é Padre, que no matrimônio pode haver pecado?

M. — 1) Quando prolongam demais o tempo do noivado.

2) Quando permitem certas liberdades nas conversas, e no trato.

3) Quando, estando em pecado, deixam de freqüentar a confissão ou se confessam mal.



D. — É então necessário, nessa confissão geral, dizer que estamos para nos casar e pedir conselhos sobre isso?

M. — Sem dúvida. Se não o manifestarem, como pode o Confessor esclarecê-los?



D. — Padre, qual é a época mais propícia para uma confissão geral?

M. — Tratando-se somente de utilidade ou devoção, a época mais propícia é a dos Exercícios Espirituais, e justamente lá pelo fim dos mesmos. Mas, sendo ela necessária para recuperarmos a graça, façamo-la o mais breve possível; não deixes para amanhã o que hoje podes fazer, diz o provérbio.



D. — É bom escrever os pecados para se lembrar deles melhor?

M. — Geralmente, não. Se alguém precisar mesmo recorrer a esse método, que o faça com muita cautela e destrua logo o escrito depois da confissão, de modo que ninguém o possa ler, nem o próprio penitente.



Entre os muitos episódios da vida de S. João Basco destaca-se este:

Um bom rapaz, desejando fazer uma confissão geral com a maior precisão possível, tinha enchido uma caderneta com seus pecados, mas, ninguém sabe como, perdeu o pequeno volume onde anotara os seus pouco gloriosos feitos. Virou e revirou os bolsos, procurou por todos os cantos, mas nada de encontrar o manuscrito. Á vista disso, o pobre rapaz ficou desgostoso e desatou em copioso pranto.



Por sorte, o caderninho tinha ido parar ás mãos de D. Bosco. Este, quando o viu chegar todo choroso conduzido pelos companheiros, recusando-se contar a razão de tanta tristeza, começou a interrogá-lo.

— O que tens meu caro Tiago? Sentes alguma dor? Desgostos? Alguém te bateu? O bom rapaz enxugando as lágrimas, e tomando um pouco de coragem, respondeu:

— Eu perdi os pecados!

A essas palavras os amigos caíram na gargalhada e D. Bosco, que tinha logo compreendido, ajuntou brejeiramente:

— És bem feliz se perdeste os pecados e felicíssimo por não os achares mais, porque, sem pecados, irás certamente para o céu. Mas Tiago, pensando que não tinha sido compreendido, acrescentou:

— Eu perdi o caderno onde os tinha escrito!



Bosco então tirou do bolso os grandes segredos e disse:

— Sossega, meu caro, que os teus pecados caíram em boas mãos: ei-los aqui!

— Vendo isso, o rosto do coitado tornou-se sereno e foi com um sorriso que ele concluiu:

— Se eu soubesse que o senhor os tinha achado, teria rido em lugar de chorar; e hoje, ao chegar para a confissão, eu lhe teria dito:

— Padre, eu me acuso de todos os pecados que o senhor achou e tem no bolso.



D. — Os episódios e as cenas da vida desse grande educador e humilíssimo Santo são sempre muito espirituosos. E finalmente, Padre, para quem é que confissão geral pode ser nociva?

M. — Pode ser nociva principalmente para as almas escrupulosas, cheias de ansiedades e temores vãos; para as que, tendo-a feito outras vezes, não sossegam e querem sempre tornar a repetir o que já foi dito.



Para esses indivíduos, a confissão geral não produz outro efeito senão o de suscitar uma confusão de maiores escrúpulos e ansiedades. Obedeçam eles ao Confessor, e quando ele diz e repete que fiquem sossegados... Que não pensem mais naquilo... Que ele próprio responde a Deus pelo estado de suas almas, para que duvidar?

O Confessor vê e julga melhor do que eles, e podem ficar convencidos de que, obedecendo ao Confessor, estarão obedecendo ao próprio Deus.



D. — Nesse caso, quando o Confessor não permite a confissão geral, deve ser obedecido?

M. — Certamente! Quando ele proíbe a confissão, geral, ele está exercendo os seus plenos direitos e o dever do penitente é obedecer. Só com essa condição chegaremos pouco a pouco a gozar da tranqüilidade tão ardentemente desejada. Querer encontrar paz por outros meios é o mesmo que procurar uvas entre espinhos. Você viu em resumo qual a importância da Confissão geral.



Depois disso, não há de que nos admirarmos se ela foi tão recomendada pelos Santos; como Santo Inácio, São Carlos Borromeu, São Francisco de Sales Santo Tomás de Aquino os mais célebres pela prática e pela doutrina. Tenham pois coragem, não se deixem enganar pelo demônio, e, em caso de necessidade disponham-se a uma boa confissão geral.

E que o pensamento de que, por meio dela, poderemos de certo modo reconquistar a inocência batismal nos sirva de estímulo.

Na história da vida dos Santos Monges do deserto lê-se que um rapaz, grande pecador, chegou ao convento para se tornar religioso. O primeiro ato do Superior foi impor­lhe uma confissão geral a ser feita no domingo seguinte na igreja do convento. Para esse fim, o jovem preparou-se e escreveu todos os pecados para poder lembrar-se deles e confessá-los melhor.



Pois bem, à medida que ele lia e confessava as suas culpas, um monge dos mais velhos e santos via um anjo que as cancelava de um catálogo que trazia nas mãos. Por fim, ficou a folha inteiramente branca, para representar a candura que a alma do jovem atingira.



Cesário, bispo de Arles, conta um fato parecido que se deu com um estudante de Paris.

Tinha sido grande pecador mas, querendo a todo o custa converter-se, foi fazer uma confissão geral com um Confessor da ordem Cisterciense.



O rapaz derramava tantas lágrimas que não podia nem falar: à vista disso, o Confessor aconselhou-o a escrever os pecados numa folha de papel. Ele o fez de boa vontade.

Mas, quando o Padre se dispôs a lê-los, se viu diante de casos tão enormes e complicados, que não teve bastante confiança em si para resolvê-los: pediu licença ao penitente e foi consultar o Superior.

Mas, ao abrir a folha para ler, o Abade exclamou:

— O quê é que tenho que ler, se aqui não há nada escrito?

De fato, Deus tinha miraculosamente cancelado daquele papel todos os pecados do rapaz, como já os tinha cancelado da sua alma.

Mas que necessidade temos nós de procurar os exemplos dos Santos, quando o próprio Jesus Cristo nos diz e nos demonstra que a confissão geral torna realmente a dar a inocência batismal?



Além do que contei sobre Margarida de Cortona, no capítulo dos efeitos admiráveis da Confissão, podemos falar ainda de Santa Margarida Alacoque.



Enquanto a Santa estava fazendo os Exercícios Espirituais, Jesus lhe apareceu e lhe disse:

— Margarida, desejo que renoves a confissão geral de toda a tua vida. Faze-o eu trazer-te-ei uma veste alvíssima.



Margarida põe-se à obra para ser agradável a Jesus e, depois de um exame diligente faz a sua confissão geral. Assim que terminou, Jesus apareceu novamente, tendo nas mãos uma túnica muito alva, com a qual a cobriu, dizendo:



— Eis aqui, Margarida, a veste que eu prometi.



Era da inocência batismal que Ele a revestia.

Oh! bendita seja a confissão que produz em nossa alma efeitos tão maravilhosos, que tanto a purifica e a torna novamente bela, como se tivesse acabado de sair das águas do Santo Batismo!



D. — Agradecido, Padre, compreendi perfeitamente; sou-lhe grato pelo que me disse e não o esquecerei.





Quem quer e quem não quer ou seja desculpas e pretextos.



D. — Quanto a mim, estou plenamente convencido de tudo o que foi dito até aqui e das excelentes vantagens da Confissão bem feita e freqüente; mas há também muitos que, ou por não a freqüentarem sempre, ou por não a freqüentarem nunca, arranjam desculpas e pretextos: o senhor quer ter a bondade de me sugerir um modo de combatê-los e convencê­los?

M. — De boa vontade. Exponha as "desculpas e pretextos" de uns e de outros.



D. — "Eu não tenho pecados para confessar", dizem alguns.

M. — Será verdade?... O Espírito Santo diz que até o justo peca sete vezes por dia e São João Evangelista escreve: "Se dissermos que não temos culpas enganaremos a nós próprios e em nós não haverá verdade. Os que dizem que não têm pecados para confessar são pobres cegos que não conhecem a própria miséria e, se não a conhecem, é justamente porque não se confessam com bastante freqüência. As pessoas asseadas não toleram nem as pequeninas manchas. Mas as pouco asseadas não se apoquentam nem com manchas grandes e nem com sujeira.

Um oficial perguntou certa vez a um sacerdote:



— Diga-me uma coisa, Padre: Quem não peca é obrigado a se confessar?... Eu nunca me confesso porque nunca peco.



O sacerdote respondeu de pronto:



— Senhor oficial, eu só conheço duas categorias de pessoas que não pecam: crianças, que ainda não atingiram a idade do uso da razão e... os loucos que, infelizmente, já o perderam.



D. — "Eu não sei o que dizer ao Confessor."

M. — É muito simples. Mesmo quando não tiverem nem roubado, nem morto, nem odiado, nem dado escândalo, etc... e na sua consciência um tanto grosseira não tiverem achado nem mesmo pequenas mentiras, murmurações, maledicências, pensamentos inúteis, afeições, distrações, omissões, negligências e outras muitas coisas parecidas, apresentem-se do mesmo modo ao Confessor e declarem simplesmente que não sabem o que lhe dizer. Podem estar certos de que, com a sua caridade e prudência ele saberá fazer com que descubram o que não foram capazes de achar. Além disso, ele terá sempre muitas coisas para lhes dizer, muitos conselhos para lhes dar e também um pouco de penitência, de modo que, quando o deixarem, estarão melhorados, terão mais fervor, sentir-se-ão satisfeitos e felizes pelo contacto que tiveram com Jesus, cujo ministro é o Confessor.



D. — "Não tenho a tranqüilidade suficiente para isso.

M. — Vocês têm desgostos, preocupações, aborrecimentos? Vão a ele do mesmo modo. O Confessor terá compaixão de vocês, será caridoso, ajuda-los. Deus não exige mais do que lhe podem dar. Os Sacramentos é que são feitos para os homens e não os homens para a grandeza dos Sacramentos. Coragem e boa vontade e, sobretudo confiança no Confessor e em Deus.



D. — "Não tenho tempo e nem facilidade para me confessar freqüentemente".

M. — Outra desculpa que não serve. Querer é poder! Quantas coisas não se fazem, mesmo à custa de sacrifícios, para o bem corporal, para a saúde, para os interesses? Será que para a nossa alma não havemos de querer fazer nada? Tratemo-la ao menos como o pobre cadáver do nosso corpo. Aliás, o tempo gasto com a alma, Deus o recompensa generosamente mesmo aqui na terra.



Um dia um campônio forte e sadio foi confessar-se com um padre jesuíta. A primeira pergunta do confessor foi:

— Há quanto tempo não se confessa?

— Há dez anos!

— E agora está disposto a se confessar bem?

— Estou, Padre!

— Dê-me então dez cruzeiros!

— Como? Dez cruzeiros? Mas eu sempre ouvi dizer que não se paga nada pela confissão.

— Não se paga nada, rebateu o sacerdote, e o Sr. vem se confessar só de dez em dez anos? Compreendeu o campônio a justa repreensão, pediu humildemente perdão e prometeu freqüentar melhor os Sacramentos.



D. — "Eu não tiro proveito algum da confissão; estou sempre do mesmo jeito".

M. — Não são vocês que o devem julgar, mas o Confessor. De mais a mais, essa é uma argumentação às avessas. Se não se confessarem ou se o fizerem raramente, não ficarão sempre do mesmo jeito, mas se tornarão certamente cada vez piores, sem darem por Isso.



D. — "Muitas vezes, eu não tenho coragem para me confessar, porque o Confessor me conhece".

M. — Mas quem é que os obriga a se confessarem com um Confessor que os conhece? Há tantos por aí que nem se quer sabem se vocês existem ou não; procurem um desses e confessem-se com sinceridade e sem medo.



D. — "Mas o que direi ao meu Confessor quando voltar para ele?"

M. — Digam-lhe o mesmo que das outras vezes, sem mencionar os pecados absolvidos pelo outro. O melhor, porém seria escolher um Confessor de plena confiança com o qual poderiam ser absolutamente sinceros.



D. — "E quando não for possível, por não haver outros?"

M. — Se vocês tivessem uma ferida mortal, se por engano tomassem veneno, será que não correriam logo à procura de um médico ou cirurgião qualquer, a custa de qualquer sacrifício, contanto que pudessem salvar-se?

Pois bem, façam o mesmo para tirar logo da alma o veneno do pecado, recorrendo, a contra-gosto se for preciso, ao Confessor de sempre.



D. — "O quê dirá ele de mim?"

M. — Dirá que você também é humano como os demais; admirará a sua coragem, a sua humildade, a sua sinceridade; ficará satisfeito ao pensar que merece toda a sua confiança; o seu afeto e a sua estima por você serão aumentados. De mais a mais, ele que diga o que bem entender, contanto que o seu coração fique em paz!



D. — Outros então — e são os que têm menos vontade — vão repetindo: "Para quê me confessar?"

M. — Porque Deus assim o quer! Porque você tem necessidade disso!... Porque é só mediante a Confissão que obteremos o perdão e a verdadeira paz de espírito!... Porque os pecados são punidos com penas eternas!

Riam-se e neguem à vontade que nunca conseguirão destruir o inferno e a eternidade, Deus e a sua justiça, a alma e a sentença que a espera.

Para quê se confessar? Porque vocês têm necessidade de ouvir palavras de um amigo que lhes diga toda a verdade, sem rodeios nem enganos. Porque longe da Confissão, vocês acabarão tendo uma morte desgraçada e uma eternidade infeliz!



D. — "Eu não creio na Confissão".

M. — Confessem-se, e acreditarão, como acreditaram muitos que antes eram incrédulos como vocês; como acreditaram os homens mais célebres, os mais insignes cientistas, os mais importantes personagens.

Um dia, um senhor apresentou-se ao Santo Cura de Ars para vê-lo e para falar-lhe. As primeiras palavras do visitante o Padre respondeu:

— Ponha-se aqui no confessionário e confesse-se.

— Mas... continuou o visitante, eu não creio em nada.

— Não importa, eu creio pelo senhor; confesse-se.

— Acredite, Padre, que não há nada no mundo mais ridicularizado e detestado do que a confissão.



Desculpas e rodeios foram inúteis: com suave insistência o Santo Cura obrigou-o a ajoelhar-se e o ajudou na confissão. Assim que terminou, o homem se levantou alegre, exclamando:



— Agradecido, Padre; eu creio!... estou plenamente satisfeito! O Sr. não podia causar-me maior benefício!...



D. — "Não sei me confessar".

M. — Nada mais fácil para quem tem boa vontade! Do mesmo modo que confiam ao médico as dores de cabeça ou de estômago, confiem ao Confessor os males da alma. De qualquer maneira, apresentem-se a ele, que os livrará de todo e qualquer embaraço.



D. — "Eu não me confesso, porque, se o fizesse fariam caçoada de mim, me chamariam de beato, de clerical, e de não sei que mais".

M. — Oh, soldado de papelão! Onde está o seu valor? Se o mundo estivesse cheio de beatos e clericais, haveria menos roubos, menos fraudes, menos escândalos, menos cárceres e penitenciárias. Se todos se confessassem haveria mais honestidade, mais decoro, mais segurança individual e coletiva e — digamo-lo francamente — maior bem estar e civilidade! Aliás, se lhes falta mesmo a coragem, quem os obriga a se fazerem ver? Vão quando e onde não sejam vistos.



D. — "Não me confesso, porque não tenho confiança nos padres da minha paróquia".

M. — Seja, mas porque não procuram outros? Muitos o fazem, por ocasião de festas, feiras, mercados e voltam para casa satisfeitos e felizes. Para arrancar um dente vocês são capazes de maiores sacrifícios, procedam do mesmo modo para arrancar os pecados! E se lhes acontecesse uma desgraça? Se adoecessem grave e repentinamente? O quê fariam? Será que haveriam de querer morrer assim, sem Sacramentos, ou, ainda pior, com Sacramentos mal recebidos? Afastem pois esses temores de criança; a salvação da alma antes de tudo!



D. — "Não posso deixar esse pecado".

M. — Então vocês querem ir para o inferno, para toda a eternidade? Querem, em troca de míseras satisfações, continuar a injuriar a Deus e a causar pesar a Jesus?



D. — "Não posso deixar essa pessoa".

M. — Maldita seja essa pessoa que é causa de pecado! Mas será que vocês calculam não deixá-la nem com a morte? Será que pretendem levá-la para além do túmulo, para o juízo, para a eternidade? Não vêm que ela os desonra, os envergonha, os arruína? É preferível dizer de uma vez que não querem! Lembrem-se da história do que cedeu à sua.



D. — "A confissão é uma invenção dos padres".

M. — Ah, é? Vocês falam sério?! Têm mesmo certeza? Pois bem, citem os nomes! Conhecem-se todos os inventores de todas as maiores descobertas, portanto, não seria difícil saber o nome de quem inventou a confissão. Que venha o nome!

Mas vocês se calam. Digam-me, ao menos, o ano, a época, o lugar de tal invenção. Vocês continuam calados: não sabem, nem nunca o saberão, porque não existe. Isso é mentira, grande mentira! E vocês deixam-se enganar por alguns indignos desprezíveis que, por não crerem, negam, desprezam, mentem sabendo que mentem?



D. — "Os que se confessam são piores do que os outros".

M. — Eis a grande objeção! Pois bem eu o reconheço em parte e digo: Alguns o são, mas por se confessarem mal, o que é para eles vergonhoso. Mas absolutamente não é esse o caso da maior parte, digo mesmo da grande maioria. Se Deus tivesse a complacência de descobrir em praça pública o estado real das almas, que enorme diferença notaríamos entre as que se confessam e as que o fazem raramente ou nunca. É o mesmo que duas fazendas idênticas e usadas da mesma maneira, das quais uma é sempre lavada e a outra não.



Naturalmente, se tomarem para exemplo os piores dos que se confessam e os compararem com os melhores dentre os que não se confessam, o resultado os satisfará. Mas comparem os bons com os bons, os maus com os maus e verão que a coisa muda de aspecto.

É preciso considerar o conjunto e não os indivíduos em particular. Sobre cem pessoas que se confessam poderão encontrar duas, talvez dez más; mas sobre cem que não se confessam encontrarão mais de noventa, justamente porque não freqüentam a confissão.



Gallerani, escreve:

"Se deitamos um olhar sobre os países e as cidades, veremos com nossos próprios olhos os ladrões, os sicários, os assassinos, as mulheres infiéis, as libertinas, as que se vendem, e enfim toda essa imundície que enche e infeta os cárceres e as penitenciárias, sai de lugares bem diferentes das fileiras dos que se confessam".



São estas as palavras de um contemporâneo ilustre:



"Filhos, injuriai a confissão, se quiserdes, mas lembrai-vos de que foi ela que fez com que vossas mães amassem as aflições que a vossa infância lhes custou. Injuriai a confissão, ó maridos; mas lembrai-vos de que é ela que mantém vossas mulheres firmes e imaculadas durante a vossa ausência. Injuriá-la, ó pobres, mas é ela que faz descer sobre vós, com maior delicadeza e abundância, a caridade do rico. Injuriai-a, á ricos, mas é ela que, melhor do que todas as leis humanas, garante e salva os vossos bens e os vossos direitos sempre tão ameaçados".



Reflitam também sobre três fatos gerais que todos percebem facilmente:



1) É verdade ou não que todos os que se confessam dão mostras de que têm intenção de se conservar no caminho dos bons costumes e, mesmo quando já caíram dão a perceber que tencionam ressurgir?

2) É ou não verdade que, aquele que se quer deixar levar à mercê do vício abstêm-se logo da confissão e vai engrossar as fileiras dos que já não se confessam mais?

3) É ou não verdade que, todo o indivíduo que quer voltar para o bom caminho começa por recorrer ao ministério do Sacerdote, à Confissão?



"Pois bem, se isso é verdade; exclama o supra citado Padre Gallerani, temos o direito de concluir que na cidade de Deus, onde se pratica a confissão, há bem mais virtude do que na cidade do mundo onde não se freqüentam os Sacramentos. Pelo contrário, na cidade do mundo, onde não se pratica a confissão, há uma soma de vícios muito mais alta do que na cidade de Deus, onde é praticada".



Oh! como é fácil compreender que todas essas dificuldades sobre a confissão partem do coração e da paixão, e não da razão. Afastem os vícios do coração, façam calar as paixões e amanhã mesmo confessar-se-ão com os outros aos pés do Sacerdote.



D. — Muito bem Padre: guardarei todas essas belas respostas e, de agora em diante, todas as vezes que eu ouvir despropósitos e horrores sobre a confissão, saberei servir-me delas e responder pelas rimas.

M. — Quanto a você, tenha sempre gravadas na memória estas palavras de São Paulo: "Mesmo que um Anjo baixasse do Paraíso para dizer coisas contrárias ao Evangelho, e, portanto, contrárias à confissão, não creias nem no Anjo". Assim, você será sempre um bom cristão — e é o que lhe desejo de todo o coração — porque a confissão é vida e luz.



Um professor convertido há pouco, encontra casualmente um sacerdote; olha-o atentamente, e depois, cumprimentando-o gentilmente, exclama:

— O senhor é o meu confessor!...

— Mas... eu não tenho certeza, responde o sacerdote um tanto incerto.

— Sim, o senhor é o meu confessor, eu, o estou reconhecendo. Devo-lhe a minha felicidade, porque a confissão é vida e luz! Quem não se confessa não podo ser crente nem se pode gabar de ter fé.



Diante dessa cena comovente, um advogado que havia muitos anos não comungava pela Páscoa, comovido até o fundo da alma, decidiu experimentar também, e acabou persuadindo os seus amigos a seguirem o seu exemplo, para que se convencessem também de que a confissão é vida e luz.



Oração pelo próprio confessor



Deus, pois que, com a vossa solicitude paterna, me destes para guardião e guia um vosso tão digno Ministro, concedei-me ainda a graça de por em prática os seus sábios ensinamentos, afim de que eu consiga conquistar todas as virtudes, que, para a Vossa glória e para a minha salvação devem resplandecer em mim.

Peço-Vos para ele, ó Senhor, a mais ardente caridade, o zelo mais iluminado, a santidade mais sublime e a consolação inefável de conduzir para o Vosso amorosíssimo Coração um imenso exército de almas que Vos bendigam, Vos amem, e que formem para sempre no Paraíso a sua gloriosa coroa. Assim seja.



Fonte: Edições Paulinas.

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